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Um time doméstico sob a batuta de Nivaldo Santana

(*) Luiz Alves Lopes

Ano de 1975. Ano em que concluímos o curso de Direito. Ano de 1975. Ano em que, pela primeira vez, o glorioso Democrata disputou os certames mineiros de Juvenil (hoje Juniores) e Infantojuvenil (hoje Juvenil). Ano de 1975. Ano em que, pela última vez, vestimos a camiseta do alvinegro da Afonso Pena. Ano de 1975. Ano em que estivemos, ao lado de Mamud Abbas, integrando, como vice-presidente, a diretoria do Democrata (período administrativo 1974-1975). Ano de 1975. Ano em que o Democrata Pantera constituiu uma comissão de notáveis para viabilizar sua participação nas disputas oficiais da Federação Mineira de Futebol (dentre tantos, Rubens do Amaral e Salim Thébit).

Ano de 1975. O Esporte Clube Democrata contrata para a montagem de seu time para as disputas oficiais da Federação Mineira de Futebol (Taça Minas Gerais e Campeonato Mineiro) um entusiasmado treinador de futebol, com formação também em educação física, e que se propôs a desenvolver as funções de treinador e de preparador físico.

NIVALDO SANTANA, o nome do profissional. Pode-se dizer, pelo que fez, nome da FERA. Relativamente jovem, mulato, alegre, de hábitos simples, falante e de educação esmerada, e por demais organizado, contagiou a todos indistintamente. Gostava e muito do que fazia. E o fazia muito bem feito.

Dentre muitas virtudes, a mais marcante era a de se dirigir a todos – atletas, funcionários, dirigentes, integrantes da mídia, torcedores e corneteiros (à época em quantidade) – pronunciando seus nomes próprios, ignorando por completo apelidos ou mesmo nomes de guerra. Juvenal era Juvenário, Helinho era Hélio, Maninho era Cléverson, Tiziu era Antônio Carlos, Luizinho era Lopes, Ziquita era Gilberto, Batata era Hoberg, Lamparina era Nivaldo, Neguinha era Martins, o roupeiro Zé Biliu era Belizário, Birila, também roupeiro, era Gerilio, e assim por diante.

Nivaldo Santana foi contratado com antecedência, dedicando-se, dentro da proposta grupal e possibilidades do clube, à montagem de um time doméstico, barato e que pudesse dar liga. Deu. E que liga!

Encerrado o Torneio Regional de Futebol de 1974 (o Democrata foi derrotado pelo EC Caratinga em série melhor de três), Ziquita foi buscado no Operário de Raul Soares; Neguinha e Lamparina foram buscados no Borroló de Carlos Chagas; Altair e Marco Antônio foram trazidos do EC Caratinga; Helinho, Hudson e Tiziu vieram do Rio Doce de João Rosa; Juvenal estava ao Deus dará; Maninho, Luizinho, Zeca, João Carlos, Marcão, Welington, Carlos Thébit e Hoberg já estavam no clube; Wanderlei foi pescado no amadorismo local; e o desconhecido Eduardo, tido como craque, foi efetivamente contratado (acabou reserva de Wanderlei), além de Osmar (o Boi) e Mikey. Plantel curto e enxuto, com uma vontade e determinação danada.

Pouca gente sabe, ainda nos dias atuais, como é árdua, difícil e complicada a tarefa da regularização de um atleta, dando-lhe condições de jogo perante a entidade dirigente. Sem falar nas despesas, que não são poucas, e a burocracia é irritante. Perguntem ao Meneses e ao Ozório.

Em 1975, partindo do ZERO, imaginem a formatação de um plantel dentro das possibilidades do clube e sua regularização. Inexistindo os meios eletrônicos dos dias atuais, valia-se do malote, do fax, das cansativas viagens de ônibus e da constituição de um representante (remunerado ou gratificado) junto à Federação. E quando se dependia da CBF? Questões de bastidores e do mundo desconhecido do futebol minha gente!

Certo é que uma pessoa importante, excepcional, inteligente como poucas, chamou para si a tarefa de, semanalmente, deslocar-se até Belo Horizonte com a papelada de atletas para regularizá-los junto à FMF. Ao retornar, transmitia ao departamento de futebol profissional o resultado de seu trabalho, informando quem estaria ou não apto para ser utilizado pelo treinador.

Os jogos foram acontecendo, os resultados positivos surgindo e a mídia de fora se deparou com um tal de ZIQUITA fazendo gols e um “cara” chamado Juvenal pegando tudo. Um time competitivo, bem preparado fisicamente, muito unido e sabedor de suas limitações. Muito bem dirigido pelo professor Nivaldo Santana. Tá certo, João Carlos?

Na Taça Minas Gerais, apenas duas derrotas, para o Vila Nova em Nova Lima (com seu Iustrick instigando a torcida local contra a arbitragem) e frente ao tal de Cruzeiro, aqui no campo do Mamudão (tinha Nelinho, Palhinha, Dirceu Lopes, Zé Carlos, Piaza, Vanderlei, Joãozinho e outros tantos). Grande foi o número de vitórias, o que motivou uma ida a Anápolis-GO para vencer a equipe local por 2×0 (Ziquita e Hudson).

A ocorrência negativa de 1975, pouco divulgada ou esclarecida e que não cabe aqui e agora ser contada (por absoluto respeito), diz respeito a uma perda imensa de pontos conseguidos no campo de jogo, mediante julgamentos pelo Tribunal de Justiça Desportiva da Federação Mineira de Futebol. Atletas tidos e havidos como regularizados na verdade não haviam sido. À época, revolta houve. Coisas do passado. Coisas da história da Pantera, certo Alpiniano?

Dentro de inúmeras filigranas de 1975, algumas merecem registros. Vejamos: concentração nos alojamentos do Mamudão, debaixo das arquibancadas de cimento, com utilização de beliches. Lanche noturno servido pelo casal Zezé e Nair, do Bar Guaxupé, situado na esquina do ‘pecado’ (Osvaldo Cruz com Afonso Pena) e constante de vitamina de frutas com um misto quente. Refeições servidas no restaurante do Cabral (posto do Lenito), situado na rua Afonso Pena (parte da frente do imóvel do clube). Coisas impensáveis para os dias atuais.

Finalmente, há de se registrar que dos treinamentos físicos constavam a utilização das dependências da SR Filadélfia, em meio aos eucaliptos. Corrida até a Açucareira de vez em quando, escalada do morro próximo ao Querosene e sobe e desce das arquibancadas de cimento do Mamudão. Este Democrata tem história!

Era uma vez… É que a gente acabou crescendo. E, com o tempo, a gente quer voltar ao início… É IMPOSSÍVEL. Restaram saudades.

(*) Ex-atleta

N.B.1 – A boleirada do Palmeiras teria se insurgido contra o professor Vanderlei Luxemburgo? De repente passaram a correr e produzir. Simples coincidência? Administrar vaidades de boleiros não é mole não.

N.B.2 – Por demais oportuna a entrevista de Doménet, técnico do CR Flamengo, após a derrota frente ao São Paulo. Disse, referindo-se à imprensa brasileira: aqui, quando se ganha está tudo certo; quando se perde, está tudo erado. Falou o que os nossos não têm coragem de dizer.

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