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Emoção, cultura e saúde (II)

JOSÉ LUIZ CAZAROTT

Patrono: Mário de Andrade    Cadeira 13
Academia Valadarense de Letras
Doutor de Psicologia e Membro Ativo da Royal AnthropologicalInstitute (Londres) e do Anthropo.

Por que relacionar emoção, cultura e saúde?

Nosso primeiro pressuposto aqui é simples: aprendemos a lidar com nossas emoções a partir da cultura em que vivemos. Por exemplo, as manifestações de luto e de dor pela perda de um ente querido são diferentes na Alemanha e na Itália. Numa cultura a expressão de tristeza é mais reservada, já na outra é mais expansiva. Em nosso cotidiano, vemos que o modo de torcer por um time de futebol é diferente entre as pessoas e mesmo entre os estados do Brasil. Uns apenas assistem a esses eventos distanciados, já outros se envolvem e fazem de uma partida de futebol uma verdadeira comemoração, com bandeiras, cantos, desfiles, buzina, comidas, bebidas e muito mais.

Um segundo pressuposto é que as emoções mal elaboradas tendem a gerar situações patológicas e isso pode estar relacionado a dois elementos numa primeira instância: a cultura não tem mais procedimentos para que as pessoas lidem de modo saudável com suas emoções ou o ambiente é tão patológico que se vive permanentemente, em situação de estresse emocional crônico.

O estudioso de terapias John Rush afirma: “os problemas emocionais são, essencialmente, problemas da vida em sociedade; e isso é, essencialmente, um problema de comunicação, isto é, de enviar e receber mensagens”.[1] Rush sustenta, além do mais, que os procedimentos clínicos – tanto os que lidam com medicamentos como os que lidam com a chamada “cura pela palavra” – de um modo geral, perderam de vista a dimensão cultural do ser humano. A humanidade viveu com emoções por milênios e, evidentemente, aprendeu a lidar com elas sem fazer com que se tornassem fonte de patologias. Concordamos com Rush quando ele afirma que os problemas emocionais são, basicamente, problemas de comunicação; não sabemos mais – ou desaprendemos – como “comunicar” as nossas emoções e como “acolher” as dos que vivem conosco. Entretanto, qual comunicação é a adequada para lidar socialmente com as emoções? Veremos isso adiante.

Para lidar com a comunicação emocional, a humanidade desenvolveu rituais – não apenas palavras –que envolvem diversos instrumentos: palavras, gestos, objetos, sons (música), movimentos (danças). O ser humano se torna humano a partir do olhar da mãe e dos demais seres humanos: passamos a ser humanos no colo de nossa mãe.[2] Jaan Valsiner e René Van der Veer sintetizam uma longa tradição de estudiosos desse assunto, afirmando que o ser humano surge de uma sociogênese, talvez melhor: de uma psico-socio-gênese. Ao longo da história, em uns momentos, foi valorizado mais o aspecto biológico (até a alimentação); em outros, mais os intelectuais (pensamento e ideias). As tendências contemporâneas da psicologia cultural lidam, especialmente, com três elementos: diálogo, atividade e pensamento simbólico. Em outros termos: palavra, gestos e reflexão.[3]


[1] Cf. John A. Rush. Stress and Emotional Health: Applications of clinical anthropology. Westport: Auburn House, 1999, p. 13.

[2]Cf. Daniel Stern. Le prime ralacioni sociali: Il bambino e la madre. Roma: Sovera, 1989, p. 21.

[3] Cf. Jaan Valsiner; René van der Veer. The Social Mind: Construction of the Idea. Cambridge: Cambridge University Press, 2000, 3; 384.

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