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Os pais também são gente

por Heldo Armond

“Quero dizer para vocês sobre o momento que estou passando em minha vida. Esta minha reflexão veio se desenvolvendo em função do que ouvia aqui, e influenciado pela leitura da 2ª Carta de São Paulo aos Coríntios, quando eu tive o 1º despertar para a mudança. “… se somos atribulados, nós o somos para a consolação e salvação do outro…”

À medida em que avançava na leitura desta carta, eu me via em várias de suas passagens, e identificava as minhas fraquezas e fragilidades, os meus sofrimentos, que me torturavam. Ficava, momentaneamente, sem entender o que se passava, porém, de repente, percebi que tudo aquilo foi Jesus quem viveu, que derramou todo o seu sangue, seu suor, seu sofrimento e dor por causa de mim, por causa de você.

Veio-me, então, a imagem de um fato acontecido entre eu e meu pai. Meu pai era dependente do álcool e, certa vez, chegou em casa totalmente alcoolizado. Nessas condições ficava violento, e a minha mãe era o seu alvo preferido. Eu contava 14 anos de idade, à época (hoje tenho 49), e me sentia como o protetor da minha mãe, ante a violência iminente do meu pai. Entretanto, nessa ocasião, o meu pai, que sempre andava armado, apontou o revólver em minha direção. Quero admitir agora, depois de tanto tempo, que não foi o meu pai quem apontou aquela arma para mim, mas sim o álcool, a doença que ele não conseguia controlar. Foi por graça Divina, que uma pessoa que estava próxima dele, bateu em sua mão, e o tiro tomou outro rumo. Eu tenho certeza que o meu pai não queria fazer aquilo. Não, ele não queria fazer aquilo…

Sofremos muito com o ocorrido. Morávamos em uma cidade pequena, no estado da Bahia, onde tínhamos vários parentes. Tive que deixar a família e fui morar com uma tia, na cidade de São Paulo. Meu pai também saiu de casa. Passei por muitas dificuldades; saudades da família, mas eu acreditava em mim, em Jesus Cristo, e achava que ainda poderia fazer algo por pessoas, que passam por situações delicadas.

Sinto-me feliz neste momento, por entender o papel, que às vezes, Deus nos recomenda, pois “Ele nos consola em todas as nossas tribulações, para que possamos consolar os que estão em qualquer tribulação, através da consolação que nós mesmos recebemos de Deus”(Cor 1,4).

Passados uns quatro anos, meu pai voltara para casa. Eu continuei a minha vida em São Paulo. Às vezes visitava a minha família, na Bahia, encontrava com o meu pai, mas nunca mais tocamos no assunto, narrado acima. Casei-me e voltei a morar na cidade, onde estavam os meus familiares. Tenho um filho, com 28 anos de idade, e sei o que é Ser pai e o que é Ter um pai. Confesso a vocês que Jesus me iluminou neste dia de hoje. Quero perdoar o meu pai, dizer a ele que o perdoo. Quando retornar para a minha cidade, após este Encontro, tenho certeza que Deus irá colocar o meu pai na minha frente, e eu vou abraçá-lo e dizer-lhe que o amo. Não quero saber se ele dirá alguma coisa ou não. Mas não posso deixar de fazer isso. E é logo que eu chegar. Não vai ficar para outro dia. Quero agradecer a Deus por aquele tiro não ter me acertado, e por meu pai ter parado de beber. O que ocorreu não foi culpa dele. Ele é um ser humano, é gente. Deus, o Senhor nos salvou. Obrigado!

Grupo de Apoio Amor Exigente
Coordenação Local: Berta Teixeira Rodrigues
Coordenação Regional: Washington J. Ferreira/Penha
Reuniões às terças-feiras, de 19h30 às 21h30, no Colégio Franciscano Imaculada Conceição

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, por não representarem, necessariamente, a opinião do jornal.

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