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Alerta aos detalhes: família pode arcar com custos após morte em elevador de condomínio

FOTOS: Cleuzany Lott

Pode parecer inaceitável, mas é real: a família de uma empregada doméstica foi condenada a pagar cerca de R$ 30 mil em custas processuais, após perder em primeira instância uma ação contra um condomínio e uma empresa de manutenção. Sandra Maria da Silva, de 53 anos, caiu no poço de um elevador em um edifício do Recife. Mesmo havendo laudos apontando falhas mecânicas, a Justiça entendeu que o acidente se deu por suposto “descuido” — ela teria entrado no elevador sem verificar se ele estava no andar.

Independentemente do impacto social da decisão, que ainda será analisada em instância superior, o episódio chama atenção para algo negligenciado: os detalhes.

Na discussão judicial, o foco se afastou do defeito do equipamento e se concentrou em um possível momento de distração — uma distração que todos enfrentamos na correria diária, e que reforça a necessidade de prevenção ativa.

Pesquisas mostram que este tipo de distração não é trivial. No trânsito, por exemplo, o uso do celular pode multiplicar em até 400 % o risco de acidentes — um comportamento que, embora diferente, reflete a mesma vulnerabilidade que temos ao ignorar sinais, semáforos ou avisos básicos no ambiente ao redor.

Esse paralelo ilustra bem o quanto nos tornamos suscetíveis ao “piloto automático” — o olhar preso à tela, o gesto dispensado, a atenção dispersa.

No caso de Sandra, que trabalhava há 15 anos no edifício Portal da Jaqueira, no Parnamirim, o acidente ocorreu em julho de 2022: ela acionou o elevador para buscar uma sacola no carro do patrão. Ao abrir a porta, acreditou estar entrando na cabine — mas esta não estava ali. O vazio a fez despencar quatro metros. Três anos depois, a sentença considerou que foi um descuido — não uma falha técnica —, e a família recorreu.

Esse tipo de tragédia evidencia que a prevenção é uma via de mão dupla. Do lado da gestão condominial, cabe ao síndico garantir manutenção rigorosa, exigir relatórios técnicos, documentar contratos e revisões e manter placas de alerta visíveis — como “Antes de entrar, verifique se o elevador está neste andar” — para minimizar riscos e demonstrar diligência em processos judiciais.

FOTOS: Cleuzany Lott

Do lado dos usuários, o gesto pode parecer simples — e talvez automático demais para ser considerado vital: verificar se a cabine chegou antes de entrar. Mas, no contexto de rotinas aceleradas e dispositivos que capturam nossa atenção, esse gesto é o que pode salvar vidas.

Independentemente de o tribunal reformar ou manter a sentença, o que permanece é a perda de uma vida. Para o condomínio, o caso será sempre lembrado como tragédia; para a família, a dor da ausência será eterna.

O episódio de Sandra não é apenas uma disputa judicial. É um alerta coletivo: a pressa e a distração podem custar mais que processos — podem custar o que não tem preço.

(*) Cleuzany Lott é síndica, palestrante, jornalista, e advogada com especialização em Direito Condominial, MBA em Administração de Condomínios  e Síndico Profissional. Atua como consultora para síndicos, administradoras, construtoras e incorporadoras em todo o país.

Comments 2

  1. As imagens ilustrativas usadas na matéria não condizem com o tipo de porta envolvido no acidente. A foto do seu artigo mostra uma porta automática, que só pode ser aberta com chave especial. Já no caso em questão, tratava-se de uma porta de eixo vertical (manual, como as de residências), modelo proibido desde 1999 pelas normas técnicas brasileiras.

    Quantos condomínios ainda mantêm esse tipo de porta ultrapassada? Além de proibidas, essas portas antigas já foram alvo de diversos recalls. Falo com propriedade: sou engenheiro mecânico, perito na área de elevadores há 15 anos e membro do Comitê Nacional da ABNT, onde participo da elaboração de normas do setor.

    Esse caso foi o mais bizarro que já presenciei em minha vida profissional. O processo contou com um laudo pericial extremamente frágil, que desconsiderou princípios básicos de segurança e normativas. Estou em contato com a família para oferecer meus serviços de forma gratuita, pois é inadmissível aceitar a ideia de que foi “descuido” e se fosse uma criança? Responsabilidade é do pai?

    Em portas automáticas, como as da foto que postou, o aviso “verifique se o elevador está neste andar” se refere apenas a situações de desnível (quando a cabina não para nivelada com o piso), e não à possibilidade de a porta abrir sem cabina, o que simplesmente não deve acontecer.

    Convido todos a me acompanharem nas redes sociais, onde compartilho análises e conteúdos técnicos sobre segurança em elevadores: @eng.ceduardo.

  2. Cleuzany Lott says:

    Agradeço pela sua contribuição. Devido à minha falta de conhecimento técnico, não consigo debater sobre o modelo do elevador mencionado no artigo. Como síndica, posso afirmar que muitos condomínios optam por manter portas antiquadas devido a questões financeiras. O investimento necessário é elevado e, se o elevador estiver funcionando corretamente, é difícil que o síndico consiga aprovar um valor para a substituição em assembleia. Vou te seguir nas redes sociais para aprender mais sobre o assunto. Agradeço pelas observações.

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