Por Crisolino Filho (*)
Certa vez escrevi sobre o calçadão da Ilha dos Araújos, quando observei que os praticantes de caminhadas, principalmente quando feitas em grupo, é um verdadeiro laboratório existencial, afinal, pode se ouvir, ainda que de passagem, conversas sobre variados assuntos: amores feitos e amores desfeitos, conflitos familiares, problemas com empregados, com colegas de trabalho, sucesso na vida profissional, viagens, negócios, enfim, sobre tudo aquilo que move o sentimento humano.
Mas a cidade tem outros laboratórios existenciais, entre os quais, a sauna masculina de um clube recreativo. Ali se fala de tudo, algumas vezes em tom de brincadeira, outras vezes com o merecido respeito. Dizem que mulher fala muito, mas aqui para nós, no particular, os “cuecas” também falam bastante, e como!
Desnecessário, mas vamos dizer que o local é perfeito, muito amplo, com seu forno sempre bem ajustado, duchas, jatos com pressão de água, piscina de hidromassagem e a frequência de muitos conhecidos. Talvez por ser um espaço de lazer onde pode até se curar “estresse”, a moçada extravasa seus pensamentos e… senta a pua.
Certo dia, imersos no calor e na fumaça, dois frequentadores nostálgicos falavam que Governador Valadares não tem mais bons bares como nos tempos do Dom Camilo e do Canecão (saudosos mesmo), como se quisessem passar a ideia de que, hoje, a cidade é carente de bons bares e pizzarias. Nos parece que aquela paixão pelos bons momentos vividos no passado impede a visão do mundo hoje. GV cresceu e mudou. Penso que para melhor, é claro! A somatória de excelentes bares e pizzarias chega a ser um absurdo.
Outros dois reclamavam da cidade de Nova Viçosa, no litoral sul da Bahia. Diziam eles que num determinado verão aquele balneário não teve trio elétrico para animar os veranistas na cidade. De acordo com eles, o prefeito se desfez da parafernália, porque recebeu muitas reclamações dos nativos, incomodados com barulho. No entanto para desassossego de outros, permaneceu “al mare” (a grande) as discotecas ambulantes dos carros dos“play-boys”, cujo barulho impede qualquer um de conversar.
Um funcionário público estadual de nível graduado reclamou da falta de isonomia de seu salário de R$ 25 mil, que ele alega estar defasado em relação à mesma categoria na área federal. Já um jovem de uns vinte e poucos anos, todo compenetrado, contava para seu amigo que a turbina de seu “Jet ski” estava com defeito, por isso sua máquina patinava nas águas barrentas do rio Doce.
Nos dias posteriores aos grandes clássicos do futebol, o assunto da bola predomina com muita gozação. Como não poderia deixar, fala-se muito também de política – uns contra, outros a favor do “status quo”, mas sempre com um norte em comum, isto é, são mesmo todos iguais?
Nesses dias de calor intenso, abrasador, um frequentador comentava para o outro que, se agora no final de setembro esquentou assim, imagina em janeiro do próximo ano? Na realidade, vai ser quente do mesmo jeito. A temperatura não vai ser duplicada como ele quis deixar a entender. E por fim, não só lá, mas em outros lugares, uma reclamação que se tornou senso comum: “O mundo está muito doido, as coisas estão esquisitas demais, as relações amorosas estão muito líquidas, deixaram de ser sólidas, como as pessoas estão esquecidas”, e apontam uma responsável, a covid-19, o que no mínimo faz sentido.
São conversas de todos os naipes.
(*) Crisolino Filho é escritor, advogado e bibliotecário
E-mail: crisffiadv@gmail.com – WhatsApp: (33) 9880-71877
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