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As ruas se calaram, mas a corrupção não!

por Walber Gonçalves (*)

Em vários finais de semana consecutivos a cena se repetia por vários locais do Brasil. Multidões saíam pelas ruas gritando e manifestando seu repúdio contra a maldita corrupção, que naquele momento assolava nosso país.

O mensalão, o assalto aos cofres da Petrobrás, obras superfaturadas na construção de estádios para copa e olimpíadas e tantas outras formas de corrupção apareciam diariamente, o que se refletiu pelas centenas de ruas lotadas de pessoas aos gritos contra a corrupção e a favor das operações de combate à ela, formando uma espécie de mantra coletivo.

Propostas sugiram, entre elas o Projeto Ficha Limpa, a prisão em 2ª instância, o endurecimento de penas, o Projeto Anticrime, entre outros; mas como vivemos em um país que transpira corrupção, todas elas foram perdendo seus firmes propostos e acabaram engavetadas ou tão modificadas que perderam sua verdadeira eficácia: o combate ao crime e à corrupção.

Mas em meio a tudo isso um outro fenômeno também aconteceu, as ruas se calaram dando a impressão que os nossos problemas foram resolvidos, que a corrupção foi extirpada do cenário político e social do nosso imenso país.

A sensação que se tem é que não nos demos conta que aos poucos o combate à corrupção foi perdendo força, haja visto o desmantelamento da Operação Lava-jato. Nota-se que cargos importantes da República estão sendo ocupados por pessoas que não demonstram ter por objetivo o combate aos desmandos políticos que permitem a corrupção. E que em meio ao laranjal, as rachadinhas, a máfia dos fiscais, aos escândalos dos fundos de pensão, ao superfaturamento de obras, livros, merenda e materiais, principalmente por causa do coronavírus, e centenas de outros exemplos que continuam surgindo todos os dias, mostrando que a corrupção continua presente, ativa como sempre, mantendo seu modus operandi, seja qual for o partido e localidade. A única diferença parece estar no protagonismo de novos atores, mas que já são contumazes e experientes na arte de subtrair as cosias públicas em benefício próprio.

Enquanto isso as ruas se calaram, os bravios lutadores contra a corrupção já não são tão bravos assim, acalmaram-se, dando a impressão que agora as coisas estão no eixo e funcionando como deveria. Aquela velha história de político de estimação parece não estar funcionando muito bem. Defender o indefensável ainda é a regra, seja de qual grupo for.

Nossa bipolaridade política parece estar nos cegando, entre protegidos e perseguidos, salva-se a corrupção, que só se torna mal vista quando é praticada pelo grupo adversário e que sempre vem acompanhada das mesmas desculpas: perseguição política; eu não sabia de nada; estão tentando minar meu mandato, entre outras, cada uma mais esfarrapada que a outra.

 O gigante parece que adormeceu novamente, infelizmente!


(*) Walber Gonçalves de Souza é professor e escritor.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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