Luiz Alves Lopes (*)
“No futebol dos dias atuais circula muito dinheiro, mas a realidade é tristonha. As camisas dos clubes ficaram muito caras, os ingressos idem, e até a TV também vem encarecendo. Consequentemente vem ocorrendo o afastamento/distanciamento dos amantes do futebol que se acostumaram com a aproximação pela ligação com a essência do esporte rei e sua simplicidade. Prolifera hoje grande insatisfação com o futebol comercial que vivenciamos.
Há uma tendência de afastamento do futebol de raiz, o verdadeiro, do futebol de pelada, daquele praticado na rua, na praia, no fundo do quintal, nos campos de várzea, nas praças públicas, nos subúrbios, na zona rural (Maurício Murad).
O futebol de antigamente, o vistoso, irreverente, irresponsável mesmo, arrastava multidões as estádios independentemente do conforto ou desconforto, não só do campo de jogo, mas de todos os espaços das praças esportivas. Com raras exceções e espaços, verdadeiros amontoados de seres humanos vivenciavam intensamente as partidas de seus clubes do coração. Verdadeiros torcedores. Apaixonados. Voltavam para suas casas sorridentes muitas vezes; em outras, de cabeças inchadas.
No Clube de Regatas Vasco da Gama (alô, Capitão Elias), nos bons tempos de Miguel, Paulinho e Belini, Écio, Orlando e Coronel (marcador de Mané Garrincha), torcedora símbolo do futebol brasileiro marcou época. Seu nome: DULCE ROSALINA.
Os vascaínos da velha guarda têm orgulho de relembrar sua torcedora símbolo, que em 1956 tornou-se a primeira mulher líder de uma torcida efetivamente organizada em nosso país, o que fazia com maestria e sabedoria.
Muito jovem ainda – 22 anos de idade – , assumiu a presidência da Torcida Organizada do Vasco, fazendo história à frente dos simpatizantes cruzmaltinos. Por conta de sua dedicação ao clube o coração, acabou vencendo concurso promovido pela Revista do Esporte no limiar da década de 60. Não se limitava tão somente ao futebol, acompanhando todos os demais esportes do clube.
No rival Botafogo de Futebol e Regatas – tempos de Mané Garrincha, Didi e Nilton Santos -, o símbolo de amor ao clube da estrela solitária, por muitos anos, foi sintetizado pela figura marcante de TARZAN.
Otacílio Batista do Nascimento, mineiro nascido em 1927, falecido em 1990, passou a acompanhar o “fogão” desde 1953, passando, a partir de 1957, a empunhar e conduzir bandeiras e fogos nos jogos do clube do coração.
Tarzan discutia com a imprensa os problemas do clube do seu coração e se dedicava a conversar sempre em torno do clube da estrela solitária. Fazia verdadeiros comícios, dava palpites, elogiava e aplaudia sempre que havia oportunidade. De tão sincero, franco, objetivo e extraordinário, foi homenageado pelas torcidas rivais do Vasco da Gama, do Clube de Regatas do Flamengo e América do Rio.
Nas Minas Gerais, no CABULOSO, que já foi PaLESTRA, figura marcante como chefe de torcida foi Aldair Pinto, que por décadas comandou a charanga do clube, com entusiasmo incomum, porém mantendo respeitoso relacionamento com torcedores adversários, em especial com Júlio, o grande do Galo.
Radialista com passagens pelas grandes emissoras da radiofonia belorizontina, também enveredou na política, sendo eleito vereador da Capital por inúmeras vezes, levado pela massa celeste. No período de exceção, acabou tendo o mandato cassado. Vivenciou a época de ouro do clube celeste, tempos de Raul, Tostão, Dirceu, Piazza e cia.
Do outro lado, no Clube Atlético Mineiro, não menos importante foi Júlio Firmino da Rocha – JÚLIO, “O MAIS AMIGO”, proprietário do armazém do Júlio. Marcou época à frente da torcida do GALO, fundando charanga e tudo mais. Sempre com recursos próprios. Respeitadíssimo pelos jogadores da época.
Ao se afastar dos campos de futebol e das arquibancadas, Júlio teria avisado aos dirigentes que as torcidas organizadas iriam causar problemas e que seria muito diferente da tradicional participação dos torcedores nos jogos. Visão sábia. Não deu outra.
Com as devidas proporções, no interior também se respira futebol. Na cidade que já foi Princesa do Vale do Rio Doce, o Democrata Pantera teve em Eliezer “das peles”, Beto Teixeira, Dona Filhinha, Miralda e Abgail Fernandes e o descomunal CÉLIO, atirador de 1966, dentre tantos outros torcedores verdadeiramente apaixonados pelo clube de coração, que ocupa nobre quarteirão da rua Osvaldo Cruz. Foram e são partes integrantes da história do clube.
Pois é, nos dias atuais, bandos de marginais travestidos de torcedores enojam o futebol que já foi o melhor do mundo, ameaçando, agredindo, matando e causando apreensão em atletas, dirigentes e funcionários de seus próprios clubes, afora outros tantos de seus concorrentes, aos quais insistem em transformar em inimigos. Não são torcedores. São vândalos e mercenários que precisam ser varridos do cenário futebolístico brasileiro.
(*) Ex-atleta
N.B. – Passados 56 (cinquenta e seis) anos estivemos, no dia 23/04/2022, nas dependências do Tiro de Guerra de nossa cidade, presenciando cerimônia civil do mais alto nível. Se lágrimas não rolaram, os olhos lacrimejaram. No filme da vida, as recordações de um período e lapso temporal que ficaram em nossa memória e que jamais serão esquecidos.
Disciplina, justiça e sinais de respeito. Grandes e sinceras amizades. Ter estado sob a “batuta’ de Junô Serafim, sargento instrutor e eterno petequeiro, com lembranças ainda dos demais sargentos instrutores Vitor Hugo, Edjalna “cricri” Ramos e Jairo Araújo.
Lembranças do esquadrão campeão de futebol de salão da cidade em 1966: João Mosquito (Júlio Gama), Luizinho (Toninho), Nagel (Brandão), Roberto Felipe (Maduro), Alcindinho Abreu (Lado Siqueira). Treinadores: Ramos e Junô. Comandante da ferrenha e entusiasta torcida presentes nas acanhadas quadras de cimento da época: o Célio com seu berreiro infernal.
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