por Marcos Santiago

Viver é verbo de movimento, e ponto. E o ponto é obstáculo que o raciocínio encontra, salta e segue noutra frase. Pensar demanda superar barreiras. Amar (e amar-se) exige saltar obstáculos. Sorrir demanda superação. Viver requer vencer os pontos tantos que se mostram indiscriminadamente para todos!
Viver requer também desvios! É preciso flexibilidade para se safar daquelas pessoas que aceitam da vida um emaranhado de curvas violentas, e que, como caminhões transbordando de lixo, a cada curva do dia, derramam sobre os outros seu conteúdo dejeto: restos descartados de impolidez, grosserias e mal-humor, de toda ordem.
É preciso se desviar daqueles vampiros diurnos cujos dentes de insatisfação eterna sugam nossa energia vital.
É preciso fugir das angústias que fazem morada em corpos ambulantes e que desejam nos cuspir, a todo momento, suas mazelas e dissabores, como prato da casa.
É preciso se desviar dos abraços abortados de sinceridade, dos sorrisos mudos, dos cumprimentos não correspondidos, da mágoa com a vida e das decepções consigo mesmo, que o outro acampou e que quer transplantar para ti.
Se tens remédio, dose. Se tens ombro, acolha e acalente. Todavia, se tens amor próprio, não alimente o lobo a ponto de ser tomado pela ingenuidade de Chapeuzinho Vermelho na floresta de desventuras! Auxilie com moderação, não viva a vida alheia nem seja os passos que o outro precisa pisar, mas seja um gole de água e uma sombra fresca no caminho.
Desviar-se das atitudes que escravizam é preciso. Desviar-se dos comportamentos que apenas subtraem, é vital.
Algumas pessoas, no decorrer da vida, tornam-se zumbis vaidosos, uma pá de angústia que assola e infertiliza as manhãs! Estenda a mão, mas não entregue sua alma. Desvie-se dos desertos humanoides, secos e frios.
São traiçoeiros e desoladores. Neles as vidas apenas se arrastam.