No fim do ano, quando o espírito de Natal convida à reflexão, um tema ganha força dentro de muitos prédios: viver em condomínio está ficando pesado demais.
Cada vez mais, ouvimos pessoas dizendo que não querem mais morar em condomínio; outras só permanecem porque não têm alternativa. E, curiosamente, na maioria das vezes o problema não é o prédio — é a convivência.
A deterioração do clima comunitário tem raízes conhecidas: disputas de ego, articulações em “grupinhos”, conversas paralelas que inflamam mal-entendidos e transformam divergências pontuais em rivalidades pessoais.
Em condomínios pequenos, onde todos se encontram na garagem, no elevador ou na assembleia, ou nos grupos de whastApp, pequenos conflitos tomam proporções desnecessárias e desgastantes.

Estou ajudando a melhorar ou piorar meu condomínio?
Mas a verdade é simples e, ao mesmo tempo, profunda: a qualidade da convivência depende das pessoas. Depende do que cada um escolhe alimentar — o entendimento ou a desconfiança, a cooperação ou a disputa, a serenidade ou a picuinha. E, por isso, este é um bom momento para cada morador fazer uma pergunta sincera a si mesmo: estou contribuindo para o bem-estar do condomínio ou, mesmo sem perceber, estou ajudando a destruí-lo?
A vida em comunidade exige algo mais do que regras ou manuais internos: exige maturidade emocional. Problemas sempre existirão — lâmpadas, infiltrações, barulho, limpeza, obras. Mas nenhum desses problemas, por si só, arruína um condomínio. O que arruina é a maneira como lidamos com eles. O que desgasta é transformar uma divergência administrativa em conflito pessoal. O que afasta as pessoas é a certeza de que, a qualquer momento, podem ser alvo de comentários, acusações ou disputas que extrapolam o bom senso.
Que o incentivo promova o bem, e nunca a competição
E é por isso que, para além do cimento, do tijolo ou da liga que sustentam um prédio, o que realmente faz diferença é a paz. A paz cotidiana, silenciosa, que não aparece em planilhas, mas que define se o lugar onde vivemos será um lar ou apenas um endereço.
Condomínios harmoniosos não são aqueles sem problemas, mas aqueles em que os moradores se lembram de algo essencial: o objetivo é o bem comum — e ninguém “vence” quando a comunidade perde.
Neste Natal, talvez valha adotar um gesto simples e poderoso: trocar a pressa de julgar pela disposição de compreender. Diminuir o volume das disputas e aumentar o espaço da empatia. Rever atitudes, repensar palavras e reconhecer que, no final das contas, a convivência depende de cada um de nós.
Porque prédios são feitos de concreto — mas comunidades são feitas de escolhas. E sempre há tempo de escolher melhor.
(*) Cleuzany Lott é advogada com especialização em Direito Condominial, MBA em Administração de Condomínios e Síndico Profissional (Conasi), Presidente da Comissão de Direito Condominial e membro da Comissão de Direito Animal da 43ª Subseção da OAB-MG, Governador Valadares, 3ª Vice-Presidente da Comissão de Direito Condominial de Minas Gerais, síndica, jornalista e palestrante.






