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Muito mais do que mãos estendidas

Luiz Alves Lopes (*)

Violências nos esportes, no futebol em especial, e em seus arredores não são de hoje. Remontam  a um passado já distante, porém ainda vivo na memória de apaixonados da velha guarda e dos estudiosos que se atualizam permanentemente. Principalmente em relação ao esporte REI.

Há o registro de violências na década de 60 no Reino Unido, em especial quando se fala do futebol da terra da rainha. Na memória dos mais velhos a lembrança da barbárie praticada pelos hooligans, torcedores do Liverpool, no massacre contra torcedores italianos da Juventus, na célebre decisão da Liga de Campeões da Europa realizada em Heysel, na Bélgica.

Por lá, verdadeira revolução ocorreu e medidas duríssimas foram adotadas, impostas e cumpridas, culminando com a potencialidade futebolística da liga inglesa dos dias atuais e na qual se busca extrair o máximo de ensinamento e proveito. Não tem sido fácil.

Na terra de Cabral, o futebol que encantava, divertia e fazia a alegria do povo sofreu alterações e intromissões profundas, tornando-se agressivo, repugnante e abjeto, afastando consideravelmente o púbico dos estádios. Com exceções, restaram os vândalos, transvestidos de torcedores de futebol.

Recentemente CÁSSIO, extraordinário ‘goal keeper‘ do Corinthians, bom caráter, educado, amável e atencioso para com todos em geral, foi vítima dos vândalos que assolam e estão se apropriando do futebol, sofrendo inaceitáveis ameaças, extensivas a seus familiares, em decorrência de suas atuações como atleta. Repugnante.

Mais recentemente ainda, WILLIAN, veterano futebolista consagrado no velho mundo, em especial na Inglaterra, onde defendeu  alguns dos clubes mais poderosos daquele país, retornou ao Brasil e, por gratidão, passou a atuar também pelo Corinthians de São Paulo.

Assim como Cássio, também foi vítima de uma série de ameaças originárias de pseudo torcedores que se acham donos de tudo e de todos. Willian está de saída do clube e de volta ao Velho Mundo, onde não lhe faltarão clubes e certamente não lhe faltarão reconhecimento e respeito.

Com os exemplos acima, sendo certo que inúmeros outros poderiam vir à baila, adentramos em nave que nos remete ao passado, recordando acontecimentos marcantes que nortearam nossa passagem pelas lides esportivas – o futebol em especial, principalmente no período vivido no Democrata Pantera da Osvaldo Cruz.

Iscado e pescado no Rio Doce de João Rosa no ano de 1968, no tempo em que a Pantera detinha e mantinha alguns barracos no local em que hoje é o terreno baldio com frente para a Afonso Pena, neles residiam craques famosos que por aqui passaram e escreveram contagiantes páginas na história do clube.

Elcy Rodrigues, Pinduca, Itamar, Juci, Nilo, Cocó, o massagista Almiro, dentre tantos, no local em que residiam, sabiam recepcionar colegas, em especial os mais novos ou calouros. Tinham olhares benignos, amistosos e de incentivos. Estendiam as mãos aos necessitados, aos inseguros e iniciantes. Eram e foram extraordinários.

Ao agrupamento referenciado se somavam pessoas do nipe de um Henrique Frade (treinador), João Natal Filho (preparador físico), do goleiro Tonho, do extraordinário Alemão, do cracaço Marco Antônio (de quem recebemos de presente uma chuteira gaeta) e de uma plêiade de pessoas do bem, que tinham o prazer de praticar o bem e que tinham orgulho de ser do mundo da bola. Deles não esqueceremos jamais.

As mãos estendidas por companheiros mais vividos e experientes nos permitiram desvencilhar de armadilhas e de falsos prazeres oferecidos pelo mundo da bola em determinados momentos e oportunidades. Foram extraordinários.

Vale o registro: no simplório e asseado alojamento de piso avermelhado e bem encerado em que viviam Elcy Rodrigues, Itamar e o massagista Almiro, assistimos todos os jogos do Brasil na Copa do Mundo de 1970, aquela do tri. Durante os jogos, sanduíches do Bar Guaxupé e muita laranjada. Êta felicidade!…

No mundo esportivo, a felicidade e a oportunidade de conviver com muita gente boa, com pessoas do bem, de boa índole, permitiram-nos entender e compreender situações, momentos e oportunidades, fomentando em nós o desejo de também assim proceder um dia. É o que temos tentado.

Estender as mãos ao nosso próximo, ainda que adversário, deve ser obsessão permanente enquanto ocupante passageiro deste mundão de Deus. No mundo dos esportes, oportunidades e situações adversas estão sempre presentes. Saibamos entendê-las, compreendê-las  e recepcioná-las.


 (*) Ex-atleta

N.B.- No último domingo deste agosto – dia 28 – nas dependências do Coopevale Futebol Clube, na parte da manhã, duas interessantes palestras. A primeira será proferida pelo consagrado GERALDÃO e terá como público-alvo a criançada. A segunda, a cargo do ex-atleta e técnico de futebol José Ângelo Ferreira – o PRECA -, será voltada para o boleiros e assemelhados da velha guarda. Imperdível.

As opiniões emitidas nos artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores por não representarem necessariamente a opinião do jornal.

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