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Um deus a nossa imagem e semelhança – A privatização da fé e suas consequências

FOTO: Freepik

Segundo a maioria dos autores que abordam o tema da pós-modernidade, a pós-modernidade se sustenta em três pontos principais, que são: a pluralização; a privatização; e a secularização. Estes três pontos formam a base da cosmovisão pós-moderna e, ao serem aceitos pelos cristãos, têm a capacidade de destruírem a fé cristã, por serem capaz de modificar/destruir completamente sua cosmovisão.

Nesse texto, falarei sobre a privatização, já que a mesma pode ser vista como porta de entrada tanto para a pluralização como para a secularização (pontos que servem de fundamentos para a privatização), segundo o entendimento da maioria dos autores que abordam o tema, estabelecendo, assim, uma interdependência entre estes três pontos basilares da cosmovisão pós-moderna.

A privatização refere-se à tendência de relegar questões religiosas, éticas e morais para a vida privada. Nesse contexto, a religião e a fé são vistas como questões individuais e pessoais, não tendo uma relevância fora do contexto e dos ambientes religiosos. A privatização implica em separar a fé das demais esferas da vida, como a política, a economia e a cultura, ou qualquer outra área além do contexto religioso.

Nesse contexto, a fé cristã é muitas vezes considerada uma questão individual e subjetiva, com pouca relevância para as questões sociais, políticas e culturais. A privatização enfraquece a influência e a presença da fé cristã na esfera pública, restringindo sua expressão apenas aos espaços religiosos, como as igrejas. No contexto da pós-modernidade, a privatização da fé é a porta de entrada para a pluralização, é o meio pelo qual a pluralidade de crenças e interpretações se valida. Movidas por ideais hedonistas, por visões íntimas e privadas, as pessoas que compõem nossa sociedade usam da pluralização, da quebra dos padrões por ela promovida, para lançarem mão de sua visão de mundo particular como interpretação para a realidade.

Assim, com o afastamento da fé cristã para a vida privada, sem espaço para se falar abertamente dos princípios bíblicos, criou-se a brecha necessária para as interpretações particulares dos princípios bíblicos, e assim, a interpretação das Escrituras também entrou para o campo privado. Cada pessoa lê, interpreta, e aplica a Bíblia à sua vida da forma que bem entende, sem compromisso com a hermenêutica, com a exegese, ou com o contexto histórico e cultural e, até mesmo, com o contexto imediato do texto. Infelizmente, tal prática não se restringe tão somente aos membros das igrejas atuais, muitos líderes cristãos das congregações de hoje demonstram total desconhecimento das ferramentas para interpretação bíblica, levando muitos cristãos ao erro com suas interpretações particulares e, inúmeras vezes, heréticas.

Tudo isso se dá como consequência do abandono das metanarrativas. Com o fim da metanarrativa, logo, os textos por detrás das metanarrativas também estão mortos, e com eles, todo o significado que continham. Assim, na visão pós-moderna, é o leitor quem estabelece o significado do texto, e nenhum controle limita o significado da leitura. Dessa forma, a Bíblia é submetida a uma reinterpretação radical, na grande maioria das vezes, com pouca ou nenhuma consideração pelo significado óbvio do texto ou pela intenção evidente do autor humano. Os textos que não agradam a mente pós-modernista, ou aos cristãos pós-modernos, são rejeitados.

A privatização leva ao relativismo, abrindo espaço para inúmeras interpretações das Escrituras, o que, para o cristão pós-moderno é totalmente normal, pois a visão do senso comum é de que cada um tem a sua própria interpretação da Bíblia.

Não só a fé e a interpretação das Escrituras entraram para o campo particular, mas até mesmo o conceito de Deus passou a ser relativo: cada um passou a enxergar a Deus de forma particular, pois, ao rejeitar a revelação de Deus nas Escrituras, cada um pode “criar” e imaginar um deus como bem quiser. O Deus Todo Poderoso que se revelou através das páginas das Escrituras passou a ser uma simples extensão do que as pessoas pensam.

Sem perceberem, muitos dos que hoje se consideram cristãos, têm seguido à risca a ideia do filósofo alemão Ludwig Feuerbach, ateu e apologista do ateísmo (considerado na filosofia como um dos “quatro cavaleiros do ateísmo contemporâneo”, junto com Marx, Nietzsche, e Freud), ferrenho crítico do cristianismo, que dizia que “o homem criou Deus à sua imagem e semelhança”, ao afirmar que Deus era uma mera imagem da projeção humana, de seus desejos e anseios. E é justamente isso que muitas pessoas, até mesmo “cristãs”, estão fazendo: criando um deus que não é mais do que sua própria imagem e semelhança; por não conhecerem o Deus que se revelou aos homens através das Escrituras, ou por não O aceitarem, projetam em seu deus imaginário aquilo que eles imaginam que deus é, ou deveria ser, o que, como já foi dito, não passa de uma extensão do que elas pensam sobre Deus, uma extensão de sua própria vontade e desejos, o que no fim, se revela como uma adoração a si mesmo.


(*) Wanderson R. Monteiro
Autor do livro “Cosmovisão Em Crise: A Importância do Conhecimento Teológico e Filosófico Para o Líder Cristão na Pós-Modernidade”.
 Dr. Honoris Causa em Literatura e Dr. Honoris Causa em Jornalismo.
Bacharel em Teologia, graduando em Pedagogia. Acadêmico Correspondente da FEBACLA.
Acadêmico Fundador da AHBLA. Acadêmico Imortal da AINTE.
Vencedor de quatro prêmios literários. Coautor de 13 livros e quatro revistas.
(São Sebastião do Anta – MG)

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