por Ricardo Dias Muniz*
Nas última semana o clima esquentou em Brasília. Em cheque estava a pureza matrimonial da urna eletrônica. No fim, ficou provado, com perícia e com documentos oficiais, que o sistema foi penetrado em 2018. Inclusive, durante uma eleição, e pior… nossa, muito pior… a penetração, sem consentimento, foi realizada por um hacker amador. Tão amador que, sabe aqueles caras otários que “ficam” com uma moça e saem espalhando para todos… Pois é! O caso somente foi descoberto depois que o bobão espalhou para os quatros cantos que foi ele quem tirou a “virgindade” eletrônica do sistema eleitoral brasileiro.
O fato em si da invasão é grave, mas tem solução possível; então, não preocupa. Entretanto, preocupantes são os fundamentos morais corroídos do estado social brasileiro atual. Talvez tenha ficado evidente que já não há mais solução possível desse problema sem um conflito social grave, dramático, disruptivo. Diga-se, mil vezes, infelizmente por isso. Que essa dedução esteja errada! Mas o fato é que, durante o jogo político dessa questão, ficou demonstrado inequivocamente que, em nome de um ideal, no caso, ideal de pureza de um sistema de contagem de votos, autoridades estariam dispostas a mentir descaradamente e a agir contrariamente à norma constitucional vigente. Reparem a sutileza: autoridades mentiram e não foram punidas moralmente por isso.
A mentira criminosa do funcionário público ainda não é o mais grave. Agora sim, entramos no fundo do poço. Entidades, empresas de comunicação, academia, entidade de classe, confederação de bispos, enfim, uma parcela da sociedade falante organizada se prostrou para tolerar o arbítrio, ilegal, inconstitucional, imoral daqueles que estavam nitidamente mentindo ao povo. Isso é evidência de que a consciência moral brasileira está corroída gravemente.
Quando mentirosos recebem a proteção de uma elite falante poderosa, já se está próximo, muito próximo, da barbárie. Na verdade, já está na antessala dela, à beira da porta, e qualquer voz diferente da elite logo será tratada por ela como: “eles devem ser impedidos”, depois “eles devem ser machucados”, por fim “eles devem ser destruídos” – raciocínio de Jordan P. Peterson. Pois se, após uma autoridade mentir, não gerar a devida reação de repúdio social, o caminho está livre para o desrespeito de normas positivadas (escritas) ou até as éticas. Se normas não têm mais valor, não há necessidade de um Poder Legislativo, nem Executivo. Todo poder estará nas mãos daqueles que podem, em última instância, julgar quem vive ou morre, quem é, ou não, conveniente. Essa é a pior de todas as ditaduras. Pronto, a mentira é a porta de entrada para o fim da liberdade.
É preciso, por mais duro que ela seja, aceitar a verdade. Se um sistema foi violado por um hacker amador, imagine o que um estado inimigo estrangeiro poderia fazer? Problema simples de resolver: criar um método de auditoria. Escolheram, porém, dobrar a aposta e arriscar em destruir o cerne da ideia de democracia, o voto. Exatamente ele que confere legitimidade a um governo. Sem urnas confiáveis, todo o resto é nebuloso e perigoso. Que Deus nos ajude!
* Consultor empresarial, engenheiro de produção, ativista político, colunista de opinião, estuda filosofia e direito.
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