Caros Leitores, durante essa semana, presenciamos a assinatura da concessão do trecho da BR-381, entre Governador Valadares a Belo Horizonte. O documento foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, marcando um novo capítulo na gestão da infraestrutura rodoviária de Minas Gerais. A decisão reacende debates sobre os impactos da privatização de rodovias e os desafios de equilibrar qualidade do serviço e tarifas justas. Conhecida como “rodovia da morte” devido à alta incidência de acidentes e suas condições precárias, a BR-381 é vital para a economia mineira. Ela conecta importantes polos industriais e comerciais do estado, além de ser rota obrigatória para milhares de trabalhadores e transportadores. A promessa de melhorias na segurança, ampliação da capacidade e manutenção regular da via é, sem dúvida, uma luz no fim do túnel para os que dependem diariamente dessa rodovia.
Porém, há um custo associado a essa transformação. O modelo de concessão implica na cobrança de pedágios para financiar as obras e assegurar a sustentabilidade do serviço. Segundo o governo, o plano prevê investimentos de cerca de R$ 9 bilhões em obras de modernização, duplicação e manutenção ao longo dos próximos anos. Para os usuários, especialmente aqueles com menos recursos, a implementação de tarifas pode representar um peso significativo no orçamento. É crucial refletir sobre o equilíbrio entre a melhoria necessária e os impactos econômicos para a população. Essencial também garantir que os critérios de qualidade sejam cumpridos rigorosamente e que os investimentos sejam realizados com transparência, de forma a gerar confiança na gestão privada.
Outro ponto de preocupação é a inclusão das comunidades locais no planejamento e execução do projeto. A modernização da BR-381 deve levar em conta as necessidades das populações que vivem nas proximidades, assegurando que elas também se beneficiem das melhorias prometidas. É inegável que a privatização pode ser uma solução eficiente para superar as limitações financeiras e estruturais do setor público. A experiência de outras concessões rodoviárias pelo país mostra que, sem fiscalização adequada, o modelo pode resultar em tarifas abusivas e serviços aquém das expectativas.
O trecho da BR-381 simboliza um microcosmo dos desafios enfrentados pelo Brasil em sua infraestrutura rodoviária. De um lado, há a necessidade urgente de modernização e segurança; do outro, o dilema de como equilibrar os custos entre poder público, iniciativa privada e cidadãos. Como afirmou o economista John Maynard Keynes: “A dificuldade não está em desenvolver novas ideias, mas em escapar das antigas”. Que a concessão da BR-381 seja uma oportunidade para inovar, aprender com erros passados e construir um modelo de governança mais eficiente e inclusiva.
(*) Jornalista e escritor | Especialista em Ciência Política
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