Caros leitores, em cada esquina de Governador Valadares, há uma história querendo ser contada. Um artista de rua, um grupo de teatro em um galpão improvisado, uma roda de samba debaixo da ponte, um sarau em um quintal qualquer. A cidade pulsa cultura. Mas ela pulsa quase sempre na resistência. É curioso e sintomático que, em uma cidade com tanta vocação criativa, a cultura ainda seja tratada como um apêndice, uma decoração de evento político, um gasto dispensável nos orçamentos públicos. O que falta entender é que cultura não é enfeite, é infraestrutura humana. Onde há cultura, há vida comunitária, senso de pertencimento e geração de renda.
Valadares não precisa inventar nada. A arte já está aqui. Temos músicos, atores, grafiteiros, poetas, artesãos, cineastas, contadores de histórias. Temos a criatividade de bairros periféricos que sobrevivem sem palco, sem luz e sem patrocínio. O que falta é apoio real, estrutura mínima e políticas públicas que compreendam a cultura como estratégia e não como caridade. Imagine uma cidade que transforma seus galpões abandonados em centros culturais autônomos. Que estimula a ocupação criativa de praças e espaços públicos. Que valoriza os mestres da cultura popular, as bandas de garagem, os grupos de dança e capoeira. Que faz da arte uma política de prevenção à violência, de inclusão social, de educação cidadã. Enquanto isso não acontece, seguimos vendo nossos talentos irem embora porque aqui falta espaço, falta incentivo, falta visibilidade. A juventude criativa de Valadares tem duas opções: resistir ou partir. E muitos já partiram.
Mas os que ficam resistem com beleza. E é essa beleza que precisa ser enxergada como força transformadora. Cultura gera emprego, movimenta a economia criativa, ativa o turismo, fortalece identidades locais. Cidades que investem em cultura são cidades que respiram melhor. Não se constrói uma cidade mais justa sem cultura. Não se combate a intolerância sem arte. Não se formam cidadãos críticos apenas com muros escolares. É na vivência artística que muita gente encontra sua voz, seu grupo, seu sentido. Governador Valadares precisa virar essa chave. Chega de enxergar cultura como “evento”. Precisamos de uma política cultural permanente, democrática, descentralizada. Que olhe para os bairros e não apenas para os auditórios centrais. Que compreenda que arte não é favor: é direito. A cultura não quer piedade. Ela quer investimento, respeito e espaço. Porque ela já provou que sobrevive sozinha. Mas, com apoio, ela pode muito mais. Pode transformar vidas e, com elas, transformar Valadares.
(*) Thales Aguiar – Jornalista e escritor | Especialista em Ciência Política
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