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Se não quiser adoecer, aprenda a falar o que se passa contigo

Você é daqueles que têm muita dificuldade de expressar o que estão sentindo? Tudo vai acontecendo e você vai só acumulando tarefas, funções, responsabilidades e muitos sentimentos, como medo, raiva, frustração e tristeza? Quando isso acontece, você fica ruminando os problemas dias e noites? Se for para se sentar e conversar, não consegue falar nada, fica imobilizado, pois está totalmente sensível, por não conseguir expressar o que realmente está se passando dentro de você? Se você respondeu a pelo menos duas dessas perguntas, o artigo de hoje é para você.

Ficar calado, suportando tudo sozinho, sem compartilhar com um amigo, parente ou profissional, é uma péssima escolha. O que muitos não sabem é que já temos muitos estudos científicos comprovando o adoecimento provocado por não sabermos colocar pra fora o que sentimos. Não são poucas as pessoas que chegam ao consultório dizendo que têm uma mágoa, ressentimento, tristeza, mas que não conseguem falar à pessoa objeto/foco desse sentimento. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de comentar que os mesmos indivíduos que assim reagem possuem sintomas muito evidentes, como: crise de ansiedade, hipertensão, desmaios, insônia, pânico, entre outros. Recentemente, no 40º Congresso de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), foi apresentada uma pesquisa médica correlacionando a dificuldade de falar sobre o perdão e a ocorrência de enfarte agudo do miocárdio. Além disso, houve outros trabalhos descrevendo que a depressão pode aumentar em até 30% a possibilidade de enfarte. Já há um consenso entre os profissionais da área médica de que existe influência das questões emocionais no aparecimento de doenças cardiovasculares e outras.

Quando estudamos a neurobiologia do pensamento, verificamos que os pensamentos disfuncionais, muito normais em pessoas que não verbalizam o que sentem e se fecham em suas amarguras, provocam a diminuição da dopamina no corpo, neurotransmissor responsável pelo bem-estar. Ao mesmo tempo, aumentam a quantidade de cortisol, hormônio responsável pela memória temporária, ou seja, o indivíduo esquece coisas muito comuns do dia a dia.

Avaliando os fatores expostos, temos ou não que aprender a falar o que se passar conosco?

Não estou querendo dizer que temos que ficar contando toda a nossa vida a todos de forma indiscriminada. Isso é falta de cuidado pessoal e, em alguns casos, insanidade. Mas é necessário aprender a falar com mais assertividade sobre nossos sentimentos, para que tenhamos mais saúde física e emocional.

Tem uma frase da psicanalista polonesa Alice Miller (1923-2010) que gosto muito. Ela disse o seguinte: “Não são os traumas que sofremos na infância (ou na vida) que nos tornam emocionalmente doentes, mas sim a incapacidade de expressá-los”. Essa fala é muito forte, pois nos traz a consciência do quão pesada se torna a vida, pela dificuldade de falar o que se passa.

Não devemos maquiar sentimentos, se estamos magoados, com raiva e frustrados. Vamos usar de sinceridade e falar à pessoa responsável por causar isso em nós. É claro que, se quero resolver a situação com mais assertividade possível, a forma como falamos será trabalhada para não gerar mais conflitos, respeitando o espaço, as diferenças e a razão do outro, mas nunca anulando o que se passa comigo, fugindo ou se calando sempre.

Percebo algo muito evidente nas pessoas que têm dificuldade de verbalizar seus problemas: é o estado de ruminação, ficando as 24 horas do dia num pensamento obsessivo, focado no quanto o outro lhe fez mal. Mas a capacidade de partir para encontrar a solução é quase zero. Dentro da área de gestão de conflitos tem uma máxima que gosto muito, que é: “Quando há conflito, aquele que tem mais maturidade dá o primeiro passo para a solução”. Ou seja, essa paralisação e a ruminação constante do problema não focado à solução deixam evidenciado o quanto muitas vezes somos imaturos ou fomos tomados de tal modo, que o excesso de sensibilidade que nos paralisa. Ficamos passivos a tudo que acontece e muitas vezes nos vitimizamos em relação à ação do outro.

Não posso deixar de lembrar que “ninguém faz conosco aquilo que não permitimos”, ou seja, enquanto você não tomar nenhuma atitude, os outros continuarão tomando as decisões por você, falando por você e agindo por você. Só que eles nunca serão você, pois o único que pode realmente assumir o controle da sua própria vida é você mesmo.

É um desafio ser assertivo na comunicação. É uma habilidade altamente necessária e desenvolvida a duras penas, mas não devemos nos esquecer nunca de que a vida é feita de relações: ou você aprende a se comunicar de modo mais eficiente, ou será sucumbido em suas próprias emoções, muitas vezes delineada pela percepção equivocada que você tem da própria vida.

Espero que a leitura deste artigo possa ajudá-lo. Aproveite e mostre a um amigo que necessita de uma leitura mais apropriada sobre o problema por que esteja passando. Caso queira contribuir com críticas ou sugestões a esta coluna de comportamento, escrita por Leonardo Sandro Vieira, é só contactar pelo 33-988186858/ 9992-5711 ou 3203-38784 ou pelo e-mail: leosavieira@gmail.com.

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