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Roteiro Brasil

FOTO: Freepik

Era noite em Tóquio e eu caminhava pelo Golden Gai, uma espécie de conjunto de poucas vielas com micro bares, que formam uma gostosa atmosfera boêmia meio dark. Estava só à procura de um lugar para uma cerveja honesta depois do meu primeiro dia de caminhada pela capital japonesa.

Os estabelecimentos são realmente minúsculos, alguns com lotação de coisa de meia dúzia de clientes, até menos. Adentrei um barzinho com certo movimento e uma cadeira vazia no balcão.

Uma caneca de chope e um alô para os companheiros de taberna – uma turma de quatro homens e duas mulheres norte-americanos. Papo vai, papo vem, descobriram que eu sou brasileiro, país que nenhum deles visitou, acharam curioso e o assunto rendeu. “Quantos dias são necessários para conhecer o Brasil? Uma semana ou duas?”, me questionaram.  Sorri e devolvi: “Quantos dias são necessários para conhecer os Estados Unidos?”.

Que a turma lá do Norte não é muito boa de geografia não é novidade e provavelmente nem fazem ideia da dimensão do Brasil. O fato é que eu fiquei encucado, até meio travado, quando me pediram despretensiosamente para sugerir um roteiro de viagem por aqui.

Desde então, tenho pensado em propor um itinerário mais próximo do ideal para se ter uma visão geral da nossa terra, principalmente com o que eu já vi, algo que pudesse estar publicado na página oficial do Ministério do Turismo em tudo quanto é idioma.

Um roteiro pelo país tem que passar pelo Rio de Janeiro, isso é meio inegociável – até falei aos estadunidenses e acho que encerrei por aí. Samba, Cristo, Maracanã, praias. Confesso nem ser tão fã de lá, pela sensação de que mais cedo ou mais tarde alguém vai querer me passar a perna e me arrancar algum dinheiro (ok, podemos excluir essa parte do portal do Ministério), mas o Rio é a cara do Brasil. É realmente bem bonito!

Nem precisamos incluir São Paulo, a não ser que seja uma viagem de negócios. Ou focada em gastronomia. Ou em cultura. Ou na vida noturna. Pensando melhor, merece sim. Não quero parecer bairrista, mas passar pelo Brasil sem conhecer Minas Gerais é não vivenciar a história do país. Além de perder a chance de experimentar a melhor culinária e ouvir o sotaque mais charmoso – segundo um monte de pesquisas aí.

A primeira semana de viagem, pelo menos, já foi. Caso se interesse por arquitetura, tem que dar um pulo em Brasília. É impossível se arrepender de ver as mil praias de Florianópolis.

Para fechar o quesito litoral com chave de ouro, só escolher qualquer local do Nordeste e ir ser feliz, simples assim. Eu posso indicar Fortaleza, Canoa Quebrada e Jericoacoara. Ou Recife, Olinda e Porto de Galinhas e de quebra conhecer o sotaque que eu mais gosto: o pernambucano. Pôr do sol em João Pessoa é para se guardar na memória para sempre. Maceió e Maragogi são sucessos, não perdem para praia nenhuma do mundo. Chance zero de erro mesmo é ir para a Bahia, o lugar mais alto astral deste país: de Salvador à Chapada Diamantina, prepara o coração e vai.

Já temos quantos dias de roteiro mesmo? Precisamos passar pela Amazônia, claro. Manaus e Presidente Figueiredo são ótimas portas de entrada para a floresta. No Pará come-se bem demais e o Alter do Chão é lindo.

Falando em maravilhas da natureza, não dá para ir embora sem se deslumbrar com as Cataratas do Iguaçu. A minha dica pessoal é que o cenário mais incrível e único do país é o dos Lençóis Maranhenses. Fora o Jalapão, Bonito, a Chapada dos Veadeiros.

Até aqui eu tenho a felicidade de ter pousado os olhos em todos esses cantinhos, falo com propriedade. Para o Pantanal eu ainda vou, mas é tanta certeza de que vale a pena que eu já incluo na lista de indispensáveis. A Chapada das Mesas também.

Uma semana de viagem, duas, três? Alguns meses por conta, e ainda acho que não dá. Uma vida inteira talvez seja pouco para se encantar com tantas paisagens e com tamanha diversidade cultural desta imensidão chamada Brasil.

Em um bar apertadinho no outro lado do planeta, eu pedia outra cerveja e até mudava o rumo da conversa porque sabia que não conseguiria explicar o quão gigante, belo e especial é o nosso país. Por dentro sentia uma sensação gostosa de privilégio por ser de um lugar que por si só já é um mundo.


(*) Mineiro, jornalista e mochileiro.

Já rodou meio mundo e, quando não está vivendo histórias por aí, está contando alguma. Ou imaginando, pelo menos. É um fã da arte de contar histórias: as dele, as dos amigos e as que nem aconteceram, mas poderiam existir.

Acredita no poder que as palavras têm de fazer rir, emocionar e refletir; de arrancar sorrisos, gargalhadas e lágrimas; e de dar vida, outra vez, às melhores memórias. É autor do livro de crônicas “Isso que eu falei” e publica textos no Instagram no @isso.que.eu.falei.

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