Abriu os olhos devagar, era um raro dia em que não tinha hora para acordar, nem para nada. Folga até para o despertador. As janelas fechadas bloqueavam a luz e não permitiam qualquer suposição sobre o horário. O que importava dava para ver perfeitamente. Permitiu-se um sorriso genuíno.
Infinitamente melhor do que a sensação de acordar sem pressa na cama grande, era a de deliciar-se por não estar sozinho. Adorava dar de cara com aqueles cabelos pretos bem à frente. Sentir a sua pessoa preferida no mundo ali, quase como se fossem apenas um. Tocá-la inteira de uma vez; do cafuné com o nariz na cabeça às carícias nas solas dos pés.
Encaixavam-se entre lençóis macios. Seu braço ainda descansava por baixo do outro pescoço, um enlace total. A mão tocava a pele. Um fluxo constante de troca de calor e de energia.
Ouvia o ritmo único da respiração, leve. Aspirou o cheirinho que tanto gostava, aroma de gente que faz bem, de cumplicidade, de desejo. Sorriu de novo, era mesmo um cara sorte.
Mesmo depois de tantos anos dividindo a cama e a vida, ainda se emocionava por ter sempre ao lado uma pessoa tão especial. Acordar ao lado dela e sentir a figura do amor ali tão à vontade entre seus braços estava no pódio entre as sensações mais prazerosas que já experimentara.
Ah, com toda a certeza do mundo as outras duas posições desse ranking também eram com ela.
(*) Mineiro, jornalista e mochileiro. Já rodou meio mundo e, quando não está vivendo histórias por aí, está contando alguma. Ou imaginando, pelo menos. É um fã da arte de contar histórias: as dele, as dos amigos e as que nem aconteceram, mas poderiam existir.
Acredita no poder que as palavras têm de fazer rir, emocionar e refletir; de arrancar sorrisos, gargalhadas e lágrimas; e de dar vida, outra
vez, às melhores memórias. É autor do livro de crônicas “Isso que eu falei” e publica textos no Instagram no @isso.que.eu.falei.
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