por Alexandre Venâncio (*)
Bom, uma das únicas certezas nesta minha curta trajetória no complexo circuito do Jornalismo é a de que em algum momento eu gostaria de falar sobre Fórmula 1. Sim, eu sei o que os mais conservadores estão pensando, “Fórmula 1? Isso ainda existe? Ah, mas com certeza não é nada comparada ao foi na época do Senna”. Eu posso te afirmar que sim, a Fórmula 1 existe e existe muito, existe para demais da conta.
Entendo que, talvez, não seja mais tão eletrizante para nós brasileiros quanto foi no tempo em que as McLarens vermelha e branca de Senna e Prost se digladiavam, soltando faíscas pelas estreitas ruas de Mônaco, ou batendo roda nas sinuosas curvas de Silverstone, e ainda disputando a ponta em quase todo circuito do mundo. Mas, vem cá, dá uma chance para essa nova geração. Eu tenho certeza de que eles irão te surpreender.
Esta coluna surge com a singela missão de receber meus pensamentos acelerados sobre o esporte a motor. Os fãs de automobilismo sabem o quão eletrizante é assistir a um bom GP e sabem como é frustrante não ter ninguém para despejar confabulações sobre a corrida do último domingo.
Bom, vocês agora são meus companheiros de equipe neste Grande Prêmio de conjecturas automobilísticas. Então, sejam bem-vindos. Está na hora de ligar os motores e aquecer os pneus.
Para que eu vou assistir isso? Só o Hamilton que ganha, não tem graça!
Preciso admitir, era preciso se esforçar para acompanhar os últimos anos da categoria. Tinha que ser fã de verdade. Desde 2014 a equipe Mercedes tem tido um desempenho difícil de acreditar. Foram 6 anos de domínio absoluto sobre todos os outros times. Tudo planejado por eles, claro!
É que em 2014 entrou em vigência um novo conjunto de regras que introduziu ao esporte os motores V6 híbridos. Isso quer dizer que cada um dos carros possui um motor V6 e uma unidade de potência elétrica que, juntos — dizem as más línguas —, geram até 1000CV de potência em ritmo de qualificação — eu duvido que chegue a essa cavalaria toda, mas não conta pra ninguém. Isso gerou carros muito rápidos, mas aquele som maravilhoso do V10 foi substituído por um barulho de cortador de gramas horrível. Isso, inclusive, é uma das principais reclamações dos antigos fãs da categoria.
Voltando à Mercedes, eles foram espertos e começaram a trabalhar em seu motor muito antes de qualquer outra equipe – ouso dizer que eles voltaram à Fórmula 1 em 2010 já com o carro de 2014 em mente. Isso gerou uma equipe com resultados astronômicos, ninguém parava os caras. Além do carro INACREDITÁVEL que eles entregam todo ano, em 2013 esses caras ainda contrataram o Lewis Hamilton, piloto inglês que desde 2007 vem sendo uma aberração, no bom sentido, no grid. O cara nunca ficou uma temporada sem ganhar uma corridinha sequer. E ainda tem gente que fala que ele só ganha por causa do carro… É cada uma, viu!
Nesses últimos seis anos, muita gente tentou travar as rodas do sucesso da Mercedes, mas só conseguiu desacelerar um pouco o foguete alemão. Ferrari tentou com Sebastian Vettel, Red Bull tentou com Daniel Ricciardo e Max Verstappen, mas ninguém conseguiu diminuir o ritmo da equipe, que, nesse período, venceu 7 vezes o campeonato mundial de construtores.
Mas parece que o jogo virou. Tem mais gente ganhando asas.
Bem, amigos da Rede… Não era assim que começava? Bem, amigos, agora a história mudou. Algumas mudanças no regulamento de 2021 fizeram com que outras equipes tivessem alguma chance contra a poderosíssima Mercedes. A principal adversária dos alemães, claro, é a Esquadra Vermelha, a grandiosa Ferrari, certo? Errado. Os italianos ainda não conseguiram acertar a mão no carro nem na estratégia. Já melhoraram muito em relação ao terror que foi o ano passado, mas ainda é uma vergonha, rs. Os grandes rivais das flechas de prata deste ano não vêm da Itália, vêm da Áustria. Montados em touros vermelhos, deslizando pelo ar com poderosas asas que somente um energético pode te dar…
A Red Bull Racing, neste ano, acertou no carro e na dupla de pilotos. Finalmente. Agora a equipe dos touros vermelhos está dando dor de cabeça para a Mercedes. Como um bólido veloz e confiável, Max Verstappen tem dominado os fins de semana da Fórmula 1. O garoto sempre foi rápido, isso não se pode negar. Venceu sua primeira corrida com o time em 2016 e na época tinha apenas 19 anos. O cara é um fenômeno.
Então, o que temos?
No último domingo tivemos o GP do México. Verstappen dominou toda a prova e venceu a corrida com uma performance digna de um campeão mundial. Largou em terceiro e na primeira curva já havia ultrapassado as duas Mercedes. Uma manobra linda e arriscada, que deixaria Ayrton orgulhoso. Vamos agora para o GP do Brasil, no magnífico autódromo José Carlos Pace, também conhecido como Interlagos. A pista é um paraíso das ultrapassagens, curvas largas, variações de elevação, traçado curto e superveloz. A corrida promete.
Tudo indica que a Mercedes chega bem para a corrida, mas Verstappen é um verdadeiro mestre no traçado brasileiro. Por algum motivo, o garoto se transforma em um monstro quando corre por aqui. 2016, 2018, 2019, todas performances incríveis do holandês. Ao que tudo indica, a decisão do campeonato realmente vai ficar para as últimas voltas. Se você me perguntar: “E aí, Alexandre, quem vence essa bagunça?”. Eu irei sair de fininho com toda a classe do mundo, pois, sinceramente, não tenho a mínima condição de responder a essa pergunta. A Fórmula 1 2021 está completamente imprevisível, e isso é maravilhoso.
(*) Meu nome é Alexandre Venâncio, jornalista, produtor de podcasts e, graças à minha mãe, fã de Fórmula 1 desde pequeno. A dona Célia Maria viveu os bons tempos de Ayrton Senna e Nelson Piquet nas manhãs de domingo; eu, por outro lado, cresci assistindo Rubens Barrichello e Felipe Massa na TV. Admito que sou um estranho nos círculos sociais que frequento, sou conhecido como “o cara que fica assistindo carro andando em círculos”. Mas tudo bem, é o preço a se pagar. Agora, além de ver Fórmula 1 e de falar disso pelo menos 10h por dia, eu também escrevo sobre o tema. Porque velocidade nunca é demais.
(*) Fominha de plantão, fã de automobilismo e ferrarista de coração.
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