Ayrton Senna está outra vez nas nossas televisões e nas nossas rodas de conversa. A série da Netflix trouxe à tona a memória do tricampeão mundial, 30 anos depois da despedida. Uma justa homenagem a alguém que elevou o nome do Brasil e fez tanta gente feliz nos anos 80 e 90.
Até para quem não é fã de automobilismo, é inspirador acompanhar a obsessão do protagonista por vencer. Mesmo que para isso fosse preciso comprar todas as brigas do mundo e até tentar combater o sistema da Fórmula 1, o que acabou cobrando um preço alto demais. Também é interessante observar como os atores estão bem parecidos com quem eles representam. Grande acerto.
Eu me lembro de um tempo em que as corridas nas manhãs de domingo eram uma tradição nacional. A pista nunca foi a minha praia, confesso. Ainda assim, era legal saber que o piloto para quem todo mundo torcia ganharia, ao som do emocionante Tema da Vitória.
Se eu não era fã de carros, já era de histórias. Quando conheci a revistinha em quadrinhos do Senninha, a versão criança do Ayrton, foi amor à primeira leitura! Comprava todo mês na banca de jornais, virou meu xodó. Era como se aquele personagem fosse “meu”, não como a Turma da Mônica ou do Mickey, que todo mundo conhecia e gostava.
O único probleminha é que eu só descobri o gibi depois de algumas edições lançadas. A partir dali, tive todas, mas ficava a sensação de que cheguei meio atrasado.
Para resolver, tive uma ideia brilhante: escrevi para a editora, contando o quanto eu amava as aventuras do Senninha e pedi gentilmente que me presenteassem com os primeiros números, para completar minha coleção. O máximo que consegui foi, na próxima edição, o meu nome publicado na seção de quem tinha enviado cartas. Nunca me responderam – muito menos me enviaram qualquer revista.
Em sua última entrevista, Ayrton usava o icônico boné azul do Banco Nacional e vestia uma camisa do Senninha. Eu também tinha uma.
Esbarrei com o Senna outra vez na literatura, anos mais tarde, essa sem querer. Comprei o livro “A arte de correr na chuva”, de Garth Stein, sem qualquer indicação, só porque li na capa que a história era narrada pelo cachorro e fiquei curioso. No romance o cão conta sua história com seu humano, que é piloto, e ambos são grandes fãs de corridas e do campeão brasileiro, principalmente pela capacidade de conduzir na adversidade da chuva. O prefácio é da Viviane Senna, a irmã.
Foi o primeiro livro, e ainda hoje um dos poucos, que me fez chorar. Talvez o primeiro que eu reli. Já indiquei e emprestei meu exemplar tantas vezes, que em uma dessas ele acelerou e se perdeu por aí.
Virou filme, também capaz de arrancar lágrimas de quem tem o coração mole. Tipo eu.
Na infância eu fiz aulas de piano, de teclado. Minha carreira musical durou tanto quanto meu talento para o automobilismo: parei na largada. Cheguei a participar de um recital em 1996, dois anos após o acidente em Ímola, e adivinhe qual foi a canção escolhida para a minha primeira apresentação, executada com qualidade bem questionável. Começa com Pã pã pã.
O Senna se tornou mito pelo que fez ao volante, ainda mais por ter partido tão cedo, em uma triste fatalidade que marcou tanto o país e o esporte. Transformou o 1º de maio em um dia de saudade.
Nas pistas, Senna ultrapassou todo mundo; fora delas, Ayrton Senna do Brasil se consagrou como ídolo que ultrapassa as gerações.
(*) Mineiro, jornalista e mochileiro.
Já rodou meio mundo e, quando não está vivendo histórias por aí, está contando alguma. Ou imaginando, pelo menos. É um fã da arte de contar histórias: as dele, as dos amigos e as que nem aconteceram, mas poderiam existir.
Acredita no poder que as palavras têm de fazer rir, emocionar e refletir; de arrancar sorrisos, gargalhadas e lágrimas; e de dar vida, outra vez, às melhores memórias. É autor do livro de crônicas “Isso que eu falei” e publica textos no Instagram no @isso.que.eu.falei.
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