A Ilha dos Araújos, cartão-postal de Governador Valadares, foi idealizada para ser um bairro integralmente residencial. Bons tempos aqueles do doutor Justino Carlos da Conceição Júnior e outros tantos! O tempo passou e a modernidade chegou. Com ela a globalização. E hoje, na Ilha dos Araújos, tem de tudo ou de quase tudo.
No início da década de 60, com a igreja católica do bairro em construção, a maior parte do terreno de todo o quarteirão, certamente de propriedade da igreja, dava lugar à razoável campo de futebol. E nele treinava e mandava seus jogos a Associação Atlética Aparecida, de uniforme totalmente branco, vistoso e composto de um grupo diferenciado de atletas e dirigentes.
Dentre os últimos, as figuras marcantes de Daniel Matias de Almeida, educador por excelência e de hábitos educacionais antigos, rígido por natureza, tendo ao seu lado Hormando Leocádio, com uma imensurável folha de bons serviços prestados à Princesa do Vale.
Quanto ao grupo de atletas – praticamente todos bem-sucedidos na vida; alguns já não mais entre nós – fazia do esporte bretão razão de bem viver a vida reservada aos jovens daquela época. E souberam fazê-lo com sabedoria!
Curta foi a trajetória da Associação Atlética Aparecida, porém deixou sua marca, saudades e recordações.
Atrevemo-nos, via Whatsapp, a encaminhar para Vionaldo Gonçalves Glória – valadarense residindo nos EUA já fazem algumas décadas – simplório bilhete indagando sobre algum registro a respeito do período em que defendeu a A. A. Aparecida e questões outras da equipe. Assim escrevemos:
“Vionaldo, boa tarde! Gostaria, se possível, que você me enviasse dados da A. A. Aparecida, tais como: anos de atuações em campeonatos, nomes de dirigentes, treinadores, atletas, etc. Pretendemos abordar. Luizinho”.
Eis a resposta: “Luizinho, boa tarde! Amigo, joguei no Aparecida, mas não me lembro de ter disputado nenhum campeonato. Lá conheci o senhor Daniel Matias, Hormando Leocádio, Dedé (irmão do Fuki), Genahur (massagista) e Geraldo (treinador). O técnico, por lhe faltar um braço, tinha o apelido de Geraldo Cotó. Entre muitos jogadores lembro-me de José Walter, Nélson Gusmão, Betinho, Joaquim, Branca de Neve, Fuki, Roberto Felipe, Vionaldo, Toninho, Julinho, Alfredo, Cloir, Itamar, Getúlio, José de Assis, Homerildo e mais alguns que a memória não ajuda e fico devendo. Que me perdoem os esquecidos.
Eu morava na Ilha dos Araújos, na casa do mano Sem e cunhada Maria Inez e jogava ao mesmo tempo para o Tupã (do Dolfino Chisté) e para outros que tivessem necessidade de um meia armador fominha. Perdoe-me por não poder ajudá-lo no que me pediu. Aos domingos tenho lido o que você escreve sobre o esporte bretão e gosto muito. Parabéns pelo bom trabalho! Deus te abençoe e aos seus familiares e amigos. Saúde e paz!”
De tal narrativa e registro passa um filme em nossa mente. Praticamente são todos nossos conhecidos. Incluiríamos na lista a figura de Júlio Gama, goleiro, já falecido, e com o qual, ao lado de Roberto Felipe (também já falecido), e do Toninho (irmão do Julinho), servimos ao glorioso TG-74 no ano de 1966. Não há espaço para comentário individual a respeito de todos os jogadores citados. Uma pena! Mas Nélson Gusmão foi nosso colega de turma de CONTABILIDADE. Um de nossos professores: Cid Pitanga.
Quanto ao Geraldo, o treinador, grande figura humana! Fez história em Valadares trabalhando nas divisões de base do Democrata Pantera, no Bangú A.C., no Santa Helena, no Everest, no Palmeiras e outros mais. Queridíssimo por todos, admirado e respeitado pelos adversários.
De Daniel Matias e Hormando Leocádio, tudo que se disser será demasiado pouco, insuficiente para agradecer pelo que fizeram pelos petizes e jovens daquela época. Educadores à moda antiga.
Matado a saudade de lembranças de tanta gente boa, chega-nos a notícia de que Almyr Vargas de Paula, que se encontrava enfermo já há bastante tempo, falecera no sábado, 21, cercado de seus entes queridos, deixando tristes seus amigos, admiradores e a sociedade valadarense em geral. No domingo à tarde, 22, foi sepultado no Memorial Park.
É ser petulante querer escrever sobre Almyr Vargas de Paula e o que ele representou para a cidade, que um dia foi Princesa do Vale! O atrevimento nos encoraja a registrar que poucos, muito poucos mesmos, tanto fizeram pela cidade de aventureiros como o fez o homem da Cerâmica Ibituruna, da Univale, da Associação Comercial e do Democrata Pantera. Ética, respeito, dignidade, companheirismo, competência e companheirismo (tá certo, seu Bosco?) marcaram sua trajetória neste mundo dos humanos.
Chefe de família exemplar, deixa um legado a ser seguido. Quanto a nós, seus admiradores, teremos um exemplo em quem espelhar, em especial quando o assunto for Democrata Pantera.
Os verdadeiros democratenses e os mais antigos hão de se lembrar das imensuráveis batalhas travadas por Almyr Vargas contra a Federação Mineira de Futebol e seus dirigentes, buscando o resgate da dignidade do clube por ele dirigido, mediante procedimentos censuráveis, covardes e inadmissíveis. Almyr jamais se quedou.
Outra batalha pouco divulgada e mesmo conhecida, diz respeito a possíveis direitos, em forma de percentual, pela fatídica transferência de Fábio Júnior para a Itália. Em última instância, como sempre em Brasília, na calada da noite, eles – os PERRELAS – viraram o jogo e o Democrata Pantera nada recebeu. Mas a história registrou. Houve resistência. Houve luta.
Como registrado em Papo de Boleiro recente, “felizes aqueles, não importando de qual segmento social – se trabalhadores, atletas, dirigentes, integrantes da mídia ou torcedores – que conheceram e se relacionaram com a figura marcante, humana e decente de Almyr Vargas de Paula. Não encontrado nas prateleiras do atual futebol brasileiro”.
Pois é, Almyr Vargas de Paula nos deixou. Para os menos avisados, não foi pela Covid-19. Repetimos, já estava enfermo e sequer recebia visitas. Com semblante sereno e ao lado de seus familiares, este, sem dúvida alguma, combateu o bom combate.
(*) Ex-atleta
N.B.1 – Há informações que o nosso “Peleguinho” está internado no HOSPITAL Municipal e que seu estado de saúde requer cuidados.
N.B.2 – Morreu o ícone Maradona. Muito já se escreveu e muito ainda se escreverá. Com a devida proporção e época, lembra-nos e muito a trajetória e final da vida terrena de Manoel Francisco dos Santos, o caçador de passarinhos de Pau Grande. Drogas matam…