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Advérbios e advertências

FOTO: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Aparentemente, fechamos a primeira quinzena de 2023 com muito mais emoções do que poderíamos imaginar. O advérbio abrindo o texto coloca as coisas nos seus lugares devidos. Afinal, só parece que não seria possível prever as emoções que abriram o ano, visto que boa parte delas compõe nosso cardápio de mazelas. Os fatos novos, por sua vez, foram a coroação de indícios já há algum tempo entregues às autoridades e à sociedade. Era só juntar as peças. Mas, de que emoções estamos falando mesmo?

Possivelmente, você vai se decepcionar. Porque trago aqui emoções mais corriqueiras, daquelas sobre as quais já estamos acostumados a lamentar. Que tal as chuvas e seus estragos, que se repetem em todo verão e para os quais parece não haver solução? Assistir a um telejornal em janeiro nos confunde a cabeça. Aquelas imagens de casas debaixo d’água, deslizamentos de encostas, ruas inundadas e cidadãos ilhados em cima dos próprios carros parecem fazer parte do patrimônio de cada emissora, que as sacam no verão. Tipo as árvores de Natal que tantas famílias tiram das caixas no final do ano (mas isso, pelo menos, é bem legal).

Compromisso com a sociedade

Infelizmente, impressiona muito como em nosso país, de modo geral, não se consegue equacionar esse problema que invariavelmente frequenta a estação mais quente do ano. Custa caro, eu sei. Leva tempo, estou ciente. Mas um planejamento integrado entre União, estados e municípios, lastreado no compromisso com a sociedade, acima de interesses de gestões pontuais, seria um passo muito bem dado. E não me refiro às leis e à execução de orçamentos, pois sabemos que isso existe. Estou falando do que vemos há décadas. Sinais óbvios de que algo está faltando.

Lamentavelmente, por sinal, faltou mais do que algo, simplesmente, na condução das manifestações que deveriam ocorrer em Brasília no domingo passado. Porque o que houve, de fato, foi baderna, desrespeito, terror e por aí vai… Se os advérbios costumam indicar uma circunstância, estes e as demais classes de palavras que existem não dão conta de definir o que aconteceu na capital federal na primeira quinzena de janeiro de 2023. Tão histórico quanto trágico, o ocorrido esgota advérbios, verbos, adjetivos e substantivos. Mas, assim como acontece com os estragos trazidos pelas chuvas Brasil afora, não faltaram advertências ou indícios substanciais de que tudo aquilo poderia rolar.

Fogo cruzado

Frequentemente, seja como profissional da comunicação, seja como cidadão, me assusta a discrepância entre o discurso oficial das administrações públicas e o que vemos nas ruas, nas estradas ou no noticiário. Imagino que as novas gerações fiquem ainda mais impressionadas perante tal assimetria. As assessorias de comunicação ficam no fogo cruzado tentando fazer o trabalho. E o povo, às vezes, sente-se na equivocada obrigação de resolver as coisas ao seu modo. Uma pena.

“Não sei se existe mais justiça/Nem quando é pelas próprias mãos/População enlouquecida/Começa então o linchamento/Não sei se tudo vai arder/Como algum líquido inflamável/O que mais pode acontecer/Num país pobre e miserável?/E ainda pode se encontrar/Quem acredite no futuro”. Com a contestadora Desordem e muitos outros hits de protesto, os Titãs divertem e advertem bastante gente desde os anos 1980. Em 2023, todos os integrantes vivos da formação clássica da banda se reúnem para uma série de shows. Certamente, teremos boa música ao longo do ano. E, lastimavelmente, mais chuva, mais estragos e mais perdas no próximo dezembro e no início de 2024. Fazendo jus ao trecho citado neste parágrafo, sou um dos que acreditam no futuro, seja qual for a circunstância. Mas haja advérbio.


Bob Villela
Jornalista e publicitário.
Coordenador dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Univale.
Instagram: @bob.villela
Medium: bob-villela.medium.com
bobvillelaf@gmail.com

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