Bão?
Neste mês de junho, comemoramos, no seu 5º dia, o Dia Mundial da Ecologia e do Meio Ambiente. No mês passado, vimos estarrecidos, a tragédia climática do Rio Grande do Sul. Em pouco mais de uma semana, mais de 400 municípios gaúchos tiveram bairros inteiros engolidos por uma chuva que não parava de cair. A maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul já deixou pelo menos 147 mortos e afetou mais de 2,1 milhões de pessoas.
Os gaúchos são celeiros de produção agropecuária; de grandes, médios, pequenos e micro produtores integrantes do Movimento dos Sem Terra. Apesar de climática, há quem diga que a tragédia recebeu influência humana. Cientistas afirmam que a perda de cobertura vegetal original pode ter contribuído para as dimensões das inundações que afetaram o estado, porque a vegetação nativa diminui a velocidade com a qual a enxurrada chega ao leito dos rios; aumenta a quantidade de água infiltrada no solo, o que diminui a quantidade de água disponível para inundações e protege o solo diminuindo a quantidade de sedimentos que assoreiam os rios da região.
Notadamente, sucessivos dias de chuvas intensas e constantes atingiram o Rio Grande do Sul, especialmente em suas regiões de planaltos e serras. Essas chuvas resultaram de um corredor de umidade que ficou estacionado por dias sobre o estado e impedido de avançar sobre o Brasil porque no restante do país predominava uma massa de ar quente e seca que funcionou como um bloqueio.
Esses eventos climáticos extremos são ainda considerados resultados de fatores naturais como a atuação do El Niño alterando o funcionamento dos sistemas atmosféricos como de fatores antrópicos, ou seja, as alterações que o homem tem realizado no meio ambiente através do desmatamento, queimadas, uso intenso de combustíveis fósseis, intensificação de áreas urbanizadas carregadas de asfaltos e concretos, agropecuária extensiva e com intenso uso de agroquímicos, produção energética não sustentável, dentre outros.
No entanto, existem estratégias urbanísticas para minimizar o impacto das enchentes. Um exemplo são as cidades-esponja, que reúnem projetos para distribuir e drenar a água, evitando que casas e ruas fiquem alagadas. Em outras palavras, as cidades passam por uma inundação um pouco mais segura.
A ideia consiste em incorporar infraestruturas verdes para ajudar na absorção da água, em vez de depender totalmente do sistema de escoamento da cidade. Ela foi proposta por cientistas e urbanistas chineses no início dos anos 2000 e hoje é aplicada em diversas cidades do país.
Há 9 anos, o Papa Francisco, através da sua encíclica histórica, Laudato Si, lançada em 24 de maio de 2015, deixou-nos 5 idéias para preservarmos nossa Casa Comum, a começar pela Ecologia Integral, que nos convida a nos reconhecer como parte de um ecossistema complexo, de questões sociais, econômicas e culturais; só assim, poderemos promover a justiça ambiental, a solidariedade e a sustentabilidade. A segunda ideia é que todos nós devemos cuidar do nosso planeta como nossa Casa Comum, com responsabilidade, buscando uma conversão ecológica, uma mudança de mentalidade e estilo de vida que leve a todos a uma vida mais equilibrada e sustentável.
A terceira ideia que encontramos na sua Encíclica Laudato Si é a importância da justiça e da solidariedade na proteção do meio ambiente. Nela, o Santo Padre enfatiza que os mais afetados pela crise ambiental são os mais pobres e vulneráveis, que têm menos recursos para se adaptar e enfrentar os impactos das mudanças climáticas. Ele clama por uma justiça socioambiental que leve em consideração as necessidades das gerações presentes e futuras, assim como dos ecossistemas e das espécies que compartilham o planeta conosco.
A sua quarta ideia é a importância do diálogo e da colaboração, visto que a proteção do meio ambiente é um desafio que requer a participação de governos, organizações não governamentais, comunidades locais, cientistas, empresários e pessoas de diferentes religiões e culturas. Na esteira, vem a educação e a espiritualidade na abordagem da crise ambiental. Francisco destaca que é fundamental educar as pessoas, especialmente as gerações mais jovens, sobre a importância da conservação do meio ambiente e sobre a necessidade de adotar estilos de vida sustentáveis. Ele enfatiza que a natureza é um dom de Deus e que todos devem ter uma postura de gratidão e respeito em relação a ela. Assim, o Papa incentiva uma espiritualidade que valorize a criação de Deus e que motive a cuidar do meio ambiente como um ato de amor e reverência.
O Dia Mundial do Meio Ambiente lembra da urgência de ações em prol da sustentabilidade e preservação do planeta. Que Deus nos ajude a seguir os ensinamentos do Papa Francisco e buscar uma ecologia integral, onde a justiça, a solidariedade, o diálogo, a colaboração, a educação e a espiritualidade sejam os pilares para a (re)construção de um mundo mais harmonioso e sustentável para as presentes e futuras gerações.
Alegremos a Deus com nossas vidas!
(*) Aluízio Henrique da Costa Franklin é professor e Diácono Permanente. Tivemos a colaboração da professora Daniela Martins, do Instituto Federal de Minas Gerais, campus de Governador Valadares/MG.
Fontes acessadas em 15.06.2024:
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cd1qwpg3z77o.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cjmkkxzv2k2o.
https://super.abril.com.br/ciencia/o-que-sao-as-cidades-esponja-estrategia-usada-na-china-para-combater-enchentes .
https://novoportal.rccbrasil.org.br/blog/5-ensinamentos-do-papa-francisco-sobre-o-meio-ambiente.
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