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Bruno Marketing

FOTO: Reprodução/Instagram

Bruno Mars passou feito um furacão pelo Brasil. Como era de se esperar, foi notícia onde esteve. Desfilou seu talento nos palcos com seus hits consagrados e passeou, gargalhou, brincou bastante. Foram várias apresentações por aqui, espalhadas por São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba e Belo Horizonte. Inicialmente seriam poucos shows, mas os ingressos foram vendendo rapidamente, novas datas foram surgindo, outras possibilidades foram se configurando, e o astro não perdeu a chance de carimbar o ano com seu talento e seu carisma. Não importa se houve a edição de 40 anos do Rock in Rio. Este 2024 foi de Bruninho.

Não sou muito de escutar Bruno Mars. Não que eu não goste. Até curto bastante. Mas, entre tudo aquilo que curto bastante, há outras atrações que me chamam mais atenção. Além disso, sou muito curioso, então vivo buscando novidades ou revisitando produções ocultas daqueles de quem sou mais fã. Sobra menos espaço para bastante gente que admiro muito — não que eles estejam sofrendo por isso, imagino eu. Voltando ao Bruno, é impossível não perceber no cara aquilo que a imprensa de cultura e entretenimento já costuma difundir: o rótulo de “artista completo”.

Sei que esse papo de completo, pleno, senior, chief, deus… Tudo isso é bem controverso e às vezes não passa de uma cafonice, ou mesmo de uma muleta de quem procura meios para segregar ainda mais nosso convívio neste mundo. De todo modo, Bruno Mars reúne, sim, atributos que o colocam em uma prateleira muito nobre. Ali, naquele moço baixinho vindo do Havaí, tem um pouco de Michael Jackson, de James Brown, de Lady Gaga, de Whitney Houston, de Phil Collins. Tem profissionalismo, tem virtuosismo, tem inteligência. Muito suingue, segurança e toda irreverência. E tem muito marketing — no melhor sentido do termo.

Se eu tivesse que explicar marketing em apenas uma palavra, esta palavra seria: troca. Tudo se resume a isso. Uma viagem, um smartphone, um procedimento estético, um candidato, um refrigerante. Não importa a marca ou o preço. Você observa os atributos que aquele símbolo carrega, as propostas, o design. Em seguida, pensa: “Quanto esforço eu preciso fazer para ter acesso a isso?”. Sua mente prossegue: Essa troca vale a pena?”. Se for um seguro automotivo ou um plano de saúde — algo muito menos aprazível do que comer uma moqueca em nosso belo litoral —, muitos avaliam que faz sentido trocar parte da grana reunida com o trabalho para ter uma certa segurança em uma eventualidade. É assim que funciona. Se for um show internacional, você considera outros poréns. E Bruninho conhece todos eles.

Os espetáculos dele foram sucesso de público e de crítica. O artista exibiu uma desenvoltura absurda no palco e fora dele. Esteve no Maracanã para assistir ao clássico Fla x Flu. Em BH, foi visto no Tizé, clássico boteco da classe média alta localizado no sofisticado bairro Lourdes. Dias depois, passeou pelo bairro Cachoeirinha, também na capital mineira. Antítese do Lourdes, o Cachoeirinha é um lugar simples, sem badalações, com muitos elementos daquilo que chamamos de periferia. Pois Bruninho esteve muito à vontade por lá, interagindo com as pessoas e com os aspectos que compõem nossa brasilidade — para o bem e para o questionável.

Em um legítimo boteco de bairro, camisa do Brasil no peito, boné verde com a bandeira nacional na cabeça, óculos Juliet na cara, chinelêra nos pés, nosso cria ostentava um latão de Brahma na mão — poderia ser uma Bud, mas aí ele não seria um “dos nossos”, não seria “raiz”. Para mostrar que já era um brasileiro, feriu a legislação de trânsito ao andar na garupa de uma moto sem capacete e pôs-se para fora do teto solar de um SUV para acenar ao público nas ruas de BH. Merece, com todos os méritos, um CPF — e uma multa também. A regra número 1 da estratégia de Bruninho são duas: aparentemente ele faz tudo isso porque gosta muito (tomara que seja); e ele está sempre sorrindo.

Sei que isso vai ficar muito lugar-comum. Mas, no marketing, mostrar ao público que você está envolvido de verdade muda tudo. Ora, se estamos falando de trocas, quanto mais energia e amor empregados, maiores as chances de sucesso. E — agora a coisa desanda de vez — um sorriso abre muitas portas (e garante muitos shows). Em 2021, o (agora saudoso) publicitário Washington Olivetto deu uma entrevista à Folha de S. Paulo e disse que nossa publicidade andava muito preocupada com métricas, números, aferição de resultados, e estava deixando em segundo plano tudo que é capaz de fazer as marcas chegarem a grandes conquistas. Faz muito sentido.

Nada contra aferir métricas. Isso é absolutamente fundamental. E, por sinal, sempre aconteceu no mercado publicitário e só evoluiu com a tecnologia e a transformação digital. Mas Bruninho deixa para cada um de nós uma lição que anda faltando para profissionais e organizações. Para chegar aos números sonhados, é preciso ser gente, andar por aí e ver gente, reverenciar gente e lugares com entusiasmo, sorrir pra gente. Parem de pensar que a simples parametrização de campanhas, shows, aulas e vidas será capaz de alavancar uma existência exitosa. Ainda somos humanos. E enquanto formos, nossas trocas vão envolver um pouco mais do que os algoritmos podem prever.


(*) Jornalista e publicitário.  Professor na Univale e poeta sempre que possível.

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