Violência e criminalidade na área do “buraco fundo” impõem a lei do silêncio na região do Atalaia

A equipe de reportagem do DRD até tentou ouvir moradores e comerciantes do bairro, mas quem foi abordado se negou a falar sobre as muitas ocorrências de tráfico e homicídios

Uma das ocorrências mais marcantes na semana em Valadares foi a localização de ossadas em três pontos diferentes do bairro Atalaia. Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), os restos mortais seriam de três pessoas que teriam sido assassinadas em datas distintas e seriam, provavelmente, vítimas da guerra entre gangues que atuam na região. Diante da situação, a equipe de reportagem do DRD conversou com o delegado Márdio Bento Costa, da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Vida e Pessoas Desaparecidas. Ele informou que a PCMG está trabalhando para solucionar não só esse caso, mas também outros delitos registrados no local. Já os moradores e comerciantes do bairro não quiseram falar sobre as ocorrências recentes.

O delegado conta que a PCMG tem atuado na investigação dos casos de homicídios e ressaltou a união de forças com outras instituições de segurança pública para executar o melhor trabalho possível a fim de concluir os inquéritos. “Há investigações em andamento na região sobre os fatos sob apuração, bem como de outros delitos, sendo que muitos desses em avançado estado de apuração quanto a autoria e materialidade. A Polícia Civil possui técnicas avançadas de investigação, que suprem eventuais dificuldades de colaboração de moradores. Destaca-se que o trabalho conjunto da PCMG com outros órgãos de segurança pública, notadamente a PMMG, vem sendo exitoso na indicação de autoria e materialidade dos crimes de homicídio. Ao mais, pela confiança da população na Delegacia de Homicídios, pelo seu histórico de apuração de delitos nesta comarca, há sim colaboração informal, com elementos de informação que levam à indicação de autoria, materialidade e motivação dos delitos de homicídio.”

O bairro Atalaia tem alguns locais de mata fechada, que, segundo o delegado, facilitam a ação dos criminosos que queiram esconder algo. Nos últimos meses houve casos de apreensão de grande quantidade de droga enterrada na região do bairro conhecida como “buraco fundo”, além da ocorrência de localização das ossadas. “A geografia da região propicia o aumento da criminalidade, pois, além da distância da região central, seu acesso ocorre por vias estreitas, por ruas internas do bairro sem asfaltamento ou a mínima infraestrutura viária, o que de certa forma facilita a fuga dos criminosos. Como no caso das ossadas localizadas, dois corpos foram localizadas em uma área de mata fechada, de difícil acesso, o que de fato gerou certa facilidade na ocultação dos corpos, bem como impediu a descoberta pelas forças de segurança.”

O delegado Márdio Bento Costa indica que existem investigações em andamento na região (Foto: Arquivo Pessoal)

Uma equipe de reportagem do DRD chegou a ir ao bairro Atalaia na última sexta-feira (23), para tentar ouvir a população sobre como é conviver em meio a essas últimas ocorrências, mas comerciantes e moradores que foram abordados não quiseram falar sobre o assunto. O delegado explica que isso pode ser mais por medo de represálias. “No último corpo encontrado, cumpre salientar que este fora enterrado próximo de uma das vias do bairro, em uma região mais afastada, mas com residências vizinhas há poucos metros, denotando que provavelmente outros moradores possam ter visualizado o crime, ou ter conhecimento do ocorrido, mantendo-se em silêncio diante de tal barbárie. Tal comportamento pode indicar certa cumplicidade com os criminosos, ou, o mais provável, demonstração de temor dos moradores ordeiros quanto a eventual retaliação de integrantes de gangues.”

Apesar desse contexto de receio de falar sobre as ocorrências, Costa indica que há formas de a população ajudar a PCMG nas investigações, sem precisar se expor, e faz até um apelo. “A ausência de colaboração de moradores com informações quanto a detalhes acerca dos delitos consumados é um empecilho severo; alguns cidadãos ordeiros temem narrar fatos com medo de eventuais represálias. Por esse motivo, convido todos os moradores da região que possuam informações adicionais sobre os fatos que estão sendo apurados que busquem a Delegacia de Homicídios para nos apresentar dados que possam nos auxiliar na plena elucidação dos crimes, sendo certo que a identidade do denunciante será preservada em absoluto.”

Indentificação de áreas mais perigosas

O delegado indica que o trabalho de inteligência da PCMG acontece com a utilização de diversas ferramentas estatísticas no sentido de identificar as áreas onde há um acréscimo de criminalidade, bem como o período em que houve acréscimo ou decréscimo, mas que o papel principal é a investigação. “Cumpre destacar que a PCMG atua de maneira repressiva, isto é, após a ocorrência do delito, em sua função primordial de investigação do crime, bem como no exercício das funções de polícia judiciária. Assim, essa delimitação de áreas com maior criminalidade para fins de repressão policial cabe à polícia ostensiva, que é desenvolvida com extremo zelo e dedicação pela PMMG.”

No caso específico da localização de ossadas, a PCMG já havia indicado que o inquérito policial foi instaurado para apurar os crimes. Alguns depoimentos já foram colhidos, inclusive do principal colaborador. As ossadas foram recolhidas e levadas ao Posto Médico-Legal da cidade, onde deverão passar por exames de DNA. Parte desse material será enviado ao IML em Belo Horizonte, para exames mais detalhados.

Costa destaca que “as investigações estão em andamento, mas sob sigilo do inquérito policial, o que impede a oferta de maiores informações quanto à ação de gangues e imputação de condutas quanto a integrantes de organização criminosa que tenha cometido os bárbaros crimes de homicídio e ocultação de cadáver”.

A equipe de reportagem do DRD procurou ouvir o comando da 5ª Companhia Independente da Polícia Militar, que é responsável por atuar no bairro Atalaia, para saber como tem sido feito o trabalho ostensivo por lá e entender também a delimitação de áreas de maior criminalidade naquela região, mas, até o fechamento desta matéria, não conseguiu um agendamento.

Delegado indica diminuição do número de homicídios

“Apesar da notícia do gravíssimo encontro simultâneo de três corpos enterrados no bairro Atalaia, situação inédita nesta cidade, os índices de homicídios na cidade de Governador Valadares estão com seus melhores resultados nos últimos anos. No mesmo sentido, as estatísticas indicam uma diminuição da criminalidade violenta em todo o Estado, bem como na cidade de Governador Valadares. Assim, apesar da sensação de insegurança que tais fatos geram na sociedade ordeira, todos os indicativos apontam para uma melhora substancial na diminuição da criminalidade nos últimos anos, o que decorre do árduo trabalho conjunto das forças de segurança e da atuação técnico-jurídica da Polícia Civil na conclusão das investigações quanto a apuração da autoria e materialidade dos crimes de homicídio”, registra o delegado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[the_ad_placement id="home-abaixo-da-linha-2"]

LEIA TAMBÉM