Existem certos dias em que o cidadão não deveria sair de casa. Ou melhor, nem levantar da cama, pois fica sujeito a todo tipo de contratempo, quando parece que o mundo está definitivamente contra sua pessoa. Acredito que muitos leitores já ouviram falar na Lei de Murphy, que preconiza que “se algo pode dar errado, dará”. Murphy era engenheiro aeroespacial e formulou sua lei em 1949, depois de descobrir que todos os eletrodos de um equipamento estavam mal conectados, por isso não funcionaram como previsto. Mas, poder-se-ia dizer que essa lei está mais conectada à luz da filosofia.
Na realidade, essa lei é um comentário pessimista sobre o Universo, ou seja, de lei, a lei de Murphy não é uma formalidade legal ou científica, nem conceito matemático, mas uma “máxima” sobre a “complexidade do universo”, por isso temos a sensação de que tudo pode dar errado, uma visão de mundo que pode ser interpretada como negativismo. Para reverter essa situação, tome todas as precauções possíveis antes de tomar uma atitude.
Em todo caso, essa lei tem mais fundamento do que parece, conta com pesquisas e provas que a respaldam, como, por exemplo: Se algo pode dar errado, dará; A torrada sempre cai com o lado da manteiga para baixo; A informação mais importante de qualquer mapa está na dobra ou na margem; A outra fila é sempre mais rápida; Levar um guarda-chuva quando há previsão de chuva torna menos provável que chova, etc.
Um amigo próximo, que aqui vamos chamar de João, nos narrou ter vivido um “dia daqueles” que pode ocorrer com qualquer um, se é que já não ocorreu, e pela quantidade de fatos negativos ficou associado à lei de Murphy, como posto a seguir:
Era uma sexta-feira daquelas, depois de uma semana altamente estressante, pulverizada pelo pagamento de IPVA, colégio dos filhos, anuidade profissional, várias taxas, impostos, condomínio, compra mensal no supermercado, multa de trânsito, lâmpada queimada, pagamento de encargos trabalhistas de funcionários, e outros mais.
João havia levantado cedo como sempre, e rumou para o Centro da cidade, quando, no meio do caminho, se deu conta de que havia esquecido em casa a carteira com documentos pessoais e os do carro. Para sua grata surpresa, notou que carregava um cartão de crédito. Como não pagaria conta relevante, compraria apenas jornais e um presente para uma festa de aniversário, resolveu seguir caminho. Pensou em voltar, mas desistiu.
O primeiro problema aconteceu quando deu de frente com uma blitz da PM. Gastou um tempo razoável para tentar convencer o guarda de trânsito do que havia acontecido. Nada feito, teve de deixar o carro estacionado ali por um prazo estipulado, até que fosse em casa buscar os documentos do veículo. Como não tinha dinheiro para pegar táxi ou ônibus, nem encontrou alguém que conhecesse para lhe dar carona, optou por ir a pé. Como demorou mais de 30 minutos, quando voltou seu carro já tinha sido rebocado.
Em seguida pensou em sacar o dinheiro para pagar as despesas com o reboque. Quando chegou ao Banco 24 horas, teve a insatisfação de saber que o sistema estava fora do ar. Mais tarde, quando conseguiu sacar o numerário, resolveu comprar o presente de aniversário, mas a única loja que tinha o mimo que o aniversariante desejava havia fechado as portas mais cedo naquele dia.
No final da tarde, quando voltava para casa, viu seu mundo cair novamente. Quando tentou ligar o carro, notou que a bateria havia “arriado”, e assim que conseguiu sair, logo mais à frente, ficou ainda mais p… da vida, já que dois carros fortes estacionados no meio da rua e que recolhiam malotes engarrafaram o trânsito que, lento, foi seguido por um buzinaço e som estridente de uma sirene de ambulância, que pedia desesperadamente passagem naquele congestionado mar de veículos que se formara às 18h30 na Israel Pinheiro.
Nosso amigo voltou para casa moído física e mentalmente, e encontrou a mulher cuspindo na chapa, já que ele havia atrasado mais de duas para o compromisso que os dois haviam agendado. O pior aconteceu depois. Quando já sentia o cheirinho da janta, que esperava com todo apetite, escutou, vindo da cozinha do apartamento, um grito de sua mulher, que mais parecia um nocaute, lamentando: “Mô, o gás acabou”.
por Crisolino Filho | Crisolino Filho: crisffiadv@gmail.com /Celular: 9.88071877. Membro da Academia Valadarense de Letras – AVL.