Em meio a um calendário repleto de dias curiosos — e até duvidosos — como o Dia de Não Aguentar Mais Isso (07/01), o Dia de Vestir o seu Pet com Roupa de Gente (14/01) e o Dia de Levar suas Plantas para Passear (27/07) — existe uma data que realmente faz sentido e que deveria ser estendida a todo o país: 30 de outubro, o Dia do Condômino, instituído em 2023 no estado do Paraná, por iniciativa do deputado estadual Cobra Repórter (PSD).
Mas, ao contrário das outras, essa não é uma data para celebrar com bolo e balões. É um convite à reflexão.
O Dia do Condômino foi criado para provocar uma mudança de mentalidade: fazer com que os moradores compreendam seu papel na vida condominial — não apenas como quem paga uma taxa mensal, mas como parte viva de uma comunidade que compartilha espaços, responsabilidades e decisões.
E a boa notícia é que a lei foi além: ela também instituiu a Semana do Condômino, dedicada a conscientizar os moradores sobre seus direitos, deveres e a importância da convivência harmoniosa nos espaços coletivos. Uma iniciativa que deveria inspirar outros estados a adotar a mesma causa.
Dois cenários, um mesmo problema
Vivemos dois cenários preocupantes. No primeiro, milhares de pessoas estão morando em condomínio pela primeira vez. Chegam sem entender as regras de convivência, sem saber o que é assembleia, fundo de reserva, taxa de manutenção — e, muitas vezes, sem compreender as consequências de não pagar o condomínio. O resultado é previsível: conflitos internos, sensação de injustiça e inadimplência crescente.
No segundo cenário, há quem prefira se ausentar das decisões. Poucos participam, e a gestão acaba concentrada em um pequeno grupo. Quando a administração é boa, ótimo. Quando não é… o estrago aparece rápido: deterioração estrutural, problemas financeiros, desvalorização dos imóveis e quebra da harmonia entre vizinhos.
A data traz à tona que ser condômino é mais do que ter um imóvel. É compreender que o patrimônio coletivo influencia diretamente o valor individual. Quando o prédio não passa por manutenções, quando o fundo de reserva não é suficiente, quando ninguém quer aprovar o aumento da taxa para manter o básico funcionando — o resultado é a desvalorização do imóvel e a queda da qualidade de vida.
Um dia (e uma semana) para despertar o senso de pertencimento
O Dia e a Semana do Condômino são lembretes anuais de que condomínio é um organismo vivo, que depende do envolvimento de todos. Cada morador é uma peça essencial — seja para garantir que o elevador funcione, que a fachada continue bonita, que as contas fechem no azul ou que a convivência siga saudável.
Se cada condômino entender seu papel e participar ativamente da gestão, teremos condomínios mais bem cuidados, financeiramente equilibrados e valorizados — não só como patrimônio, mas como lar.
Que o Dia e a Semana do Condômino, criados no Paraná, sirvam de inspiração para o Brasil inteiro. Porque viver em condomínio é viver em comunidade — e isso exige mais do que pagar em dia: exige pertencimento, responsabilidade e visão coletiva.
Parabéns ao deputado estadual Cobra Repórter (PSD) pela sensibilidade em reconhecer a importância do condômino na sociedade. Mais do que uma homenagem, a criação dessa data representa um chamado à consciência coletiva — um lembrete de que cada morador tem papel fundamental na valorização do espaço onde vive e na construção de uma convivência mais justa e harmoniosa.
(*) Cleuzany Lott é advogada com especialização em Direito Condominial, MBA em Administração de Condomínios e Síndico Profissional, presidente da Comissão de Direito Condominial da 43ª Subseção da OAB-MG, Governador Valadares, e 3ª vice-presidente da Comissão de Direito Condominial de Minas Gerais, síndica, jornalista e palestrante.
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Comments 1
Artigo muito bem escrito e com conteúdo relevante. Eu sou síndica profissional e não sabia da existência deste dia do condômino. Obrigada, Cléo, por nos informar, alertar e fazer refletir.