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Uma homenagem a Alberto Mirahy como reflexão sobre o desenvolvimento

Haruf Salmen (*)

Um tema importante é a relação entre educação e desenvolvimento. Porém, gostaria de tratar desse assunto trazendo um pouco da história de Alberto Mirahy, ex-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Governador Valadares (ACE). Alberto Mirahy foi presidente da ACE no biênio 1984/1985, quando realizou a primeira edição da Expoinc, a feira que foi a precursora da Expoleste. Com era tradição da entidade, Alberto Mirahy, como primeiro vice-presidente, assumiu a presidência. No Brasil, esses foram anos de intensa participação política, especialmente pela campanha das “Diretas Já” e pelo fim do regime militar. Todavia, a conjuntura política nacional não ocupou muito espaço nas reuniões da entidade, pois o foco ficou centrado nas questões do desenvolvimento local, na expectativa de obter benefícios para a cidade.

Na gestão de Alberto Mirahy se concretizou a “1ª Expoinc”, idealizada pela gestão anterior. Quando conversamos com ele, há pouco mais de 20 anos, ele nos contou sobre as dificuldades enfrentadas: “Foi uma calamidade, tivemos uma grande chuva e a frequência foi muito pequena. Isso aconteceu logo no início do meu mandato. Mas não desanimei não”! Diante das dificuldades, ele decidiu realizar a Expoinc em conjunto com a exposição agropecuária, no mês de julho. “Eu e meus colegas achamos que deveríamos mudar o esquema, a tática: realizar a Expoinc no período da exposição agropecuária. Foi um sucesso absoluto, no ano seguinte; e foi só crescendo”.

Essa história da Expoinc é para mostrar o senso prático de Alberto Mirahy, mas o que quero destacar são as ações pelo desenvolvimento de Valadares. Uma das frentes foram as ações para fortalecer e valorizar as empresas já implantadas na cidade. Destaco o esforço junto à CVRD (atual Vale), cujo estatuto determinava o apoio ao desenvolvimento do Vale do Rio Doce, para que essa apoiasse o projeto de expansão da siderúrgica Fertimetal. Entre as outras ações, vale mencionar o apoio aos empresários do setor de cereais, para implantarem uma central de abastecimento na cidade; bem como a campanha pública pela valorização e preferência pelos produtos fabricados na cidade. Junto à prefeitura, Alberto
Mirahy tentou construir uma política de incentivos fiscais para microempresas e empreendedores. Também houve um esforço de formação dos empresários para atender as mudanças na forma de cobrança do ICMS.

Entretanto, a gestão Alberto Mirahy teve como um ponto relevante para nossa reflexão: a compreensão da importância da educação para o desenvolvimento. A entidade se posicionou de forma explícita em apoio ao movimento por melhores salários dos trabalhadores da educação. Conforme se pode ler na ata da reunião da ACE, de 20 de setembro de 1984, a entidade aprovou moção de apoio “em prol de melhores salários para a educação”. Na opinião de Alberto Mirahy, o objetivo principal da ACE é o desenvolvimento, mas deixava claro que isso não dependia somente da entidade e do empresariado, mas exigia vontade política e ação de todos. Na entrevista que nos concedeu, sãos suas as palavras: “Então o mais importante é incentivarmos a indústria da cultura, apoiar a Univale e as outras faculdades”. Essas palavras são muito significativas, pois continuam completamente atuais. Ele completa, falando de Valadares: “…nós temos que partir para dois campos: o da cultura e o do comércio”, no qual incluía na categoria cultura a educação básica e o ensino superior.

No primeiro ano, foram enfrentadas várias dificuldades, mas serviram para acumular experiência e avançar muito no ano seguinte. Na sua gestão foram concluídas as obras da nova sede da entidade, especialmente do auditório. Na eleição para a nova diretoria, em 12 de dezembro de 1985, Jadir da Silva Neto assumiu a presidência. Isso é outra história. O que ressalto aqui, como homenagem a Alberto Mirahy, que faleceu em 1º de julho de 2020, é uma visão de futuro que ainda precisa se tornar realidade.

Naquela época, em cada 100 alunos que começavam o Ensino Fundamental, menos de seis passavam para o Ensino Médio. Não havia escolas e a maioria dos alunos abandonava os estudos antes de completar as séries iniciais do Fundamental. O acesso universal à educação ainda não se tornou uma realidade na nossa região e a posição que ocupamos entre as regiões de Minas Gerais é a pior nesse quesito. Tem melhorado muito, mas ainda precisa avançar, não apenas em Valadares, mas na nossa região. O desenvolvimento é um processo que para se realizar tem que ser
tratado por uma abordagem territorial, que demanda uma gestão integrada do território. Nessa perspectiva, compreendemos que crescimento econômico, geração de renda e emprego não se resolvem apenas com o capital financeiro, mas depende da cultura e educação. Sem esses capitais (cultura e educação) combinada com capital social, não existe desenvolvimento, apenas atraso.


(*) Prof. Dr. Haruf Salmen Espindola
Professor do Curso de Direito da Univale
Professor do Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território – GIT
Doutor em História pela USP

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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