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Uma história de pânico

FOTO: Freepik

Adão Leal (*)

O cérebro é constituído de bilhões de neurônios, que formam trilhões de conexões, que, por sua vez, produzem milhares de funções derivadas de incontáveis processos genéticos e experiências vividas. Todo mundo tem seus medos, é normal, mas quando exagerados, saem do espectro da normalidade, passam à anormalidade evoluindo um transtorno mental, incorporam-se à identidade e automaticamente à personalidade da pessoa.

Os transtornos de ansiedade têm aumentado no mundo todo. Distúrbios de ansiedade são os transtornos mentais mais comuns de acontecer; ultrapassa até a depressão. Os níveis exagerados de ansiedade que o homem atual está vivendo são elevados, e podemos dizer que estamos presenciando a era mais ansiosa de todos os tempos.

Hoje, abordarei o fenômeno do pânico, especificamente a síndrome do pânico e seu ataque fóbico. Descreverei a história de um paciente ansioso que relata muito bem o acontecido neste transtorno de ansiedade.

Vamos começar do início: antes da primeira crise sofrida estava tudo bem com a pessoa, não sentia nada de anormal. Neste dia, trabalhou normalmente, se sentindo bem. Após seu trabalho voltou para sua residência, tomou seu banho, lanchou, foi para cama e dormiu rápido. Mas daí a 3 horas acordou repentinamente com um susto, todo suado, ofegante e o coração batendo acelerado. Não entendeu o que estava acontecendo. Não se lembrou de ter tido um pesadelo ou algum sonho de angústia. Saiu da cama, andou de um lado para o outro na tentativa de compreender o acontecido, para se recompor emocionalmente. Lentamente foi se acalmando, conseguiu domar os amedrontadores sintomas de aflição que foram diminuindo gradativamente, até perceber que estava livre do terrível sofrimento emocional. Recuperou-se. Mas não entendeu o episódio de mal-estar que teve e o porquê daquele “susto”.

A vida continuou normalmente e não teve mais pânico. Mais na frente, daí a um ano, os ataques de pânico retornaram, acordando-o pouco tempo depois de pegar no sono. Ficou aflito, sem saber o que fazer, pois estava se sentindo bem, porém, vivia momentos estressantes, estava estudando muito, tinha terminado com sua namorada, sem falar que iniciara um novo emprego e seu chefe resolveu persegui-lo. Tais combinações de eventos estressantes abalaram seu estado emocional, o fragilizou e daí a quatro meses repetiram de forma mais forte os ataques de pânico: coração batia acelerado, faltava o ar, suava excessivamente, aperto no peito, boca seca, empalidecia, os braços e pernas pesavam e tremiam.

Então ficou bastante estressado. Não suportando mais, procurou ajuda psiquiátrica. Mediante tratamento psiquiátrico, melhorou e ficou mais seguro, porque ficou sabendo o que acontecia com ele. Com a terapia eficiente, voltou ao seu estado emocional normal. Mantém o tratamento até hoje, pois além de estar livre da ansiedade, o único remédio (antidepressivo) que usa está na dosagem mínima e não sente nenhum colateral.

Ficar ansioso em determinados momentos da vida é normal, acontece, mas devemos saber lidar com tais vivências. Caso não entenda o porquê da ansiedade, alguns tomam medidas de soluções temporárias prejudiciais de curto prazo (usam álcool, comida em excesso, remédios para dormir, calmantes, etc.), que não resolvem, ao contrário, alimentam mais a ansiedade e agravando-a com o tempo.

Os ataques de pânicos são cruéis, traiçoeiros, muito comuns de acontecer e requer tratamento. Sua terapêutica mostra melhora rápida e mediante terapia de manutenção a pessoa nunca mais tem pânico.


(*) Dr. Adão Leal — Médico Psiquiatra: Título de Especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP-AMB); Certificação de Atuação na Área de Psicoterapia (ABP-AMB); Psicogeriatra pelo PROTER (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo – USP).

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