As instituições em geral constroem e guardam suas histórias. Pitorescas, dramáticas, gratificantes, ricas ou pobres em detalhes. Certamente, muitos ignorados, desconhecidos ou que foram levados pelo vento. Quando possível, sendo conhecedor, gratificante registrá-los. “Recordar é viver”, expressão do inesquecível poeta maior Tião Carioca Nunes.
Para os detalhistas e ávidos no registro e anotações de conquistas futebolísticas, o período de ouro do Coopevale Futebol Clube tem início no limiar de 1976, quando Serafim ‘eterno” leiteiro, Anísio Costa e Adonis Lara Santos recepcionam a “arca” conduzindo agrupamento de pessoas oriundas do Democrata Pantera, dele constando atletas, ex-dirigentes, funcionários, simpatizantes, corneteiros e tudo mais.
Em fevereiro de 1976, no campo da Liga, devidamente alugado com contrato bem redigido, o clube leiteiro dava início à escrita de ricas páginas de sua história, passando a realizar dois treinos semanais com direito de utilizar o campo de jogo aos domingos, alternando um domingo pela manhã, domingo seguinte à tarde.
Sem estádio ou campo próprio, sem sede, sem acomodações, os documentos eram ‘guardados’ nas casas de seus dirigentes (bons tempos), porém, o material esportivo… aqui efetivamente o sentido deste papo e registro.
No Tiro de Guerra aprendemos muitas coisas, inclusive disciplina, justiça e sinais de respeito. Aprendemos ainda sobre hierarquia, a militar em especial. Soldado, cabo, 3º, 2º e 1º sargentos, aspirante a oficial, 2º e 1º tenentes, major, tenente, coronel, etc…acho que é isso mesmo…
Em clubes, o Coopevale Futebol Clube não era (e continua não sendo) diferente. Há hierarquia a ser respeitada. Para a turma de baixo, sobravam as funções mais desgastantes. Alô senhor Nilton, Chicão, Lourival, senhor Arlindo, Amaral fotógrafo, Bramusse, Zé Moura ‘in memoriam’, Zezinho ‘in memoriam’, Zé Osvaldo ‘in memoriam’ e tantos outros. Aqui, o expoente maior respondia pela alcunha de “PEDRÃO”, cujo nome recebido na pia batismal foi Pedro Ferreira Batista.
Morador em barracão simples na rua Treze de Maio, em frente à então Cooperativa do Leite (hoje em novo endereço), nas funções de roupeiro do Coopevale, PEDRÃO armazenava em sua casa todo o material esportivo , sendo certo que sua esposa, conhecida como “Fia”, era quem funcionava como lavadeira. Moradia muito frequentada, dentre outros, pelos boleiros Húdson, Bida, Bolivar, Coimbra e um mundão de gente boa.
Por ocasião dos treinamentos semanais, transportava, em bicicleta, todo o material necessário, no que contava com a ajuda de Serafim e sua Kombi. Aos domingos, por ocasião dos jogos, a toada se repetia.
Na arca vinda do Democrata Pantera e que tinha de tudo, veio o consagrado Gerilo Nunes – o Birila, roupeiro com experiência profissional e que pacientemente deu todo tipo de aula ao Pedrão (algumas que não podem ser divulgadas), fazendo dele um extraordinário roupeiro. BIRILA, agora, tornava-se treinador do “expressinho” do Coope. Uma longa e pitoresca história que fica para outra oportunidade.
Registram lenda, folclore, narrativas e travessuras pitorescas de nosso PEDRÃO, quando no desempenho do mister de roupeiro. Por ocasião dos treinamentos coletivos, em dias úteis da semana, às vezes não havia número necessário de atletas para a composição de duas equipes. Pretendentes os mais variados, quase sempre desprovidos de qualidades mínimas para a prática do esporte das multidões, apresentavam-se e eram aproveitados.
Todos eles recebiam o batismo do Pedrão com denominações pitorescas tais como: “Pé Mole”, “Teimoso”, “Curioso”, “Cospe Verde” e outros do gênero. Comentários também fazia, tais como: “não leva jeito…”, “não é do ramo”, “é teimoso”, e assim por diante. Não menos curiosos eram os comentários que fazia a respeito das longas preleções do professor Jaime dos Santos, treinador principal, e do Birila, treinador do expressinho. O pior é que tinha o aval do José MOACIR Trindade, que, com ‘cara de santo’, botava lenha na fogueira. Recordar é viver, repita-se.
Como cabia ao roupeiro tudo fazer, as antigas chuteiras ainda portavam pregos quando de suas confecções e de vez em quando nosso Pedrão deixava algum deles com os “dentes de fora”. Alguns dos curiosos recebiam chuteiras com tais particularidades. Em outras oportunidades, ao indagar ao pseudoatleta o número de seu calçado, fornecia-lhe instrumento para o trabalho com numeração bem maior. Não tem 39, leva esta 43… Coisas do Pedrão. Coisas da história do Coopevale.
Pedrão não está mais entre nós faz tempo. Ainda vive na memória dos seus e de todos aqueles que escreveram ricas páginas do time que encantou por algumas décadas o valadarense, sendo seu torcedor ou não.
(*) – Ex-atleta
N.B.1- A covid-19 nos levou o médico doutor Marcílio Alves. Profissional exemplar. Alegre, prestativo e comprometido. Deixa saudades e exemplo a ser seguido. Quando, de cima para baixo, ocorrerá procedimento austero visando o combate à pandemia, ocasionando a diminuição de tantas mortes?