Dileymárcio de Carvalho (*)
A ansiedade virou uma palavra comum, mas os estragos ao longo de um percurso de vida no trabalho não são tão comuns assim. Viver momentos de alerta, já nos deixa em estado de ansiedade. Precisamos entender que a ansiedade não é algo que se aprender a conviver e simplesmente. Não é só passar a me nomear como ansioso, pensando que a vida vai seguir sob meus controles físicos e emocionais. E quando é tem o trabalho que para regula “escolhas não possíveis”, como a de não ficar ansioso, a atenção deve ser redobrada.
A ansiedade é uma defesa natural do nosso organismo, nos sinaliza que algo pode acontecer. Mas imagina se sentir assim o tempo todo? Não há coração que ajuste o ritmo. O corpo entra numa rigidez de tremura, muito mais suor que o normal e em sua ocorrência prolongada, vários outros sintomas aparecem: dores musculares e desconforto no intestino. E até aqui “tudo bem”: você ainda está dento “controle” da situação, mas com recursos de defesa que deveriam ser usados em momentos estratégicos e não o tempo todo.
Dai para uma TAG: o Transtorno de Ansiedade Generalizada é um “pulo”. Só que a sequência seguinte mexe com outra estrutura de defesa: nosso sistema psíquico entra em sofrimento e ele precisa responder de alguma forma. Existem as questões genéticas como referência inicial. Mas dependendo as condições de trabalho se tornam um gatilho: a ansiedade que deveria ser tão útil, não encontra mais recursos no corpo e nem na mente para se defender e começam então os estados de depressão. Eles podem ser leves, crônicos e incapacitantes. E tudo com a minha verbalização de dizer, “estou e sou ansioso por causa das minhas condições de trabalho ou da rotina nas relações com as pessoas e tarefas” e vou suportando.
Tornou-se comum as pessoas se afastarem do trabalho por causa da depressão, mas menos pela ansiedade. É justamente aqui devem entrar os programas de Segurança Psicológica no trabalho. É preciso um monitoramento das causas ambientais da ansiedade e da desmotivação pessoal e como essas duas reforçam o comportamento ansioso. Porque ao mesmo tempo a sensação de ansiedade é um desconforto não muito claro, uma apreensão sem uma nomeação, com tensão e projeções de que algo não vai dar certo. Toda vez que o sistema de defesa no corpo é acionado por causa da ansiedade é momento de cuidado emocional.
Nos meus atendimentos individuais ajudando profissionais com depressão e afastados do trabalho, buscamos descobrir qual foi o percurso da ansiedade para saber em qual momento no trabalho a ansiedade se transformou em dificuldade. E todos os protocolos levam à constatação de que esse depressivo um dia foi um ansioso. Lidar com a ansiedade passa pela aceitação de que aquilo que estou vivendo é sim ansiedade. Mas aceitação não é se conformar, porque a nossa estrutura de defesa, corpo, mente e o psicológico têm limites.
Para empresas o alerta é o cuidado e o acompanhamento semanal de forma também protocolar e para o funcionário é a revisão dos recursos emocionais e as estratégias cognitivas e mudanças de comportamento como prevenção à ansiedade.
Já no consultório, quando identificado os níveis de depressão, é aprender novamente sobre quem eu sou o que deixei fazerem comigo e quais recursos preciso agora para me fortalecer. Os recursos estão dentro de nós. Não use seus recursos para suportar quadros de ansiedade sem ajuda.
(*) Dileymárcio de Carvalho- Psicólogo Clínico Comportamental- CRP: 04/49821 E-mail: contato@dileymarciodecarvalho.com.br
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