A psicose, quando invade a personalidade e as habilidades mentais de um adolescente ou de um jovem adulto, causa dor quase insuportável para ele e sua família.
Assim que os jovens começam a adoecer de esquizofrenia, vivem a realidade inadequadamente e os conflitos em seus relacionamentos aparecem. Iniciam as dificuldades de comunicação com os companheiros no trabalho, na escola, com seus parentes e amigos. Criam formas para se isolar, passam a evitar todos a sua volta e, invariavelmente, sentem-se solitários.
Tais comportamentos marcam o processo inicial do desenvolvimento desta enfermidade – não quer dizer que todo jovem com dificuldade de relacionamentos ou com momentos difíceis na vida desenvolvem esquizofrenia. Porém, nos predispostos à doença mental, tais situações começam a se tornar cada vez mais estressantes e traçam o limite para um provável surto psicótico.
A família geralmente enxerga tais dificuldades, mas muito envolvida afetivamente com o indivíduo, acha que é normal porque a pessoa está passando por momentos difíceis, porém, ultrapassará. Acreditam que ao superar tais problemas vitais, retornará à sua vida normal, fará novas amizades e recomeçará a ser a pessoa cheia de vida que sempre foi.
Quando envolvidos neste processo, os familiares ficam mais tolerantes, entendem como se fosse um momento difícil que o jovem está passando e aguardam pacientemente pelo fim desta fase problemática. Acreditam que os adolescentes normalmente querem se tornar independentes e não participam de suas vivências e propósitos com seus parentes.
Porém, quando os jovens não conseguem seus objetivos planejados, tudo fica mais difícil, e a fase se já estava ruim, piora ainda mais. Agravando a situação, começam a viver como se tudo estivesse perdido e ficam mais frustrados. Isolam-se ainda mais, afastam-se definitivamente da família, dos amigos, de todos. Longe das relações familiares, não têm com quem conversar e dividir a fase infeliz que estão vivendo, e a doença vai se acomodando ainda mais.
A família vendo suas dificuldades aumentarem, se reaproxima para apoiá-lo novamente. Volta a lhe oferecer ajuda, o incentiva, diz para não desistir de seus objetivos, que tenha paciência, pois a vida é difícil e que esta fase ruim passará!
Mas o sofrimento da pessoa é enorme, inimaginável. Não consegue expressar o que está acontecendo com ela, não compartilha seu sentimento com ninguém e surta…
Como vimos, é um processo difícil e doloroso o início da esquizofrenia. Contudo, a família nunca deve se sentir culpada quando um de seus membros desenvolve uma doença mental, mas sim, tem de procurar desenvolver recursos nos relacionamentos para apoiá-lo, buscar ajuda de um profissional que entenda a pessoa e faça o devido tratamento.
(*) Psiquiatra da Associação Brasileira de Psiquiatria e Psicogeriatra pelo PROTER (Instituto de Psiquiatria USP – São Paulo).
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