A leishmaniose canina, também conhecida como calazar, é uma doença causada por um protozoário do gênero Leishmania, que pode ser transmitida para seres humanos. Existem dois tipos de leishmaniose: a cutânea e a visceral. Quando falamos em cães, a mais comum é a visceral. A doença é silenciosa no início, podendo evoluir para quadros graves atingindo órgãos importantes, como fígado e medula óssea.
A transmissão da leishmaniose ocorre através da picada da fêmea do mosquito-palha, cujo nome científico é Lutzomyia longipalpis. Para haver a transmissão da doença o mosquito precisa picar um indivíduo infectado, ingerindo a forma amastigota da Leishmania, e picar um novo indivíduo não infectado, transmitindo assim a forma infectante da Leishmania, provocando a doença.
Nem todos os cães com leishmaniose vão apresentar sintomas. Estudos mostram que cerca de 60% dos cachorros contaminados são assintomáticos. Os sintomas, quando presentes, variam de acordo com o órgão atingido, sendo os mais comuns: emagrecimento, lesões na pele (principalmente na face e nas orelhas), crescimento exacerbado das unhas, perda de apetite e febre. Se o cão tiver algum desses sintomas, o recomendado é levá-lo ao veterinário o mais rápido possível.
Para saber se o cachorro foi infectado são realizados exames de sangue de sorologia. Como não há nenhum método diagnóstico considerado 100% sensível e específico, cada um deles apresenta vantagens e desvantagens, sendo indicado a combinação mais de um exame.
A realização de medidas integradas como o diagnóstico precoce e tratamento adequado dos casos humanos, o controle do reservatório canino e do vetor, são importantes para a prevenção da doença. As medidas mais utilizadas para prevenir a doença são:
– Controlar os vetores (mosquito-palha) por meio da limpeza de quintais e terrenos, recolhendo folhas e galhos.
– Podar árvores, aumentando a insolação e evitando assim o sombreamento do terreno para não propiciar condições favoráveis à multiplicação do mosquito-palha.
– Descartar adequadamente o lixo orgânico para que animais hospedeiros do parasita, como ratos e gambás, não se aproximem das casas.
– Utilizar medidas de proteção individual, como o uso de repelentes, especialmente no final da tarde e à noite, telas nas janelas e portas e mosquiteiros.
– Realizar limpeza periódica dos abrigos de animais domésticos.
– Evitar construir as casas muito próximas às matas, respeitando uma distância de 400 a 500 metros.
– Promover ações de educação em saúde com a sociedade.
A partir do momento que o cão é confirmado positivo para leishmaniose visceral, o tutor deverá iniciar o tratamento imediato e utilizar coleira repelente à base de deltametrina, para evitar que o mosquito sugue o sangue do cão e transmita a doença para os humanos ou outros animais. O único medicamento autorizado pelo Ministério da Agricultura para o tratamento da leishmaniose visceral canina é o Milteforan e deve ter acompanhamento do médico veterinário.
A doença não tem cura, necessitando de acompanhamento veterinário o resto da vida do cão. O animal não tratado é um risco não apenas para os outros animais da casa, mas principalmente para quem mora na residência e também para os vizinhos, por isso muitos tutores optam pela realização da eutanásia.
A leishmaniose visceral canina representa um grave problema de saúde pública no Estado de Minas Gerais, e no município de Governador Valadares. Para a redução do número de casos é fundamental o poder público adotar medidas de controle do vetor, e cabe à sociedade entender o ciclo da doença, eliminado em suas residências possíveis focos que possam favorecer a proliferação do vetor, além de ter a posse responsável dos cães.
(*) Professora do curso de Medicina Veterinária e gestora do Centro Médico Veterinário da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE
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