[the_ad id="288653"]

Cidadãos e mundos gerais

FOTO: Marcos Hermes

BOB VILLELA

Deu na coluna da Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, na semana passada. Paul McCartney afirmou que “provavelmente” aceitaria receber um título de cidadão honorário do Brasil. Segundo o jornal, a proposta foi apresentada pelo deputado federal Altineu Côrtez (PL-RJ). Ainda de acordo com a publicação, a autoridade afirma ser fã dos Beatles. A banda de Liverpool, desde que foi alçada à condição de lenda — com todos os méritos —, já há muitas décadas, tem em sua base de fãs até aqueles que não escutam a sua música. Usam as camisas do submarino amarelo, outras com estampas das capas dos demais discos, mas muitas vezes nem dão o play no tocador. Fenômeno semelhante, mas em escala menor, se dá com Ramones, Rolling Stones, Pink Floyd e outras tantas. 

Paul é uma marca muito poderosa. Genial nas composições, monstruoso nos palcos, agradável nos bastidores. Teve, e tem, uma vida de estrela de brilho máximo, com raríssimos envolvimentos em polêmicas, e enche arenas pelo mundo aos 80 anos de idade. Se vivesse daquilo que produziu na juventude seguiria sendo enorme. Mas usina de ideias que é, jamais deixou de criar, trabalhar, fazer, viajar e cantar. Um monstro! Influenciou, com os Beatles, o Clube da Esquina, de Milton Nascimento, Lô Borges e companhia — e que companhia! A pérola mineira, mais de cinco décadas após seu lançamento, segue no pódio dos melhores discos que a MPB já deu de presente à humanidade. 

A banda mais famosa da qual Paul fez parte também ajudou a confortar Caetano Veloso durante a prisão a que fora submetido na ditadura. Faz muito sentido que o inglês, cidadão do mundo e de qualquer galáxia, seja também cidadão honorário do Brasil. Faltou apenas que ele fosse menos britânico e, em vez de “provavelmente”, falasse assim: “demorô, mano!”. Lewis Hamilton, conterrâneo do ex-Beatle e também uma lenda — só que no automobilismo — já recebeu o título de cidadão honorário brasileiro do Congresso Nacional. O cara se vestiu de Brasil na sua última passagem por aqui, na ocasião do GP de Fórmula 1 realizado em São Paulo. Afirmou que tem que aprender português em algum momento. A gente também precisa aprender algumas coisas com ele. E com quase todos. 

Recentemente, Hamilton estrelou um belo comercial para o Itaú Personnalité, no qual recebe um boné azul no final, fazendo uma emocionante referência ao clássico boné do extinto Banco Nacional, eternizado por Ayrton Senna, de quem o inglês é fã de primeira fila. A publicidade mais encantadora, que gera empatia e simpatia, ainda mora na sensibilidade, na sutileza, na artesania que busca, em histórias e na História, formas de criar momentos novos. O Itaú, por sinal, tem investido forte em seus segmentos trazendo gente do hemisfério norte para dar aquele verniz. Outro dia, pôs Sylvester Stallone e Marcos Mion na escada eternizada no clássico filme Rocky, em uma campanha do Itaú Uniclass. Se o mercado é um ringue, parece que eles escolheram a pessoa certa.    

Na maravilhosa Para Lennon e McCartney, composição de Lô Borges, Marcio Borges e Fernando Brant, os mineiros emitem um comunicado aos ingleses. “Por que vocês não sabem do lixo ocidental?”, perguntam os rapazes. Seguimos sendo uma parte menos prestigiada do planeta em muitos aspectos, isso é bem verdade. Mas, “provavelmente”, há avanços. De modo geral, os cidadãos brasileiros conquistam o mundo não exatamente ganhando títulos oficiais. É na raça e no talento, com o perdão do clichê. A canção continua: “Eu sou da América do Sul / Eu sei, vocês não vão saber”. Sim, porque temos muita dificuldade de nos organizarmos para ganhar mais força nesta área do continente. “Mas agora sou cowboy / Sou do ouro, eu sou vocês”, segue o som; e “Sinto que agora sou um de vocês”, disse Hamilton em Brasília quando cruzou a linha de chegada — e do Equador — para tornar-se brasileiro. “Provavelmente”, Paul já é um de nós. E eu, apenas um espectador latino-americano, entusiasmado com o que acontece, presunçosamente quero sentir-me como no fim da canção: “Sou do mundo, sou Minas Gerais”.


Jornalista e publicitário. Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Univale. Instagram: @bob.villela | Medium: bob-villela.medium.com

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM

A crise moral na pós-modernidade

🔊 Clique e ouça a notícia Vivemos em uma era marcada por profundas transformações culturais e sociais, onde a crise moral tem se sobressaído de maneira sutil, mas impactante. Em

Aprendendo mais sobre hackathons

🔊 Clique e ouça a notícia Se você está por fora do que é um hackathon, não se preocupe, porque hoje é o dia de entender como esse evento pode

‘I have a dream’

🔊 Clique e ouça a notícia Não importa se parodiando Martin Luther King ou o grupo ABBA. “Eu tenho um sonho”, de magnitude ímpar, se coaduna com caminhadas terrenas de