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Professor da Univale apresenta tese de doutorado sobre trajetória de chineses em Valadares

FOTO: Arquivo pessoal

O jornalista, publicitário e docente da Universidade Vale do Rio Doce (Univale) Franco Dani Araújo defendeu para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) a tese de doutorado “YÍDÒNG DE XĪNGXĪNG: Experiências e trajetórias de imigrantes chineses em Governador Valadares-MG, um território de cultura migratória”. A defesa da tese faz parte do projeto elaborado pela Univale e pela UFSC, submetido à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Doutorado em Ciências Humanas.

A escolha pelo tema começou em abril de 2018, após uma visita ao Mercado Municipal que o professor universitário fez. “Ali havia uns estabelecimentos comerciais administrados por chineses e então surgiu o interesse pelo assunto. Consultei a professora Sueli Siqueira, que me orientou no mestrado e foi minha co-orientadora no doutorado. Ela tem experiência em estudos migratórios e acabou gostando da ideia de pesquisar sobre os chineses, e depois caminhamos juntos”, explica o professor.

“Quando eu fiz o mestrado, pesquisei sobre os jornais brasileiros feitos por brasileiros para brasileiros nos Estados Unidos, ou seja, o tema da migração já estava no meu campo de estudos. O que eu fiz foi continuar os estudos sobre migrações, só que agora num caminho inverso: não só de quem sai de Valadares para migrar, mas de quem migra para Valadares”, completa.

Segundo, o agora doutor, Franco, a frase em mandarim “Yídòng de xīngxīng” significa, em tradução literal, “Estrela (s) em movimento”, ou “Estrela (s) que se movimenta (m)”. Ele explica que o ‘movimento’ é uma referência aos deslocamentos migratórios e as ‘estrelas’ são os personagens que tornaram possível dar vida à história da migração chinesa em Governador Valadares. “A escolha da palavra “xīngxīng” (estrela/s) no título foi uma forma que encontrei de reparar uma injustiça de generalização em relação a tudo o que a China fabrica e comercializa, mas que no Brasil tem significado pejorativo”, afirma.

“No Brasil, muito se usa o termo “xing-ling”, que é uma referência a produtos importados de qualidade inferior ou falsificados atribuídos à China. Mas poucos sabem que esse é um termo depreciativo e até ofensivo se considerarmos a tradução literal de “xīng” (estrela/s) e de “ling” (zero). Considerando que estamos acostumados a avaliar produtos e serviços com estrelas, o sentido literal da palavra transmite a ideia de que quando chamamos um produto de “xing-ling” estamos atribuindo a ele nenhuma estrela, portanto, um péssimo produto. Na China esse termo não faz muito sentido, ao contrário do Brasil, considerando seu sentido pejorativo”, reitera.

Redes de contato ampliaram o processo migratório chinês

“Do ponto de vista antropológico e sociológico, os chineses se adaptam por causa de outros chineses da cidade, através das redes de contato – que mantêm o fluxo migratório. Em função dessas famílias que se estabeleceram em Valadares entre os anos 50 e 70, ficou mais fácil dos novos emigrantes trabalharem, afinal, encontraram acolhimento e suporte. Sendo assim, o descendente de chinês que nasce no Brasil tem uma adaptação mais fácil do que os que vieram da China”, responde.

Sendo assim, as entrevistas coletadas, somadas às contribuições teóricas, permitiram que o professor concluísse que o processo migratório, independente da motivação, não é simples em si, consideradas todas as suas implicações. Isso porque existem muitos desafios: cultura, idioma, comida, legislação, contexto sociopolítico, entre outras coisas. “Algo que ficou claro neste estudo é que quando alguém deixa seu país de origem para se realocar em outro possivelmente manterá os laços com a terra natal. Porém, independente disso, ele está geograficamente longe de casa e das pessoas queridas. Nesse sentido, o papel da sociedade de acolhimento é fundamental, não somente para a assimilação desse imigrante, mas para sua completa integração”, explica.

A pesquisa de Franco reforça, entre outras coisas, a ideia do tema central de que Governador Valadares não é somente um território de cultura migratória, mas, há muitas décadas, também uma sociedade que acolhe imigrantes de diversas nacionalidades, inclusive chineses.

O atual Doutor em Ciências Humanas diz que espera, enquanto pesquisador, cumprir de forma honrosa o compromisso de “restituir” aos chineses que contribuíram com as narrativas sobre a migração chinesa em Governador Valadares as histórias que compartilharam comigo. “Digo isso porque muitas pesquisas caem no esquecimento. Ficam apenas ocupando lugar na prateleira de alguma biblioteca ou esquecidas em algum repositório digital. Uso o termo “restituição” em respeito e homenagem aos pioneiros desse importante fenômeno migratório chinês, muitos dos quais não podem mais ler essas histórias, mas cujas trajetórias e inserção na sociedade acolhedora, antes de conhecimento restrito às famílias, saiam do ostracismo e da invisibilidade social e sejam, a partir da minha pesquisa, conhecidas publicamente”, finaliza. 

As ondas de migração

Depois de definido o tema, Franco precisava definir qual era o público que iria entrevistar, quais elementos e a metodologia que seriam adotados. Então ele começou a busca por referências, mas acabou não encontrando nenhum registro sobre a migração chinesa para Valadares.

De acordo com o professor, não havia registros em livros, pesquisas ou trabalhos sobre o tema. Por isso, ele precisou consultar historiadores e profissionais de migração. Mas estes também não tinham conhecimento de nenhum tipo de registro sobre a história da migração chinesa para o município. “Acredito que essa foi uma das contribuições mais importantes da pesquisa: tornar conhecida a história da migração chinesa em Governador Valadares. Trata-se do extrato de um passado da cidade do qual ainda não se tinha conhecimento e registros em seu contexto mais amplo”, pontua.

Enquanto tentava localizar alguns chineses em Valadares para começar a pesquisa, Franco identificou duas ondas migratórias desta população para o Brasil e, consequentemente, para Valadares. “Quando falamos de onda, estamos falando de grandes fluxos migratórios. O Brasil já teve, em outro momento, mão de obra chinesa para trabalhar em lavouras de chá – modelo adotado na Europa, mas queríamos situações atreladas a questões de guerra, conflitos políticos, ambientais e econômicos que forçasse alguém deixar seu país pela própria sobrevivência”.

Por fim, o professor conta que escolheu trabalhar com a primeira onda. “Tivemos dois grandes fluxos: um no início dos anos 50, depois da China Continental se declarar Comunista, onde os chineses fugiam desse sistema e migravam para várias partes do mundo, inclusive, para o Brasil; e a segunda onda que começa nos anos 90 e possui um contexto econômico – chineses que resolveram investir em países emergentes em uma época de inflação alta, como o Brasil. E aí optei em trabalhar com a primeira onda”.

“Ao todo, entrevistei 12 pessoas, entre as quais chineses, brasileiros descendentes de chineses (sino-brasileiros) e pessoas sem relação de parentesco com os grupos étnicos chineses em Valadares, mas que de alguma forma contribuíram para a pesquisa com seus relatos”, disse.

Franco ainda revela que conhecer a história da migração chinesa em Valadares era um projeto pessoal. “Desde o início, o que mais me motivou foi a possibilidade de contribuir, de alguma forma, para que, assim como aconteceu com tantos outros estrangeiros, esse grupo étnico também tivesse suas trajetórias na cidade registradas. E com o tempo, descobri que isso era importante para as famílias desses chineses também. Foi quando comecei a esboçar as questões norteadoras da pesquisa. Todo o material coletado, e que contribuiu para a criação de um importante banco de dados, nos permitiu identificar alguns dos primeiros chineses que se estabeleceram em Valadares entre os anos 1950 e 1970, período da primeira grande onda migratória”.

Durante a pesquisa foi analisado o contexto de xenofobia, que já estava presente no país desde os anos 50 e se refletiu na sociedade valadarense, e verificado questões da contribuição cultural e da relevância da migração chinesa para a economia local. “Toda pesquisa surge a partir de perguntas e questionamentos a respeito de determinado tema, ou seja, havia três questionamentos: quem foram os primeiros chineses a chegar em GV, como eles se adaptaram e como esse fluxo migratório se sustenta até os dias de hoje”, define.

Comments 1

  1. André Won says:

    Grande trabalho professor!
    Não é fácil ser chinês no Brasil, vi para cá quando era criança acompanhado pela minha mãe e irmão, meu pai chegou antes. Sofri muito, não deve um dia normal, era xingado na escola, na rua, pensando bem, o único lugar que me sentia seguro, era em casa! Só por ser chinês, já ouvia muita humilhação disfarçados de piadinhas sempre, na oitava série do ensino fundamental, surgiu uns problemas de pele (psoriase) no rosto para piorar, fui chamado de tudo que possa imaginar, abandonei, nunca mais pisei numa escola, fiquei 10 anos sem sair de casa, era eu e o computador, agora adulto, passo longe das escolas, não tenho coragem de pisar numa, seria um inferno, sei como a molecada é! Tenho vários problemas psicológicos, cagueijo, tenho medo de expressar, o pior é que eu não sei ler e escrever o idioma chinês, não tenho estudo aqui, e nada da China! Veio a porra (desculpa pela palavra) da pandemia, nunca tinha passado por nada igual, sofri todo tipo de abuso possível, xingamento, humilhações, xenofobia, preconceito, sendo que já tenho os problemas anteriormente, me sentir no inferno, as outras raças me atacando e não vi ninguém tentando ajudar ou falar algo, fico pensando, porque esse Deus, se realmente existe, não me fez branco de olhos azuis, ser chinês é ser discriminado de toda forma, generalizado de todas as formas, exemplos disto aqui é quando um chinês comete crime, todos são atacados e humilhados “Tinham que ser chinês” culpando a todos pelo crime de um ou alguns.
    Eu evito o máximo de sair de casa, vou no trabalho, espero todos os outros saírem de seus serviços para mim pegar a rua com menos gente possível. Já não tenho mais nada na China, acho que nem no Brasil, pensei em pegar a cidadania brasileira quando era mais jovem, mas o mundo mudou, ficou polarizado, quem tem rosto de chinês é espião do governo chinês, o bolsonarismo despertou o racismo, xenofobia e ódio de muitas pessoas!
    Como eu disse, não tenho estudo e nem pretendo estudar nada, não tenho condições psicológico para nada, estou mantendo vivo por puro capricho de vê onde posso aguentar!

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