Dileymárcio de Carvalho (*)
Nem todo mundo faz o que gosta com a atividade profissional. E aqui eu já te chamaria para uma terapia. Mas a vida fica mais difícil quando se tem ao lado um colega que não para de reclamar do trabalho. Ele não muda, sabe que as circunstâncias não vão mudar, mas também não sai. Resultado: está ficando ainda mais pesado para mim.
E é isso mesmo. Por uma série de situações, ao longo da minha vida profissional, posso estar exercendo algo de que não gosto. E isso já significa um esforço emocional, mas vou “sobrevivendo e fazendo as devidas adaptações na vida”. Porém, com alguém queixoso do meu lado, o impacto emocional que sinto me desestrutura ainda mais. Meu nível de tolerância por coisas que antes eu dava conta agora já está bem sensível.
E normalmente o queixoso reclama de tudo, principalmente dos detalhes da rotina, do que faz e do que os outros estão fazendo também. Como se o não gostar do que faz e estar onde está já não fosse do seu conhecimento. Eu não gosto do serviço ou atividade, mas de forma “madura” não mantenho o comportamento de reclamar. Até porque, tenho para mim que, se eu começar a reclamar, não vou fazer o que não gosto. Esse, pelo menos, deveria ser um princípio emocional mais saudável.
A grande questão é que esse comportamento de reclamar afeta não só aquele que não gosta do que está fazendo, mas mesmo assim segue profissionalmente, como aqueles que estão sim felizes e adequados com o que fazem. Porque não estamos falando apenas de um discurso de insatisfação, mas das consequências da reclamação para quem está ao lado. Eu vou, sim, começar a sentir desconforto, tanto emocional quanto físico, ainda que num primeiro momento eu não perceba.
Exposto a um fluxo contínuo de queixas, eu, que estava focado, começo também a me desestruturar e passo a trazer para as minhas emoções insatisfação, só que não percebo que se trata dessa influência, e daqui a pouco essa insatisfação também se manifesta no meu comportamento. E em muitos cenários eu passo a reclamar, por sentir que essa queixa está me incomodando.
A consequência é que, se não há um corte nessa queixa, o comportamento se generaliza no ambiente. Então, tratar todos os “queixosos” agora se tornou um desafio psicológico para a empresa. Lógico que as condições do trabalho são fortalecedoras dos bons comportamentos e emoções. Como agir? Primeiro, como esse colega que está ao lado, é avaliar: qual função essa reclamação tem na vida do meu colega? Entender o que de fato é sobre o ambiente e as relações no trabalho e separar, identificando o que é dessas pessoas mesmo e o que são as condições do ambiente.
E se o problema está com ela, vai outra pergunta: eu posso ajudar? Se não posso, preciso buscar ajuda na empresa. Se não, preciso me fortalecer e talvez chegue o momento de dizer para esse seu colega que você está sendo prejudicado. A jornada de queixas e reclamações tende a diminuir e até acabar quando você se posiciona.
(*) Dileymárcio de Carvalho- Psicólogo Clínico Comportamental- CRP: 04/49821 – Email: dileymarcio.carvalho@gmail.com
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