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Presidencialismo de Coalizão ou vigarismo institucionalizado?

FOTO: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados

Caros leitores, em nome da governabilidade, naturalizamos o sequestro institucional do Executivo por um Congresso que cobra cada voto como moeda de troca. E lá vamos nós de novo. Um presidente eleito, uma base parlamentar fragmentada e a clássica pergunta de R$ 3 bilhões em emendas. Como governar um país onde quem manda é quem vende o apoio mais caro? O chamado presidencialismo de coalizão, invenção brasileira digna de constar no catálogo de jabuticabas tropicais, já foi visto como uma genial adaptação institucional. Um presidente forte que, em tese, costura apoio entre os partidos para garantir a governabilidade. Mas o que era para ser uma orquestra democrática virou um leilão a céu aberto, onde as bancadas tocam seus próprios instrumentos, desafinados e movidos a interesses privados.

Hoje, o nome do jogo é chantagem institucionalizada. As bancadas temáticas: do boi, da bala, da Bíblia e agora, da barganha. Certos que descobriram que não precisam mais negociar por ideias, projetos ou visões de país. Basta oferecer votos em troca de ministérios, cargos e verbas secretas. É o fisiologismo elevado à condição de virtude nacional. E quando o governo reluta, o Parlamento aperta o cerco: tranca pautas, derruba vetos, impõe derrotas e ainda sai de vítima. Tudo com ares de normalidade democrática. No meio desse tabuleiro, o Executivo é refém e só governa se for assim. Vive com a corda no pescoço e a caneta tremendo, sabendo que uma decisão mal alinhada pode significar o colapso de sua base de apoio. A cada votação, um novo sequestro. A cada medida provisória, um novo resgate. E não pense que isso é exclusividade do governo atual. Já vimos esse roteiro antes, com outros protagonistas. O Congresso se especializou em operar como uma máquina autônoma de poder. O governo entra com a pauta, o Parlamento sai com a fatura. E não tem Pix que resolva.

A ironia? Aqueles que vociferavam contra esse modelo quando estavam fora do poder, agora o abraçam com a devoção de um novo convertido. E os que ontem estavam no trono, hoje gritam “corrupção!” com a cara mais lavada do país. Um espetáculo cíclico, cansativo e previsível. A pergunta que fica é simples, mas cruel: quem está errado, o sistema ou quem se adapta a ele? E mais ainda: é possível governar sem sujar as mãos ou isso é só ficção idealista para discursos de posse e editoriais sonhadores ? Há quem diga que esse modelo é o único possível diante da fragmentação partidária. Afinal, como governar com inúmeras siglas que se multiplicam como gremlins após contato com verba pública? Mas a pergunta não é “como lidar com isso?”, e sim: “até quando vamos aceitar isso como o único caminho?”

No fim das contas, o presidencialismo de coalizão brasileiro parece mais um casamento forçado entre Executivo e Legislativo, onde a fidelidade só dura até a próxima emenda liberada. E quem paga a conta é o contribuinte, esse eterno coadjuvante da nossa tragicomédia institucional. O leitor escolhe. O Brasil já está escolhendo há décadas. E, até aqui, parece que a chantagem está vencendo de lavada.


(*) Thales Aguiar – Jornalista e escritor | Especialista em Ciência Política

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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