A ansiedade não só é uma sensação comum como também muito importante para a humanidade. Sem ela, muito mais gente chegaria tarde aos compromissos, tudo demoraria mais tempo para acontecer e ninguém se preocuparia em fugir dos perigos do dia a dia.
Alguns cientistas defendem que a ansiedade foi e continua sendo uma vantagem biológica, que serviu aos nossos ancestrais, incorporou-se aos genes da humanidade e nos faz bem até hoje. Ela seria ao mesmo tempo um instrumento de alerta e reação contra as situações de perigo. Imagine um ancestral do homem descansando em sua caverna, quando, de repente, surge um animal perigoso. Nessa situação, a sensação de ter de fazer algo com urgência, seja fugir ou enfrentar o inimigo, poderia significar a diferença entre a vida e morte. E é por isso que a ansiedade, além de estar ligada ao medo, vem acompanhada de mudanças físicas, como o coração acelerado e a respiração intensa, que preparam o corpo para agir com força e rapidez. Ocorre que muitas pessoas sofrem de um desajuste no mecanismo que controla essa sensação e passam a tê-la constantemente, ultrapassando os limites de tolerância do organismo.
A ansiedade pode se transformar em doença por duas razões. A primeira é o fato de o corpo ter um limite até o qual consegue suportar a ansiedade, que varia de pessoa para pessoa, de acordo com fatores genéticos e com a história de vida de cada um. A segunda é uma característica exclusiva do ser humano: os perigos subjetivos. Diferentemente dos animais, que só disparam o gatilho da ansiedade diante de ameaças concretas ou de situações às quais foram condicionados, o homem pensa e imagina. Logo, cria medos. Na vida moderna, o medo pode estar por toda parte – medo de perder o emprego, de ser assaltado, de ficar doente, de ser traído.
O ritmo cada vez mais veloz nas grandes cidades, a maior competitividade entre as pessoas e o excesso de compromissos da vida moderna contribuem muito para o aparecimento desse distúrbio. Quem sofre de ansiedade generalizada preocupa-se demais com a vida. Acha que as coisas ruins podem acontecer-lhe a qualquer momento e seus principais focos de preocupação são a saúde, da própria pessoa ou de seus familiares, a situação financeira e os assuntos do trabalho. A pessoa passa a viver em constante estado de tensão e desconforto. Está num contínuo estado de alerta e uma pressa em terminar as coisas que ainda nem começou. Tornam-se hipersensíveis nos relacionamentos pessoais e frequentemente se sentem inconvenientes e deprimidos. Não importa quanto as coisas estejam indo bem, eles mantêm-se sempre apreensivos, ansiosos e preocupados.
No fim do dia, alguém que sofre de ansiedade provavelmente fará um balanço e lembrará de seus “erros”, reais ou imaginários, e ficará pensando no que deveria ter feito diferente ou que não fez. Muitas vezes, não consegue relaxar no fim de semana e fica remoendo o que passou e sofrendo, por antecipação, com o que virá.
Quando estão juntas, as ameaças concretas com perigos subjetivos, a ansiedade ultrapassa o limite do suportável, então a pessoa adoece. E passa a ter reações desproporcionais ao tamanho da ameaça – ou mesmo sem ameaça nenhuma. O cérebro “pifa”. O problema é que, na maioria dos casos, os sintomas aparecem aos poucos. Os sintomas mais comuns são inquietação, nervosismo, irritação, fadiga crônica, tensão constante, insônia, sustos exagerados, pulsação cardíaca acelerada, suor, frieza nas mãos, respiração ofegante, náusea e diarréia. Isso não quer dizer que os portadores desse transtorno têm todos esses sintomas. Eles variam de pessoa para pessoa.
Conforme o nível de gravidade, a ansiedade pode ser tratada com psicoterapia, com o acompanhamento médico-medicamentoso ou com a combinação de ambos. A psicoterapia auxilia a pessoa a identificar e tentar mudar os pensamentos e comportamentos que causam ansiedade. Das diferentes abordagens existentes, a Terapia Cognitiva propicia ao paciente perceber e compreender quanto e quando suas preocupações são desproporcionais ao tamanho dos problemas. Um dos exercícios que costumam ser recomendados é o registro, por escrito ou em gravador, das preocupações que se tem ao longo do dia. Depois, a pessoa relê ou ouve o que gravou e percebe se existem exageros ou não. Técnicas de relaxamento também são muitas indicadas e proporcionam bons resultados. A utilização de remédios específicos para a ansiedade, chamados ansiolíticos, trazem bons resultados, mas somente com acompanhamento e indicação de um profissional médico. Recomendam-se também aos portadores de ansiedade a prática regular de exercícios físicos e atividades relaxantes e de lazer.
SÉRGIO LUIZ FONSECA DIAS | Psicoterapeuta Comportamental Cognitivo