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Amnésia

FOTO: Freepik

Fim de ano chegando, muitos eventos, comemorações, e, às vezes, muitos “micos”. Tenho conhecidos que já passaram por situações que, se não fossem constrangedoras, seriam cômicas. Detalhe: o “mico das festas de fim de ano” é sempre pior para os que trabalham em organizações conservadoras, principalmente, públicas. Recentemente, uma VÍTIMA desses “micos” narrou com pinceladas de ficção um acontecido. Aqui a palavra VÍTIMA é substituta do nome de uma pessoa.

A VÍTIMA e alguns colegas da empresa em que trabalhavam chegaram às 19h30 à comemoração de fim de ano, quando a “galera” já estava se divertindo desde as 18h. Deviam ser umas 20 pessoas, e pelo menos cinco belas estagiárias, com lindos vestidos e decotes pra tudo quanto é lado. Diz que o diretor geral (DG) da empresa usava óculos escuros e tinha cara de padre, e quando falava no meio de todos, parecia estar no paraíso.

Para os mais íntimos, o DG se dizia charmoso e que a mulherada o adorava. Até aquele momento estava só com os colegas de trabalho, quando todos se sentaram ao redor de uma grande mesa, vivenciavam por enquanto a fase da desinibição. Em seguida, muita cerveja pra todo mundo, muito uísque, “caipivodka”, carne assada e, como não poderia deixar de faltar, doces. A VÍTIMA decidiu falar somente o essencial, principalmente, com o DG. Disse depois dos embalos e do “mico” que sua mente advertia a si mesmo: “bebe pouco e cuidado com o que fala”. Só que, com a chegada das bebidas esse pensamento ficou cada vez mais distante.

Ali pelas 21h, não sabe, chegou uma funcionária “daquelas”, que se sentou próximo ao grupo, virou de uma vez uma caneca espumada, olhou para o grupo e falou: “Depois de um dia de trabalho como o que tive hoje, só com muita preliminar pra rolar alguma coisa!” Ohhhhh!!! Nossa!!! Porque ela foi falar aquilo logo ali? O DG virou para o lado e engatou uma conversa com outra pessoa; fingiu que não viu nem ouviu.

“Daquelas” é um caso à parte. Basta tomar dois dedos de cerveja para entrar em transe, parece viver nos anos 60, no modo paz e amor, entende?

Como continuou bebendo, desenvolvia um discurso que ninguém entendia. Olhava para todos e dizia que o mundo tinha solução, que o ser humano era naturalmente voltado para o diálogo e compreensão. Obviamente que, embora todos estivessem bem ao lado da “funcionária da preliminar”, não se ouviu nada; “rolava” somente fantasias… kkkkkk. A VÍTIMA se misturou com tanta rapidez com mais caipivodka e chope, que escorreu pelos cantos da boca, nariz e queixo – a impressão era a de que a boca pingava.

Dia seguinte, a VÍTIMA acordou mais tarde, apenas com uma leve lembrança sobre a noite anterior, com muito esforço, e, aos poucos, outras iam surgindo. Não conseguia lembrar o que aconteceu depois que virou a caneca que escorreu bebida pela cara. Tentou, tentou e não se lembrou. Como chegou em casa? Quem dirigiu? Falou besteira? E agora?! 

Tem gente que diz não gostar de beber nessas ocasiões porque pode dar B.O. E o pior é perguntar para os outros se aconteceu coisa feia, se fez algo que envergonhasse. E muitas vezes como resposta tem-se: “Você estava feliz, foi autêntico, natural, verdadeiro, esteve ótimo!” Ou seja, quanto maior o vexame, maiores são os elogios. Atitude bizarra.

A VÍTIMA não queria encontrar o DG, nem a “preliminar” e nem outras pessoas; nem perguntar se alguém agiu pior. Não saiu de sua sala. Inevitável, pouco tempo depois deu de cara com o DG, que lhe acenou com um sorriso largo no rosto, parecia realmente feliz, correspondido prontamente com um aceno. O que teria ocorrido naquela confraternização? Não temos a menor ideia. Pode ter ocorrido amnésia coletiva, que se repetirá nos próximos anos, em outros grupos. Simples assim!


(*) Crisolino Filho, é escritor, advogado e bibliotecário
E-mail: crisffiadv@gmail.com – Whatsapp: (33) 98807-1877
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