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O crepúsculo de um atleta

Luiz Alves Lopes (*)

A modernidade da informação dos dias atuais nos mostra e apresenta as mais variadas situações, registrando realidades tristes, outras não tanto. No mundo do esporte, dentre tantas, o quadro vivido por dois campeões mundiais com a seleção brasileira – MOACIR (1958) e MARCO ANTÔNIO (1970) – provocam reações diversas.

 A serena narrativa do quadro atual de Moacir, hoje com 84 anos de idade e vivendo no Equador há mais de cinco décadas, é comovente. Nada esconde, nada cobra, apenas pede ajuda. Sim, um integrante do escrete brasileiro campeão mundial pela vez primeira em 1958, na Suécia, pede socorro para restabelecer direitos já reconhecidos. Para os da velha guarda – JOEL, MOACIR, HENRIQUE, DIDA E ZAGALO – sintetiza arrasador ataque do Clube de Regatas do Flamengo, nas décadas de 50 e 60.

 Na seleção, nosso Moacir foi reserva (com orgulho, registra) de um tal de Waldir Pereira, também conhecido como DIDI ou Príncipe Etíope. Basta.

Quanto a Marco Antônio, bem mais novo, aparece em vídeo depreciativo, sintetizando um pedinte abandonado à própria sorte.

 Regra geral no Brasil, o boleiro não se cuida, não investe, não planeja e não se prepara para o ostracismo que é a caminhada longe dos campos, dos holofotes, das noitadas e indiferenças. E o que é pior, falta escolaridade e profissionalização, exceções à parte. Raríssimas.

Independentemente do que tenham feito ou deixado de fazer Moacir e Marco Antônio (e tantos outros que se encontram na sarjeta, vegetando), o BRASIL precisa mudar a visão e postura em relação a seus ídolos, não importando se maiores ou menores.

MOACIR jogou mesmo em que clube? Ah! Um tal de Clube de Regatas do Flamengo. O mesmo do episódio do Ninho do Urubu, que caminha para o esquecimento.

Quanto a MARCO ANTÔNIO, não foi aquele que fez história no Fluminense Futebol Clube na época da máquina tricolor sob o comando de Francisco Horta, troca, troca?

Ambos são do tempo da antiga CBD, hoje CBF. Quem é mesmo que está à frente do futebol brasileiro? Quase ninguém sabe o nome do “cara”, rotulado de CABOCLO. Este cidadão pertencia ao mundo dos vivos em 1958? Sabe ele, de cor e salteado, a escalação brasileira de 1958? (Gilmar, Djalma Santos, Beline, Orlando, Nilton Santos, Zito, Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagalo – com Feóla, Paulo Amaral, Mário Américo e Paulo Machado de Carvalho.) E de 1970? (Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza, Everaldo, Clodoaldo, Jairzinho, Gerson, Tostão, Pelé e Rivelino – com Zagalo e companhia.)

Sabe ele e seus asseclas que os grupos de 1958 e 1970 (de 1962, 1994 e 2002, também) fizeram a alegria de um povo sofrido e que tem no futebol, em especial, momentos de felicidades e extravasamento de sentimentos?

Mundo a fora, os grandes clubes preservam seus ídolos. Existem fundações e associações voltadas para assistência e solidariedade. Há, também, preocupação com escolaridade e profissionalização.

No Brasil, pouco se faz. Classe desunida. Clubes e entidades frias e indiferentes. Há exceções em número reduzido. Wilson da Silva PIAZZA é exemplo positivo que salta aos olhos. A AGAP de Minas, a trancos e barrancos, faz o possível e impossível para assistir plenamente ex-atletas de futebol, não importando se famosos ou não.

Há de se registrar que um seleto número de futebolistas brasileiros privilegiados, que fizeram fortuna em um mundo desigual, a maioria atuando “lá fora”, se omite e é indiferente aos registros da história, das mazelas e das intempéries. Também passarão.

No mundo globalizado se constata, no triste momento vivido pela humanidade, iniciativas de personalidades do mundo esportivo voltadas para a constituição de “fundos” que possam amenizar a dor, o sofrimento, e perda de vidas, contribuindo para que outras sejam salvas.

 No Brasil, bem… “sabe como é que é, né? A gente vai ver. Vamos nos reunir e ver o que podemos fazer. Vamos consultar nossos empresários”.

A formação humanista de nossos futebolistas, com raríssimas exceções (Casemiro, Tinga e Marcos, são exemplos positivos) é de dar náuseas. São frios e indiferentes. O que será de suas vidas quando pendurarem as chuteiras? Qual será o crepúsculo de cada um? Alguém já disse que “quem planta vento colhe tempestade”. Será?


(*) Ex-atleta

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal

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