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Redemoinhos da vida

Maristela Impellizieri Ribeiro Aubin (*)

Sim, a vida, cíclica, é um leva e traz de redemoinhos. Todo dia acontece tudo de novo, pegando-nos desprevenidos, aqui ou ali. A linda mensagem “o acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraído…” merece ser repensada, diante da dolorosa atualidade com que convivemos. O acaso, o inesperado, quase sempre, deixou de ser o “sem querer”, tornando-se o de propósito, onde não se permite a distração de si, por um momento sequer. O bem que fortuitamente acontece surpreende o que o mal espreita… todos fazem parte no baile macabro dos maus redemoinhos: das crianças de qualquer idade ao idoso mais desamparado.

Ler ou assistir noticiários deixou, há muito, de ser lazer. A enxurrada de vexames, desrespeito, ganância, estratégias para a acumulação de benesses pessoais, lucros indevidos, na chamada sinecura, palavra constante de dicionários, que muitos não conhecem, mas que desde muito tempo faz crescente a infeliz certeza de que é mais fácil levar vantagem em tudo… e isso em qualquer lugar: na rua, na escola, no trabalho, em casa.

Não quero ser descrente nem sem esperança, mas a fragilidade da vida faz a gente meditar. O que vale a pena?! Muito feliz a inspiração de Rodrigues de Bastos quando escreveu: “A providência deu a esperança por companheira à aflição”… e “pode-se tirar aos homens tudo, contanto que se lhes deixe a esperança”.  Empoderar-se dela será mesmo o único bem que restará àqueles que não têm mais nenhum. Mas ela, a Esperança, busca o amparo da Prudência. Da Prudência, que faz prever e evitar as faltas e o perigo, sendo outra das grandes virtudes que devemos preservar, tornando-nos semeadores dessa conquista.

Quanta comoção tem-nos causado a impetuosidade que impede a cautela, a ousadia pelo desconhecido! Quanta frieza constatamos, nas maldades praticadas contra seres humanos, animais… contra a natureza… sim,  ironia, descaso, ingratidão, são sentimentos que esterilizam mentes, talentos, corações, tornando-os insensíveis à piedade… triste resultado para quem não escapa do redemoinho da cólera, do ódio, da vingança, da condescendência para perdoar. Esse redemoinho leva à redenção e traz a consequência, para quem não quis saber ou não quis acreditar que, enquanto os homens julgam os homens pelas palavras, Deus os julga pelo coração… procuremos ser  bom redemoinho, levando graças e trazendo bênçãos!

Neste “Salmo Contemporâneo”, de qual destas equipes fazemos parte?

“Benditos os idealistas, os mensageiros da esperança, os baluartes da justiça, os guerreiros da paz; os guardiães da liberdade, os artífices dos sonhos, os edificadores de ideais, os arautos da verdade; os caçadores de perfeição e os escudeiros da renovação, os irmãos da coragem; os andarilhos da fé, os companheiros do diálogo, os amigos da perseverança; os mestres da paciência, os pregoeiros da sabedoria, os arautos do infinito, os pioneiros dos novos tempos…

Benditos os que acreditam, transformando os momentos em motivo de esperança; os que fazem de todo trabalho um instrumento para melhorar o mundo, a vida e cada um de nós”.

O girar deste bom redemoinho possa nos trazer feliz reflexão sobre a bela definição de Gilbert T. Gauthier: “O acaso é, talvez, o pseudônimo que Deus usa, quando não quer assinar suas obras”.


Maristela Impellizieri Ribeiro Aubin
Patrono: Carlos Drummond de Andrade, Cadeira nº 6
Academia Valadarense de Letras

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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