Quando um simples laço cor-de-rosa foi entregue a corredores em Nova York, em 1991, ninguém imaginava que aquele gesto discreto se transformaria em um dos maiores movimentos de conscientização do mundo. O Outubro Rosa nasceu assim: com delicadeza, mas com força suficiente para atravessar fronteiras e iluminar prédios, monumentos e corações. No Brasil, foi em 2002 que o Obelisco do Ibirapuera brilhou em rosa pela primeira vez, dando início a uma tradição que hoje mobiliza empresas, governos, organizações de saúde e também comunidades inteiras.
Quando o condomínio se torna palco de transformação
O Brasil é um país de condomínios. Milhões de pessoas compartilham o mesmo espaço de convivência, e é justamente ali, no cotidiano dos corredores, elevadores e áreas comuns, que a conscientização pode florescer de maneira natural. O síndico, muitas vezes visto apenas como gestor de contas e conflitos, pode assumir também o papel de agente de transformação social.
Um exemplo inspirador vem do Rio de Janeiro, com o projeto Chá das Síndicas, criado pela síndica Ana Paula. O grupo, que já reúne cerca de 400 membros de todo o país — inclusive eu —, encontrou no Outubro Rosa uma forma de fortalecer tanto a conscientização sobre a saúde quanto o relacionamento dentro dos condomínios. Há quatro anos, o aniversário do projeto é comemorado justamente com ações do Outubro Rosa. Como nem sempre as síndicas dispõem de recursos para organizar grandes eventos, a estratégia tem sido simples e eficaz: levar o tema para dentro dos condomínios com folders da campanha, convidando os moradores a participar.
Este ano, a iniciativa consiste na arrecadação de produtos de higiene que serão doados a uma instituição no Rio de Janeiro. As síndicas aderem à campanha levando o material aos moradores e incentivando a solidariedade. Esse gesto coletivo não só fortalece a causa, mas também aproxima vizinhos e administração, despertando nas pessoas o olhar para o próximo. Afinal, quando a solidariedade entra em cena, ela transforma não apenas quem recebe, mas também quem doa.



A urgência por trás do rosa
Não se trata apenas de uma cor ou de um símbolo. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que até o fim de 2025 o Brasil registre 74 mil novos casos de câncer de mama. Mais da metade desses diagnósticos ainda acontece em estágio avançado, quando as chances de cura são menores. E é justamente por isso que falar sobre prevenção e diagnóstico precoce nunca foi tão necessário.
Este ano, uma boa notícia renova a esperança: o Ministério da Saúde passou a recomendar a mamografia pelo SUS para mulheres a partir dos 40 anos. A medida pode mudar vidas, mas ainda existe um obstáculo silencioso: apenas 22% das mulheres entre 40 e 49 anos realizaram o exame na última década. A informação, portanto, precisa circular com a mesma intensidade que o rosa ilumina cidades.
Juntos somos mais fortes
O slogan deste ano, “Juntos somos mais fortes – para todos”, poderia muito bem ser o lema de qualquer condomínio. Afinal, viver em comunidade é isso: apoiar, dividir, cuidar. Quando síndicos e administradores abraçam causas como o Outubro Rosa, não estão apenas decorando áreas comuns ou repetindo campanhas. Estão dando voz a informações que podem salvar vidas, estão construindo pontes de solidariedade e estão mostrando que o coletivo é sempre mais poderoso do que o individual.
Outubro é um mês de cores, mas acima de tudo é um mês de escolhas. Que cada condomínio se transforme em um território de esperança, informação e vida. Porque falar sobre o câncer de mama é falar sobre todas nós — e porque nenhum gesto é pequeno demais quando o que está em jogo é o futuro.
Cleuzany Lott é síndica, palestrante, jornalista, advogada com especialização em Direito Condominial, MBA em Administração de Condomínios e Síndico Profissional, Presidente da Comissão de Direito Condominial da 43ª Subseção da OAB-MG, Governador Valadares e 3ª Vice-Presidente da Comissão de Direito Condominial de Minas Gerais e membro do “Chá das Síndicas”.
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