“Festas de fim do ano podem piorar a situação”, diz infectologista sobre a Covid em Valadares

Especialista faz um alerta para os riscos das reuniões de fim de ano

A chegada das comemorações de Natal e de fim de ano podem significar uma “bomba relógio” para os casos de Covid-19 em Governador Valadares. O município afundou de vez na onda vermelha do programa Minas Consciente, na qual está pela quarta semana seguida. A última decisão do Comitê Extraordinário Covid-19 foi publicada nesta quarta-feira (9).

Em entrevista ao DRD, a infectologista e professora do curso de Medicina da UFJF-GV Patrícia Ferraz diz estar preocupada com a postura da população nas ruas.

O total de mortos pela Covid-19 em Governador Valadares é de 380. A cidade possui 88 pacientes internados com a doença, 46 estão internados na UTI. Os casos suspeitos em investigação somam 367, incluindo 40 mortos. Ou seja, a cidade pode ultrapassar a triste marca de 400 mortes no ano causadas pela Covid.

Segundo o último boletim epidemiológico da Prefeitura, já são 11.153 casos confirmados, sendo que 10.400 pessoas estão recuperadas. A taxa de ocupação no Hospital Municipal/Hospital Samaritano está em 82,8%, e nos hospitais particulares permanece em 100%. Mais de 30% dos leitos são ocupados por pacientes de cidades vizinhas.

A médica infectologista Patrícia Ferraz concedeu uma entrevista ao DRD e falou da sua preocupação com a Covid-19 em Valadares. Acompanhe.

Vejo com preocupação e tristeza essa situação. Somos uma só nação. Precisamos de união, agora mais do que nunca.

DRD: Patrícia, qual é sua avaliação do atual momento da Covid-19 em Governador Valadares?

Patrícia: O Leste de Minas e a cidade de Governador Valadares estão na chamada onda vermelha do Minas Consciente. Esse alerta é importante, pois indica que a situação do município não é tranquila, estamos com um alto nível de transmissão do vírus na cidade e, apesar de ainda termos leitos para internar os pacientes, a taxa de mortalidade no município é elevada. Mais que o dobro da média do estado de Minas Gerais e uma das piores do estado. Portanto, situação hoje é preocupante.

DRD: O que você diz sobre a postura da população valadarense diante das medidas de proteção? Estão seguindo corretamente?

Patrícia: Em várias cidades do país e também em nosso município, infelizmente, as medidas preventivas estão sendo deixadas de lado. Principalmente o distanciamento social e o uso de máscaras. Hoje, já tendo passado mais de oito meses da pandemia, sabemos que tais medidas são fundamentais para conter a disseminação do vírus e a contaminação de mais pessoas. Além disso, outro ponto importante que não está sendo seguindo de forma adequada é o isolamento do paciente suspeito ou confirmado para Covid-19, e a quarentena ou isolamento dos seus contados domiciliares. O paciente com infecção pelo coronavírus, mesmo sendo apenas uma suspeita, deve ficar isolado (sem sair de casa) por 10 dias, a contar da data do Início dos sintomas. Os seus familiares, pessoas que moram na sua casa, também devem ficar em casa por 14 dias, pois esse é o tempo em que o vírus pode ficar incubando e se manifestar.

DRD: A chegada das festas de Natal e fim do ano geralmente reúnem uma quantidade maior de pessoas. Neste ano, qual é a sua orientação?

Patrícia: Uma das orientações para as festas de final de ano é não esquecer que a pandemia não acabou: não viajar, não fazer encontro com muitas pessoas, idealmente fazer um encontro pequeno somente com as pessoas que já moram na mesma casa. Lugar aberto ou ventilado, tentar manter distância de 1,5 entre as pessoas. Gostaria de reforçar que, independentemente de termos ou não um tratamento precoce eficaz, a doença é grave, pode acometer qualquer pessoa e levar à morte, como de fato já levou quase 400 pessoas em nosso município. Vale, neste momento, aquele ditado popular “é melhor prevenir do que remediar“. Alguém ainda duvida disso?

DRD: Fala-se muito na chegada da segunda onda da doença. Já chegou ao Brasil?

Patrícia: O Brasil nunca saiu da primeira onda. Não fizemos um controle adequado dos casos. Quando os números começaram a baixar, entramos num platô. Aí relaxamos nas medidas preventivas e os casos explodiram no último mês. Parece mais uma onda por cima da outra.

DRD: O que você tem a dizer sobre os tratamentos precoces, quando a pessoa sente os primeiros sintomas da doença. Ajudam de alguma forma?

Patrícia: Sobre o tratamento precoce, eu sigo a opinião da a Sociedade Brasileira de Infectologia. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) não recomenda tratamento farmacológico precoce para Covid-19 com qualquer medicamento (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal, dióxido de cloro), porque os estudos clínicos randomizados com grupo de controle existentes até o momento não mostraram benefício e, além disso, alguns desses medicamentos podem causar efeitos colaterais. Ou seja, não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a Covid-19.

DRD: A chegada da vacina colocará um fim na doença?

Patrícia: A vacina é uma realidade muito próxima. E realmente só com ela ficaremos livres da pandemia. Porém, somos milhões de brasileiros e nosso país é imenso. No Brasil, elas poderão ser utilizadas somente após a aprovação da Anvisa. A logística não será fácil, serão meses de muito trabalho e será necessário o envolvimento de todos, em níveis federal, estadual e municipal.

DRD: Falando em vacina, alguns estados já estão adquirindo insumos para a produção de vacinas de laboratórios nacionais ou do exterior. Há alguma preocupação quanto a essas iniciativas de cada estado?

Patrícia: Vejo com preocupação e tristeza essa situação. Somos uma só nação. Precisamos de união, agora mais do que nunca.

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