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Luzes, cafezinho e alguns ursinhos pra gente sorrir

FOTO: Freepik

GOVERNADOR VALADARES – A Starbucks é a maior rede de cafeterias do mundo. Uma marca consagrada. É comum (e um pouco cafona) que as pessoas postem fotos de suas bebidas quando estão na Starbucks. Ver uma das lojas da marca faz muita gente se sentir importante. Tipo, “se aqui tem uma Starbucks, devo estar em um bom lugar”. Sim, dentro da nossa lógica capitalista e escapista, até faz algum sentido, já que as lojas normalmente estão presentes em locais considerados mais nobres, como shoppings, aeroportos, regiões turísticas ou centros financeiros de grandes cidades mundo afora. Ela quer ser um refúgio, um lugar de aconchego.

A Starbucks tem sua sede em Seattle, nos EUA. É lá também que fica a sede da Amazon, de Jeff Bezos. Aproveitando: conheça “Bezos I”, música do excelente, e nada convencional, especial “Inside”, do comediante Bo Burnham, na Netflix. E já que o assunto virou para a música, vale lembrar que Seattle ostenta a glória de ser o berço do movimento grunge, com bandas como Alice in Chains, Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden. O grunge se notabilizou por atitudes despojadas, comportamento questionador, músicas maravilhosas e mortes trágicas de integrantes de alguns grupos. Ficou muito conhecido também pelo uso das camisas com estampa xadrez, de flanela, felpudas. Algo como um refúgio, um lugar de aconchego?

Na linha “felpuda” e no sentido de aconchego, a Starbucks lançou, nos EUA, uma coleção especial de final de ano. Até aí, tudo tranquilo. Mas eis que o mercado — e sua capacidade inesgotável de fazer a magia acontecer — produziu um novo apelo. Trata-se do fofíssimo Bearista, um copo de vidro em formato de urso, que segura uma bebida e veste um gorro verde, que, no caso, é a tampa do recipiente. O nome é perfeito. Uma mistura de bear — urso em inglês — com barista — o profissional especializado em bebidas à base de café. O preço: 29,95 dólares. Um pouco salgado para nós, que recebemos em reais e cuja realidade não é nada doce. O resultado: o item está vendendo como água — que, ressalte-se, compra-se mais do que café. Há registros de brigas entre clientes em supermercados onde havia ursinhos disponíveis.

Brasil e EUA têm em comum o apreço pelo café e a paixão por ursinhos. Para citar alguns, temos os clássicos “Ursinhos Carinhosos”, os sensacionais “Ursinhos Gummi”, o maravilhoso “Ursinho Pooh”, o irrefutável “Zé Colmeia” e as lições trazidas por “Kung Fu Panda”. Tem ainda o Ted, o ursinho de pelúcia muito louco e extremamente polêmico que tomou o cinema de assalto. Pensaram que eu me esqueceria do urso da Coca-Cola? Impossível. Aqueles comerciais de escorrer lágrimas dos olhos e dar vontade de tomar um refrigerante serão para sempre lembrados. Agora, o Bearista da Starbucks é candidato a lenda entre os norte-americanos.

Fim de ano é assim mesmo. É tempo de acreditar em senhores de vermelho que distribuem presentes. É hora de ir aos supermercados para brigar por ursos de vidro que custam 29,95 dólares. A vida é dura, então nós criamos distrações e tradições. O tal do sistema só deu uma “anabolizada” no processo com generosas doses de café, açúcar e propaganda. Para compor o cenário, muitos lugares já estão com postes, árvores, canteiros e praças devidamente coloridos e iluminados para as celebrações. E, confesso, eu acho isso tudo lindo.

“As luzes da cidade acesa”, é assim que começa o hino “Desculpe, mas eu vou chorar”, do saudoso Leandro e do vivíssimo Leonardo. Não se trata das luzes às quais nos referimos neste texto. A iluminação que pipoca no último trimestre do ano quer criar uma atmosfera alegre, de festa, congraçamento e, claro, incentivo ao consumo. Na música da dupla sertaneja o enredo esclarece uma desilusão amorosa, a solidão marcada por uma busca que não deságua no encontro. Nada sugere um desfecho feliz. Então, desculpe, mas o que resta é chorar.

Mas no restinho do ano é diferente. Se o café — não só na Starbucks — continua caríssimo, agora não é hora de pensar a respeito. Se o time perdeu os torneios que disputou, foi rebaixado ou salvou-se na última rodada, não tem problema. Se as chacinas e os escândalos seguem surpreendendo o noticiário e os discURSOS (olha eles aí) tecem artifícios para nos ludibriar, a gente deixa isso um pouco de lado neste período (como se não houvesse letargia de nossa parte nos meses anteriores). Ou seja, nós, seres humanos e brasileiros, temos muitas razões para chorar. Mas quando chega o fim do ano — indo até o Carnaval —, desculpe, mas (como eternizou Fernanda Torres) nós vamos sorrir.


(*) Jornalista e publicitário. Professor na Univale e poeta sempre que possível. Instagram: @bob.villela | Medium: bob-villela.medium.com

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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