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Condomínio: A desvalorização começa na falta de participação

FOTO: Cleuzany Lott

A realização do sonho da casa própria é um marco na vida de muitas famílias brasileiras. No entanto, uma vez adquirido o imóvel, muitos proprietários de condomínios deixa de lado a gestão do espaço que tanto lutaram para conquistar.

A falta de participação nas assembleias e o desinteresse pela administração do empreendimento têm consequências diretas, como a dificuldade de alcançar quórum suficiente para aprovar melhorias, o que, em longo prazo, pode levar à desvalorização do imóvel – muitas vezes o único patrimônio dessas famílias.

Durante uma recente imersão condominial em Campinas, fiquei impressionada ao presenciar o que pode acontecer quando a mentalidade dos moradores muda.

Nas habitações populares, onde os recursos financeiros são limitados e os imóveis são mais simples, o  esforço coletivo transformou vidas. Por exemplo, condomínios que inicialmente não contavam com projetos de jardinagem ou arquitetura, foram revitalizados por seus próprios moradores.

O resultado foi surpreendente: espaços confortáveis e agradáveis, onde a qualidade de vida se sobressaiu ao luxo. Isso prova que a verdadeira riqueza pode estar na mentalidade das pessoas, e não no tamanho da conta bancária.

FOTO: Cleuzany Lott

O segredo da  Transformação

O sentimento gratidão e orgulho de ter saído do aluguel e realizar o sonho de ter o próprio imóvel fez toda a diferença naquelas comunidades.

Pessoas que, de início, não tinham recursos para grandes investimentos, uniram esforços, participaram ativamente das decisões junto aos síndicos  e valorizaram o espaço onde vivem.

Essa atitude contrasta fortemente com a realidade de muitos outros condomínios, onde o desinteresse dos moradores impede o avanço de projetos importantes.

Nos locais onde os condôminos não se envolvem, deixam toda a responsabilidade nas mãos do síndico, colaboram com uma gestão negligente em relação ao patrimônio comum. Muitas vezes essa indiferença também  leva à deterioração do prédio e à perda de valor dos imóveis ou ainda dá margem para a atuação de síndicos desonestos. 

 Afinal, morar em um condomínio é muito mais do que simplesmente pagar as taxas mensais e confiar no síndico para resolver todos os problemas. A responsabilidade deve ser compartilhada, e cada morador é peça fundamental na construção de um ambiente harmonioso e valorizado.

Quem comprou deve valorizar essa conquista!

O mercado imobiliário brasileiro enfrenta desafios significativos, especialmente no que diz respeito ao déficit habitacional. Dados da Fundação João Pinheiro mostram que, em 2022, o Brasil tinha um déficit de 6,2 milhões de moradias, o que corresponde a 8,3% dos domicílios ocupados. Esse déficit é particularmente acentuado em regiões como o Sudeste e o Nordeste, sendo São Paulo e Minas Gerais os estados mais afetados.

Além disso, as recentes mudanças nas regras de financiamento da Caixa Econômica Federal – responsável por 70% dos financiamentos imobiliários no país – agravam a situação. A partir de amanhã (21 de outubro)  o valor de entrada para novos financiamentos será aumentado para 30% ou até 50%, dependendo do tipo de financiamento. Essas mudanças podem dificultar ainda mais o acesso à casa própria, especialmente para famílias de baixa renda.

Geração Z e a esperança de mudança

Apesar dos desafios, há sinais promissores de uma mudança de mentalidade, especialmente entre os jovens. Dados divulgados pela Caixa Econômica e pelo Ministério das Cidades indicam que a Geração Z, composta por brasileiros com idades entre 18 e 30 anos, tem demonstrado grande interesse na aquisição de imóveis.

Entre 2021 e 2024, 51% dos contratos do programa Minha Casa, Minha Vida foram assinados por jovens dessa faixa etária, totalizando 782 mil contratos e um investimento de R$ 123 bilhões.

Essa perspectiva desafia a noção de que os jovens não têm interesse em imóveis e revela que essa nova geração pode ser fundamental para uma transformação no comportamento dos condomínios.

A  geração Z parece estar mais conectada com a ideia de participação ativa, seja na vida comunitária, nas decisões de compra ou na gestão do ambiente em que vivem.

Essa nova mentalidade, alinhada com o desejo de adquirir imóveis, pode ser uma luz no fim do túnel para a cultura condominial. Afinal, quando os moradores entendem a importância de participar da gestão e da valorização do seu condomínio, os benefícios são sentidos por todos – tanto no dia a dia quanto na valorização patrimonial.

A participação faz toda diferença

A experiência em Campinas confirmou o que tenho tentado mostrar no meu podcast  Condominicando:  a transformação de um condomínio não está necessariamente ligada a grandes investimentos, mas sim à mentalidade e ao esforço coletivo dos moradores.

A geração Z está mostrando que é possível ter um novo olhar sobre a propriedade e a convivência em comunidade. O desafio, agora, é levar essa mudança de mentalidade a todos os condomínios, especialmente aqueles onde a desvalorização do imóvel acontece por falta de envolvimento dos próprios proprietários.

Afinal, o patrimônio que eles lutaram para conquistar merece ser valorizado – e isso começa com cada um fazendo sua parte.


(*) Cleuzany Lott é advogada especialista em direito condominial, cursando MBA Administração de Condomínios e Síndicos com Ênfase em Direito Condominial (Conasi), síndica, jornalista, Diretora Nacional de Comunicação da Associação Nacional da Advocacia Condominial (ANACON), diretora da Associação de Síndicos, Síndicos Profissionais e Afins do Leste de Minas Gerais (ASALM),  coautora do livro e-book: “Experiências Práticas Conflitos Condominiais”, produtora de conteúdos e apresentadora do podcast  Condominicando.

Comments 33

  1. KATIA R FERNANDES says:

    Muito bom documentário, serve para abrir os olhos dos condôminos arcaicos. E os façam abrir os olhos para o residencial onde residem e se tornem participativo nas convocações do condomínio

    • Cleuzany Lott says:

      A proposta é exatamente essa, Kátia Fernandes. Muito obrigada pela participação.Abraços.

    • Cleuzany Lott says:

      A proposta é exatamente essa, Kátia Fernandes. Muito obrigada pela participação. Abraços.

  2. Claudia Salomao says:

    Competência e experiência Dr Cleuzany Loot

    • Cleuzany Lott says:

      Bondade sua, Cláudia Salomão. Muito obrigada pela participação. Abraços.

  3. Luiz Antonio Tonello says:

    Perfeito….todos querem melhorias, mas sem gastos e sem afetar seu dia a dia. Responsabilidades que acham ser do síndico e quando o síndico faz algo em benefício do conjunto expulsam-no porque mexeu com o ego de alguns moradores que se acham melhores que os demais

    • Cleuzany Lott says:

      Luiz Antônio, esse é um problema comum que desafia e desanima muitos síndicos. Espero que as informações transformem esse cenário. Obrigada pela participação. Abraços.

    • Cleuzany Lott says:

      Luiz Antônio, esse é um problema que desafia e desanima muitos síndicos. Espero que as informações transformem esse cenário. Obrigada pela participação. Abraços.

  4. Creio que grande parte deste desinteresse está, exatamente, no alto poder aquisitivo de alguns. Sou proprietário de 2 garagens em um prédio comercial de Campinas, S José SC, e que dividem todas as despesas do prédio. No início participava das assembléias, até o dia que me dei conta de que tinha 2 ou 3 proprietários que tinham 40 salas e eram eles que decidiam tudo. Parei de ir.

    • Cleuzany Lott says:

      Roberto, infelizmente isso é verdade, especialmente nos condomínios comerciais. Os votos são na proporção das frações ideais. Obrigada pela participação. Abraços.

  5. Alcimar Luiz Bortolotti de Almeida says:

    Excelente artigo. Além de rico em conteúdo, traz exemplos a mao serem seguidos e outros a serem abraçados.
    Parabéns à autora!

    • Cleuzany Lott says:

      Muito obrigada pela generosidade, Alcimar. Obrigada pela participação. Abraços.

  6. AZRA GVOZDAR says:

    Olá, Cleuzany
    Gostei muito das suas considerações sobre o Imersão Condominial de Campinas, que também estive presente.
    É preciso relembrar a importância da participação dos condôminos nas decisões dos seus interesses! Só assim será possível sair do comodismo de que ” o síndico resolve!
    É preciso mais conscientização e mais participação!

    Chegaremos neste patamar,
    .
    AZRA
    SíndicaNatu

    • Cleuzany Lott says:

      Ei, colega Azra. Realmente foi incrível. Saímos bem mais qualificadas do que entramos. Vale destacar o brilhantismo da síndica Kelen Lazarin, criadora, mentora e realizadora da Imersão. A contribuição dela para o segmento condominial é extraordinário. Vamos nos conhecer pessoalmente na próxima Imersão. Obrigada pela participação. Abraços.

  7. Aparecido Santi says:

    Excelente matéria.
    Como sindico de um edifício residencial, realmente a falta de participação mais ativas dos condomínios em Assembleia é real, ficando difícil e inviável investir em melhorias importantes e necessárias no prédio.

    • Cleuzany Lott says:

      Aparecido, vamos mudar esse cenário juntos, com muita informação e persistência. Você já é diferenciado por se manter bem informado. Obrigada pela participação. Abraços.

  8. José Maria da Costa Pereira says:

    Muito promissora a matéria em foco. Isso nos trás ênfase à mudança de pensar coletivamente na comunidade.

    • Cleuzany Lott says:

      José Maria, é um trabalho de formiguinha…mas com informações e persistência nós mudaremos esse cenário. Obrigada pela participação. Forte abraço.

  9. EDEZIO FIGUEIREDO says:

    Excelente matéria. Tenho conversado com inúmeros condôminos, onde moro, procurando incentivá-los a participarem das reuniões, pois juntos podemos construir mais e melhor em prol de todos.

    • Cleuzany Lott says:

      Edezio, parabéns pela iniciativa. Precisamos de mais pessoas como você. Obrigada pela participação. Abraços.

  10. João Ramalho /Conchas-SP says:

    como faço para marcar consulta com a
    Dra. ou equipe , tenho problemas com a administração autoritária do condomínio.

    • Cleuzany Lott says:

      João Ramalho, ficarei feliz em poder ajudá-los. Meu instagram é cleuzanylott e condominicando. Me chame e continuamos a conversa por lá. Obrigada pela participação. Abraços.

  11. Bonita Marie Ford says:

    Achei muito bom saber que é responsibility de todas
    Cuidar do condomínio. E injusta jogar toda responsabilidade no síndico , tem que participar .

    • Cleuzany Lott says:

      Sim, Bonita Marie a responsabilidade é de todos, porém, muitos se acomodam e deixam apenas para o síndico. Porém, sejamos justos, tem síndicos que sem perceber, contribuem para que haja esse afastamento. A informação é essencial para ampliar as mentes e mudar esse cenário. Obrigada pela participação. Abraços.

  12. A união dos condôminos e a criatividade para gerar RECEITAS EXTRAORDINÁRIAS pode melhorar muito a qualidade de vida dos moradores e a valorização dos condomínios…

    TENHO FORMAS SIMPLES PRA GERAR RECEITA EXTRAORDINÁRIAS PARA CONDOMÍNIOS e CONDÔMINOS.

    SOLICITEM INFORMAÇÕES:

    Antonio CRUZ – 91 98486-4409.
    luzpormenos@gmail.com.

    • Cleuzany Lott says:

      Obrigada pela participação, Antônio da Cruz. A sua intenção em colaborar é bem-vinda. Para publicidade, gentileza entrar em contato com a setor comercial do jornal. Abraços.

  13. Excelente pensamento!!!! Compartilho com a Dra.

    • Cleuzany Lott says:

      Que bom, Edneia. Vamos juntas contribuindo para transformar os condomínios nos melhores lugares de viver e investir. Obrigada pela participação. Abraços.

  14. Teresinha says:

    Gostei de.ais das cpnsiderações!!!!

  15. Cleuzany Lott says:

    Fico feliz, Teresinha. Conto com a sua participação e sugestões para os próximos artigos. Obrigada pela participação. Abraços.

  16. Carlos Pires says:

    A verdade é que muitos vê as reformas para modernização de ambientes como gastos e não como investimento.
    Esta matéria mostra a importância de um fundo de reserva bem investido com honestidade.

    • Cleuzany Lott says:

      Olá Carlos, infelizmente é assim. Minha esperança está na informação para mudar esse cenário. Quando as pessoas entendem a necessidade, tendem a ser mais conscientes. Obrigada pela participação. Um abraço.

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