Viciados em celular: até onde isso pode te levar?

Segundo o especialista comportamental Sérgio Fonseca, problemas surgem quando a internet e tecnologias passam a ser as fontes principais ou exclusivas de prazer. FOTO: Divulgação

A estudante Vanessa Ferreira, 16 anos, não consegue desgrudar do celular, nem quando está no colégio. Ir a qualquer lugar sem que o aparelho esteja em sua mão virou um desafio. O celular permite que as pessoas estejam conectadas a todos os acontecimentos em tempo real. Porém, se usada em excesso, essa tecnologia também pode provocar um fenômeno chamado nomofobia, que consiste na dependência do aparelho celular em um nível tão preocupante, que pode trazer inúmeras consequências negativas para o corpo. Para especialistas, a dependência tecnológica, que inclui o “uso abusivo” da internet, de redes sociais e jogos, tem sido gatilho para a depressão e outros transtornos.

O Brasil superou a marca de um smartphone por habitante e conta com 220 milhões de celulares ativos, de acordo com a 29ª Pesquisa Anual de Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas, realizada pela Fundação Getúlio Vargas no final do ano passado. Na pesquisa, o Brasil se mantém entre os líderes da média global de uso de dispositivos, perdendo apenas para os Estados Unidos.

Em entrevista ao DIÁRIO DO RIO DOCE, o psicólogo especialista em psicoterapia comportamental Sérgio Fonseca explicou as consequências da nomofobia para o viciado. “A nomenclatura ‘nomofobia’ surgiu para explicar o uso excessivo de aparelhos eletrônicos, principalmente os smartphones; em geral, medo patológico de permanecer sem o contato com a ferramenta tecnológica”. O ditado “o celular aproxima quem está longe, mas afasta quem está perto” deve ser levado em conta, pois tem sido observado nas pessoas, principalmente crianças e jovens, uma falta de habilidade nas relações interpessoais e dificuldade de estabelecer vínculo afetivo, favorecendo o isolamento e se afastando do mundo real”, explicou.

Segundo Fonseca, um conjunto de critérios precisa se observado para avaliar se o uso da tecnologia deixou de ser saudável. O primeiro deles mede quão importante o celular se tornou para trazer a sensação de “refúgio e prazer”. “Quando começa a comprometer negativamente suas relações individuais, sociais e no trabalho, algumas características são comuns, como: manter o aparelho por perto o tempo todo, deixar sempre o celular ligado, ter a impressão de ter escutado o celular tocando, usar o aparelho em qualquer ocasião, preferir estar no celular a fazer outra atividade ou interagir com o outro, comprometimento da produtividade no trabalho e/ou estudos, inclusive até quando dirige, podendo provocar um acidente ou até mesmo receber uma multa”.

E quando o uso do celular começa a prejudicar a vida pessoal, algumas alterações podem ser observadas no comportamento. “Indivíduos, quando ficam muito tempo sem o aparelho, apresentam algumas alterações emocionais e comportamentais como angústia, ansiedade, tremores, sudorese, nervosismo, entre outros. Podem também ocorrer alterações no sono, dores musculares, má postura e tendinite”, ressaltou o psicólogo.

Consumo triste e sem fim

A estudante Vanessa Ferreira demorou a perceber que o uso do aparelho estava se tornando um vício. “Eu sei que ultrapasso os limites. Nem uso o telefone para ligar. Uso mais para conversar no whatsapp, instagram, facebook. Estou tentando não levar ele quando vou sair com os amigos”, disse. Apesar de a dependência já ser reconhecida como vício, o nome nomofobia ainda não é considerado uma doença ou mesmo um transtorno psicológico. Diante disso, a procura por tratamento tem gerado dúvidas.

Como ficar longe do vício

Ao se identificar como viciado, é preciso tomar algumas medidas para ficar longe do telefone. “Não levar para o quarto quando for dormir, caso precise para despertar, compre um despertador; assim que acordar, não pegue no celular; tire os primeiros minutos do dia para ir ao banheiro, tomar banho, tomar café da manhã; quando estiver dirigindo, não mexa no celular, coloque-o fora do alcance; quando estiver em reunião, confraternização, conversando com alguém, nas refeições, pare e esqueça o aparelho; ficar atento às crianças, monitorando o tempo de uso e o que estão acessando”, aconselha Sérgio Fonseca.

por Eduardo Lima | eduardolima.drd@gmail.com

Segundo especialistas, problemas surgem quando a internet e tecnologias passam a ser as fontes principais ou exclusivas de prazer

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