Em breve vai começar tudo outra vez. Falta muito pouco para a recontagem dos meses. Naturalmente, os últimos dias deste ano e os primeiros do ano novinho em folha estarão repletos de esperança. Isso é muito bom. Ora, se não houver o que alcançar, se não houver com o que sonhar, então o que buscar? Pelo menos por uns dias, a gente precisa acreditar que está vivendo um tempo especial que prenuncia as mudanças que esperamos. E a boa notícia é que em muitos casos o que a gente espera costuma chegar. Portanto, não recomendaria o otimismo ingênuo, mas tampouco pensaria em prescrever o ceticismo chato, aquela coisa presunçosa, pedante, que simula um certo esclarecimento. Isso não.
Se tem um período em que a gente precisa se despir de um pouco de lucidez é agora. Mais até do que no mundial de futebol (que está pertinho; mas para o torneio eu recomendo o ceticismo chato, rs…). Dos dias que antecedem o Natal até aqueles que sucedem o Réveillon (até o dia 10 de janeiro, mais ou menos, quando ainda cabe desejar “Feliz Ano Novo”), é preciso que se esteja de peito aberto para congraçamentos, encontros, esperança, ilusões (sim, porque foi por conta de ilusões que muitos monumentos foram erguidos e muitas soluções foram criadas).
A propósito, natal significa nascimento, não é mesmo? Claro, a gente sabe disso. Não só por causa do que celebramos em 25 de dezembro, mas também porque, durante a gestação, a mulher realiza os exames pré-natal. A cidade onde nascemos é a nossa cidade natal. Pouca gente sabe, porém, que réveillon tem sua origem no verbo francês réveiller, que quer dizer “acordar”. Então, na virada do ano a gente vive um despertar para novos sonhos. Coisa linda!
Mas em que pese meu entusiasmo durante este período, chama atenção a nossa falta de criatividade na hora de alimentar as ilusões. Embora tudo fique bacana, as coisas soam sempre muito parecidas. É tipo aquele artista ou aquela banda — não vou citar nomes, pois não quero estragar o espírito de Natal com polêmicas — que descobre um jeito de fazer sucesso e, depois, todos os álbuns parecem iguais. Claro que às vezes a gente tem uma surpresa aqui e ali, mas de modo geral as cidades e as campanhas publicitárias apresentam pouca inovação.
É engraçado também quando pensamos nos nomes dos anos. Fazemos a maior festa, ficamos acordados até de madrugada, muitos compram roupas novas, as roupas íntimas amarelas se esgotam nas lojas, e no final… apenas aumentamos um pouquinho a contagem. Hoje é 2025. Amanhã (oh!)… 2026. Sim, compreendo que seria bastante trabalhoso dar um nome diferente para cada um deles. Seriam inúmeras reuniões, enquetes, pesquisas, campanhas. Um rolê absurdo todos os anos — que passam cada vez mais rápido —, isso deixaria a humanidade ainda mais extenuada. Melhor deixar como está.
Mudar os meses também daria muito trabalho. É bem mais tranquilo repeti-los. Assim, uma pessoa que viveu 40 anos sabe que já tem 40 exemplares de cada um dos 12 meses na conta. É bem mais de boas. Imagine a cena: a pessoa perguntar ao Google ou à inteligência artificial de sua preferência qual foi o nome do mês em que o Brasil foi tetracampeão mundial de futebol em 1994. Isso seria contraproducente. Mais fácil é saber que foi em julho. Graças a isso, todos os meses acumulam glórias e vexames ao longo da história. E não custa lembrar que um hit pode ser ótimo ou pavoroso, não importa. Mas só se tornou um hit graças à repetição.
É graças à repetição também que muitas campanhas e tantos slogans tornaram-se memoráveis. Porque o que a gente memoriza é algo com o que convivemos. Cores, números, palavras, nomes. Gestos, coragem, carinho, compromisso. Pessoas e marcas investem milhões em estrutura e em ilusões para serem, para o público, como são os meses. Algo corriqueiro e fundamental, que faz parte da nossa vida de maneira marcante e inevitável. É preciso registrar que não há uma receita, mas tem muita gente e muita marca que quanto mais se reinventa, mais distante fica de seus objetivos. O mesmo vale para sua profissão e para suas relações.
Em breve vai começar tudo outra vez. Inove naquilo que é preciso. Repita aquilo que é mais prático e necessário para deixar tudo mais legal. Como? Leia mais, reflita mais, olhe menos para as postagens dos outros, e você saberá. Saiba também que há, sim, muitas oportunidades em 2026, mas que nem tudo depende só da sua vontade. Relaxe, cuide-se e lembre-se do que a Pitty disse:
“Ninguém merece ser só mais um bonitinho
Nem transparecer
Consciente, inconsequente
Sem se preocupar em ser
Adulto ou criança
O importante é ser você”
Feliz nascimento.
Feliz despertar.
Bob Villela | Jornalista e publicitário | Professor na Univale e poeta sempre que possível | Instagram: @bob.villela | Medium: bob-villela.medium.com
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