Instituição cultural globalizada é coisa de país desenvolvido. É comum encontrar nas principais cidades do mundo, e também no Brasil, a Aliança Francesa, a Cultura Inglesa, o Instituto Goethe (alemão) e o Instituto Cultural Americano. Infelizmente o Brasil não tem como esses países um instituto conhecido mundo afora. Talvez seja porque a nossa tradição educacional, intelectual e científica não produziu sociólogos, filósofos, físicos, antropólogos, humanistas e matemáticos de renome como foi o caso dos franceses, alemães, ingleses e americanos. Se o país criar uma instituição nos moldes das listadas inicialmente, vai ter de buscar um nome no esporte, onde o país faz menos feio, porque nas ciências humanas, exatas e sociais não tem muito o que comemorar. Os institutos nacionais são na realidade símbolo de influência de uma pátria.
Admiramos o projeto do Instituto Ayrton Senna, restrito ao Brasil, uma homenagem ao piloto brasileiro tricampeão de Fórmula 1. Criado em 1994 por sua família, tem como objetivo, em parceria com escolas públicas, dar oportunidade de desenvolvimento para estudantes, o que de certa forma já é um avanço sobre superadas fundações.
Por falar em Senna, está sendo construído na cidade de Balneário Camboriú, no estado de Santa Catarina, o Senna Tower, um edifício de 154 andares, com 509 metros de altura, e será o edifício residencial mais alto do mundo. Em sua base a designer/arquiteta projetou uma curva, que lembra parte de uma pista, referência a trajetória do ídolo. Esse empreendimento é uma parceria entre uma grande construtora, a família Senna e Luciano Hang – dono das lojas Havan.
Na realidade todo o país tem símbolos baseados na fauna ou na flora. O famoso cineasta dramaturgo brasileiro (grande intelectual) Nélson Rodrigues afirmava que o país carregava um complexo de vira-latas, talvez por isso não sabia escolher nem nome, nem marcas, nem sinal, nem padrão, e nem mesmo símbolo. Em quase todas essas situações, nomes e emblemas criados pelos brasileiros se tornam “memes”. O animal símbolo da Copa do Mundo de 2014 no Brasil foi o tatu-bola, representado pelo mascote FULECO. Até na política a coisa é meio circense. Com todo respeito, o atual ministro do esporte é o André FUFUCA. Tem um deputado federal pelo estado do Rio de Janeiro conhecido por Washington QUÁ-QUÁ.
A escolha de algum animal da fauna para representar um país, também tem lá seus significados e paixões. Enquanto os Estados Unidos escolheram – com propriedade, uma águia de cabeça branca, o Brasil escolheu o Sabiá-Laranjeira.
A águia americana é majestosa, a envergadura de suas asas é de 1,8 a 2,3 metros, pesa entre 03 e 6,3kg e sua velocidade pode alcançar de 120 a 160km/h, tem olhos severos, plumagem suntuosa, musculosa, garras afiadas e sua vista de enorme capacidade permite distinguir a longa distância uma presa de até 10cm. É uma grande predadora, usada pelos romanos como símbolo de sua força, e citada nas escrituras como exemplo de poder divino.
Já o Sabiá-Laranjeira, ao contrário, é pequeno, mede entre 20 e 25cm de comprimento, os machos pesam cerca de 70g, enquanto as fêmeas pesam um pouco mais, 80g. Ave-símbolo, é caracterizada por plumagem parda, ventre vermelho-ferrugem, anel amarelo em volta dos olhos, pescoço estriado e pés rosa-acinzentado. É dócil e se adapta bem aos ambientes modificados pelo homem como áreas urbanas, parques e quintais.
Mas nem sempre a visão do outro mundo a nosso respeito é positiva. O grande desenhista norte-americano Walt Disney, baseado num papagaio, outra ave da fauna ornitológica brasileira, idealizou o personagem em quadrinhos “Zé Carioca”. Suas historinhas são pontuadas de exemplos da malandragem carioca, como se esse tipo de esperteza fosse modelo exemplar de comportamento, o que acontece também com os brasileiros que gostam de levar vantagem. Já na política, desvio de finalidade é um estereótipo consolidado. Águia é Águia, Sabiá é Sabiá, e o Brasil sabe se lá…
(*) Crisolino Filho é escritor, advogado e bibliotecário | E-mail: crisffiadv@gmail.com | Whatsapp: (33) 98807-1877 | Escreve nesse espaço quinzenalmente
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