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Darcy Ribeiro: uma vida, muitas histórias…

(*) Zenólia M. de Almeida

A pele serve para encobrir o corpo, dar forma, configurar a aparência. Na vida, mudar significa trocar de pele. Não a pele visível, mas as diferentes peles que vestem nossa alma, dão cor e sentido à nossa vida. Darcy Ribeiro era um homem de muitas peles: sociólogo, etnólogo, professor, escritor, indigenista, educador, político. Sua trajetória biográfica registra a busca infindável pelo desconhecido e uma revolucionária postura de mudança e rompimento com valores e padrões cristalizados de comportamento. Sua grande motivação foi a incansável busca para entender porque o Brasil era um país que teimava em não dar certo.

Para melhor compreender essa intrigante figura, ensaiei conversas memoráveis, insanas, adoráveis com os múltiplos personagens de suas obras. Nesse interlúdio nos tornamos um. E, inevitavelmente, apaixonei-me por tudo o que aprendi com Darcy. Completei meu aprendizado quando o conheci, pessoalmente, aqui em minha cidade, participando como mediadora da palestra que fez para meus alunos de Ciências Sociais, em meados dos anos noventa. Darcy Ribeiro a todos encantou.

Revolucionário nas várias áreas em que atuou, Darcy revelou amar intensamente o Brasil. Na trajetória de homem público, foi secretário de Estado de Ciência e Cultura, ministro da Educação, chefe da Casa Civil da Presidência da República, vice-governador e governador do Estado do Rio de Janeiro e senador da República. Defendeu e liderou reformas estruturais, fundou universidades e criou os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) para crianças e adolescentes estudarem em tempo integral. Dentre suas contribuições, destaque deve ser dado à elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1961).

Ao ter seus direitos políticos cassados com o golpe militar, passou a viver em vários países da América Latina, colaborando com a criação de escolas, universidades e outros projetos para o desenvolvimento da educação. Ocupou o cargo de assessor dos presidentes Salvador Allende, do Chile, e Velasco Alvarado, do Peru. Na Venezuela, coordenou um grupo de trabalho com o objetivo de estudar a renovação da Universidade.

Nesse período extremamente produtivo, escreveu cinco volumes de Estudos de Antropologia da Civilização, em que buscou explicitar as possíveis causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos. Elaborou um Balanço Crítico da História Brasileira de 1900 a 1980, uma coletânea de Ensaios Insólitos (Sobre o Óbvio), a Suma Etnológica Brasileira, os romances Maíra, O Mulo, Utopia Selvagem e Migo.

Já enfermo, escreveu Testemunho (1991) e Confissões (1997), buscando registrar sua vida com “medo-pânico” de morrer antes de dizer a que veio e com a pressa de manter vivo seu raciocínio “sem as bobeiras do barato” das drogas das dores terminais.

Brilhante, inquieto, engraçado, provocativo, polêmico, Darcy era um vulcão em permanente ebulição. Viveu sua vida num transe de criação, paixão e indignação. Darcy Ribeiro faz muita falta no Brasil de hoje.

(*) Academia Valadarense de Letras, AVL
Patrono: Darcy Ribeiro, cadeira nº 15
PhD em Gestão – UTAD, Portugal

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