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Fantasmas, lobisomem e homem do saco

por Coronel Celton Godinho (*)

Fantasmas existem? E lobisomem? E o temível homem do saco? O engraçado é que muitas pessoas ainda acreditam na existência destes seres. E olha que apareceu também um tal de “chupa-cabras”! E há quem jure ter visto um exemplar dele na calada da noite.

Mas é muito interessante, e a mim, particularmente, intrigante a crença nestes seres, que, de geração em geração, povoam o imaginário dos seres humanos e que causam tanto terror.

Por que esta crença? Ah, e tem a mula sem cabeça! Já estava me esquecendo.

Medo vem desde a idade medieval

Esse medo é histórico e remonta a idade medieval. De acordo com o historiador francês Jean Delumeau, os temores a esses “seres da noite” derivam do período de horrores e trevas da peste negra e suas mortes, diminuindo em muito a população da Europa; a guerra dos cem anos; as outras epidemias que dizimaram as populações; as cruzadas; a decadência moral do papado, antes da Reforma Protestante.

O medo era comum, mesmo no início da idade moderna, com o desenvolvimento das ciências. As florestas, que durante o dia eram locais de trabalho, durante a noite viravam ameaças e cheias de seres sobrenaturais e perigosos às pessoas. A maioria morava no campo e as suas condições de vida eram muito precárias, com grande carência alimentar e práticas medicinais arcaicas. O índice de mortalidade era altíssimo.

A doutrina da igreja ajudava a nutrir o medo noturno, e seus livros e pensadores enfatizavam e relacionavam a noite com trevas, dando à escuridão um caráter de angústia e cautela. As crenças na influência da lua e o olhar sanguinolento em animais como os lobos ajudaram o imaginário humano a criar o lobisomem, ser metade homem e metade lobo, que atacava à noite nas florestas.

Mas no século XVIII há o início do abandono dessa crença e já no século XX vira apenas temas de livros e filmes de cinema.

Homem do saco

E o homem do saco? Creio que foi criado para que tivéssemos medo de ficar nas ruas à noite e para obedecer nossos pais. Os fantasmas sempre povoavam as nossas imaginações quando éramos crianças.

Certa vez, na rua em que morava, numa cidade do interior, andávamos sempre juntos e, mesmo com medo dessas “criaturas da noite”, não acreditávamos e nem deixávamos de acreditar, principalmente, na hora de pregar uma peça em outros desavisados.

Havia um menino, mais velho do que nós, que namorava a irmã de um colega, na varanda da casa da moça. Ficávamos ali próximos observando, e certa hora da noite, rua escura, soprando um vento frio e com som de assovio, resolvemos atrapalhar o namoro. Um colega pegou um lençol branco, e do outro lado do muro da casa, aparecia para o galante namorador, todo coberto. E havia um outro que segurava uma velha lanterna para dar ares de realidade,  enquanto o restante da turma jogava umas pedrinhas pequenas nele e na varanda. Isto foi durante meia hora, e o galante saiu correndo, deixando a moça na varanda, dizendo que voltaria no outro dia, que tinha que pegar o seu ônibus. O coitado deve estar correndo até hoje!

Aliás a gente aprontava muito com quem tinha medo de escuro e dessas criaturas que só existem em nosso imaginário; coisas de molecagens.  Meu saudoso pai nos ensinou a não ter medo do que não existia.

Afinal, para que eu ter medo de criaturas que não existem?

(*) Advogado militante – Coronel da Reserva da Polícia Militar.
Curso de gestão estratégia de segurança pública pela Academia de Polícia Militar e Fundação João Pinheiro

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