O brasileiro ainda não se habituou ao estilo Jair Bolsonaro. Diferente de todos que o antecederam na história recente do país, o presidente se mostra cada vez mais atirado, imprevisível, impulsivo, arrojado e, sobretudo, independente na forma de agir. Em contrapartida, não hesita em admitir falhas e reconsiderar suas decisões, quando necessário. No seu pouco tempo de governo, fez declarações e adotou medidas polêmicas, que revolucionaram os meios político-administrativos e financeiros, deixando perplexos até alguns dos seus aliados.
Logo de cara, a surpresa ficou por conta da flexibilização da posse de armas de fogo. Embora isso fosse uma promessa de campanha, poucos acreditavam que aconteceria tão rapidamente. E, na última terça-feira (7), Bolsonaro foi além: assinou um decreto que facilita as coisas para várias categorias, como as de proprietários rurais, colecionadores, atiradores desportivos, caçadores e praças das Forças Armadas, nas condições estabelecidas. Com certeza, muitos aplausos vão se misturar a choros e ranger de dentes. Mas a decisão está tomada, pelo menos até segunda ordem.
A suspensão do polêmico horário de verão foi outra resolução inesperada, que alguns criticaram, mas a maioria aplaudiu.
Duas intervenções do capitão, entretanto, merecem uma análise mais profunda. A primeira ocorreu no início de abril, quando ele mandou a Petrobras sustar um aumento no preço do óleo diesel. Não foi equívoco ou mal-entendido. O próprio presidente admitiu haver ligado para o presidente da Petrobrás, ao se surpreender com o percentual do reajuste cogitado. Os consumidores aplaudiram, mas as ações da empresa despencaram, seus acionistas perderam, e o mercado financeiro bronqueou. As autoridades econômicas se apressaram em dizer que tudo não passou de uma decisão pontual do presidente, sem implicar mudança na política de preços da petroleira. Desnecessário dizer que o aumento acabou ocorrendo.
O outro “pitaco” aconteceu no último dia 29, na abertura da Agrishow, feira de agronegócios realizada em Ribeirão Preto. Na ocasião, dirigindo-se a Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil, Bolsonaro, em tom de brincadeira, disse: “Eu apenas apelo para o seu coração, para o seu patriotismo, para que esses juros, tendo em vista você parecer ser um cristão de verdade, caiam um pouquinho mais”.
Apesar de informais, as palavras do presidente foram mal recebidas pelos investidores, e os papéis do BB ensaiaram uma queda logo debelada. Na opinião de assessores, o desejo de Bolsonaro pode até ser sincero e compreensível, já que as taxas de juros no Brasil ainda são elevadas. Segundo eles, entretanto, o presidente não deveria “nem de brincadeira” pedir publicamente ao presidente do BB para reduzir os juros cobrados pela instituição. Esses mesmos auxiliares entendem que assunto até poderia ser discutido internamente no governo, pois é um direito do presidente. Mas abordá-lo publicamente dá a ideia de que o governo estaria intervindo no modo de agir dos bancos públicos.
Em ambos os episódios, ficou clara uma preocupante submissão do governo a um mercado financeiro que não poupa sequer as empresas públicas, quando se trata de remunerar capitais especulativos. Tudo bem que se preserve a liberdade de atuação das instituições financeiras privadas. Mas em um mercado onde as forças concorrentes não se equivalem, onde o consumidor está quase sempre em desvantagem, esse livre-arbítrio tem que ser no mínimo monitorado, para que não haja excessos. É inconcebível que nem mesmo o Chefe da Nação tenha o direito de interferir para conter custos que lhe pareçam exorbitantes, pelo menos quando praticados por agentes sob controle oficial. Antes de garantir os lucros de seus investidores, eles devem zelar, sobretudo, pelos interesses do país. Que Bolsonaro permaneça atento e atuante!
por Etelmar Loureiro